Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Artigo

A força da consciência

No início da industrialização brasileira, mais de 70% da nossa população vivia no campo. Éramos, portanto, um País agrário – hoje menos de 30% vivem nas zonas rurais. Eu fui camponês até os 18 anos, numa luta dura pra garantir o pão de cada dia. Trabalhava na criação de porcos, cabritos e galinhas, levando uma vida sofrida sob o sol ardente ou mesmo debaixo de chuva e frio. No entanto, era feliz, pois só conhecia aquilo que tinha no entorno. Porém, com o crescimento da industrialização e o esvaziamento do campo, fui, como tantos, empurrado para as grandes cidades.

Essa forte expansão urbana marcava mais um avanço do capitalismo, gerando cidades gigantescas e repletas de miséria – até porque a sede de riqueza do capital é insaciável. Portanto, o lavrador saiu da pobreza do campo e foi experimentar a miséria da cidade – antes criava porcos; agora vive como os porcos, em locais insalubres, inseguros e sem condições para o ser humano. Então, eu pergunto: qual a diferença entre a escravidão e a vida do pobre deste País? A meu ver, a diferença é que hoje aumentou a discriminação. Somos todos escravos do capital selvagem, que ataca direto nossa jugular.

Lembro que Jesus foi perseguido desde o ventre materno até ser pregado na cruz, por causa de um Judas. Da mesma forma se faz hoje com os pobres no Brasil. Há um círculo vicioso. A mãe pobre tem seus filhos nas piores condições, enquanto a mãe rica têm filhos nas melhores maternidades, que são mantidas com o que é tirado dos pobres. Depois, o filho do pobre vai estudar nas péssimas escolas públicas; já o filho do rico tem acesso às melhores escolas particulares. O idoso pobre vai pro corredor dos hospitais públicos, sempre superlotados. Já o idoso rico pode se tratar nos melhores hospitais com acompanhamento particular – tudo isso graças à riqueza acumulada, tirada dos pobres.

A diferença entre a perseguição a Jesus e aos pobres são só os Judas. Aqui, são três: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, que, quase sempre, atuam contra os pobres pra dar aos ricos. Embora faça aqui um relato duro, entendo que não podemos perder a esperança. O avanço só depende de você saber que País você quer. Se quer um País com crescimento, políticas sociais e inclusão ou um País que protege os ricos e explora os pobres. A sua consciência e a sua tomada de posição diante do quadro nacional podem mudar um país. Pense nisso.

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região e Secretário nacional de Formação da Força Sindical

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