Entrevista com Miguel Torres, presidente da Força Sindical, da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos) e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes.
Frentistas – Pelo menos desde 2016 os trabalhadores enfrentam um momento difícil, de arrocho e perda de direitos, agravado pela crise financeira e pela pandemia de covid-19. Qual leitura o senhor faz da atual conjuntura para os trabalhadores?
Miguel Torres – Temos muitas dificuldades. O desemprego, o subemprego, o desalento, os ataques aos direitos sociais, previdenciários e trabalhistas da classe trabalhadora, ao movimento sindical e às negociações coletivas, um custo de vida elevadíssimo, o aumento da pobreza e da fome no Brasil, a pandemia ainda muito grave e letal e um desgoverno federal negacionista totalmente despreparado para enfrentar crises.
No final de maio, o IBGE registrou que o desemprego atingiu o recorde de 14,8 milhões de brasileiros, número que somado aos subocupados, desalentados e aos que não têm disponibilidade para trabalhar alcança 33,2 milhões de pessoas.
Em vários estados do país os sindicatos de frentistas vêm enfrentando dificuldades para assinar convenções coletivas em condições dignas para os trabalhadores. Há ainda muitos relatos de precarização das condições de trabalho nos postos de abastecimento Brasil afora. É uma situação que atinge outras categorias? A Força Sindical acompanha esse problema?
Sim. A Força Sindical luta contra a precarização das condições e relações de trabalho e propõe ações unificadas para fortalecer as reivindicações das categorias. É preciso intensificar o intercâmbio de informações e as mobilizações, com apoio de outras categorias nas assembleias e greves, para pressionar os setores patronais e exigir respeito às reivindicações por melhores salários e condições de trabalho dignas e garantir as conquistas em acordos e convenções coletivas.
Com o fim da contribuição obrigatória dos trabalhadores aos sindicatos, criou-se uma injustiça, na medida em que as conquistas dos sindicatos valem para toda a categoria, mas só a parcela mais consciente dos trabalhadores continua contribuindo. Como enxerga essa situação? É possível que sejamos obrigados a caminhar para outro modelo de representação sindical?
É preciso que o movimento sindical atuante consiga manter sua estrutura de ações sindicais funcionando, por intermédio de algum financiamento sindical, com mais benefícios é claro para os trabalhadores sindicalizados. Defendo a aprovação do projeto do deputado federal Paulinho da Força para equacionar definitivamente esta questão do financiamento sindical e valorizar as entidades sindicais que tenham representatividade, história e atuação reconhecida.
O que já está difícil, pode ficar pior. O governo sinaliza que pretende fazer nova reforma para retirar ainda mais poder dos sindicatos. O que o senhor poderia comentar a esse respeito?
Vamos resistir como sempre fazemos. Lutamos contra a reforma trabalhista de 2017, impedindo que as empresas coloquem em prática seus itens nefastos. Conseguimos, por exemplo, derrubar no STF o item da reforma trabalhista que permitia mulheres grávidas e gestantes trabalhar em locais insalubres. Estamos mobilizados contra a carteira verde e amarela sem direitos. Enfim, tudo o que este governo neoliberal fizer de nefasto para a classe trabalhadora será combatido por nós em manifestações nas empresas e portas de fábrica e nas articulações no Congresso Nacional.
Qual é o recado que o senhor deixa para os frentistas e para os demais trabalhadores brasileiros? Há esperança na luta?
A Luta faz a lei é o meu slogan. Portanto, acredito que há muita esperança na luta. Agradeço os frentistas pela importância desta categoria para a sociedade e para o país, expressando total solidariedade às suas reivindicações e colocando a Força Sindical e nossas entidades filiadas à disposição de vocês para a organização de assembleias, greves e protestos. Precisamos em 2022 eleger governos mais democráticos e sociais e aumentar as bancadas trabalhistas nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional para enfrentarmos os retrocessos neoliberais e avançar a Agenda da Classe Trabalhadora.
É positivo o balanço das recentes manifestações sindicais unificadas?
Sim. Além dos expressivos atos dos movimentos sociais, que recentemente tomaram conta do país, pelo #forabolsonaro e outras reivindicações que apoiamos, tivemos o ato das centrais sindicais em Brasília, no dia 26 de maio, com a entrega no Congresso Nacional da Agenda Legislativa da Classe Trabalhadora, que aponta caminhos que devemos percorrer no Congresso Nacional, a fim de lutar para aprovar o que nos interessa e, ao mesmo tempo, indica caminhos para atuar contra o que não nos interessa.
E agora em 18 de junho tivemos também o histórico e expressivo Dia Nacional de Mobilização nos Locais de Trabalho. Só na na base metalúrgica de São Paulo e Mogi das Cruzes, realizamos mais de 120 assembleias, reunindo mais de 25 mil metalúrgicos, na luta contra o desemprego, pelo auxílio emergencial de R$ 600 mensais para quem precisa até o fim da pandemia, contra a fome e a carestia, por vacina para todos contra a covid e rapidez na vacinação, contra as privatizações e contra a reforma administrativa. A luta não para, a luta faz a lei!