Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Valor: Fuga do ABC reforça novas correntes sindicais

Matéria de 16/10/2009

Sindicalismo: Em uma inversão de papéis, acordos salariais melhores em outras cidades ajudam base da CUT

João Villaverde

Em ano de produção e comercialização recorde de veículos automotores, a campanha salarial dos metalúrgicos trouxe uma inversão de papéis. Acostumado a ditar as regras, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), fechou acordo com as montadoras que previa aumento real de 2% e abono de R$ 1.500,00. Diante de conquistas maiores de sindicatos em outras regiões de São Paulo, filiados à diferentes centrais, o sindicato do ABC correu atrás e renegociou o abono para R$ 2.800,00.

O primeiro acordo a pressionar os metalúrgicos do ABC foi o conquistado em Campinas, que acertou 10% de reajuste, com aumento real de 5,32%, acordado com duas fábricas, Honda e Toyota. Em seguida, o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos conquistou, por intermédio do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), acordo de 8,3%, com aumento real de 3,7%, mais abono de R$ 1.950,00. Os trabalhadores em Taubaté, onde o sindicato é filiado à CUT, voltaram atrás no acordo inicialmente proposto pelo ABC e iniciaram greve de 24 horas na Volks e na Ford. Um novo acordo foi aprovado em assembleias realizadas já em 1º de outubro, com abono extra de R$ 1.300,00.

“O acordo fechado em Campinas foi determinante para a revisão do abono nas regiões do ABC e Taubaté. Foi uma demonstração muito clara de que os trabalhadores dessas regiões não ficaram satisfeitos com a proposta anterior”, afirma Jair dos Santos, presidente do sindicato dos metalúrgicos de Campinas, onde o acordo com as montadoras foi conquistado sem abono salarial. “Quando você troca o ganho real, que será adicionado ao salário mensal por 13 meses, por um volume de dinheiro que servirá apenas no curto prazo, não está aumentando nada”, critica Santos, lembrando que no próximo ano ele não vai compor a base para o novo reajuste.

O sindicato de Campinas é filiado a Intersindical, uma dissidência da CUT, desde 2007. Em Campinas, como em São José dos Campos (Conlutas), a direção sindical é formada fundamentalmente por ex-membros e líderes da CUT, ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Os sindicatos ligados à CUT fazem muitas concessões às empresas porque apoiam o governo federal. Não querem fazer greves, que podem trazer melhores condições aos trabalhadores, para não criar constrangimentos”, afirma Luis Carlos Prates, secretário-geral do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos. Para ele, a política da CUT abre mais concessões às montadoras. “Eles passaram a ter uma concepção de que é possível resolver juntamente com patrões e governo as demandas trabalhistas. Não foi um problema de acomodação, mas simplesmente uma lógica diferente de prática sindical, mais conciliadora”, diz Jair dos Santos, de Campinas. Para os dirigentes de movimentos dissidentes, como Conlutas e Intersindical, o sindicato do ABC teme que reajustes elevados possam afastar empresas da região.

Sergio Nobre, presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, afirma que é preciso levar em conta as diferenças salariais entre regiões no Estado e no país. “Por conta de sucessivas campanhas salariais com reajustes acima da inflação, que outros sindicatos não conseguiam obter, nós ficamos com uma diferença salarial enorme quando comparada com outras regiões de São Paulo e mesmo outros Estados, como Paraná e Minas Gerais”, afirma. O ABC, segundo Nobre, não pode, a cada campanha salarial, “se distanciar cada vez mais da realidade brasileira e se tornar uma ilha”.

Para ele, é salutar que outras regiões alcancem reajustes maiores para diminuir a margem de custos trabalhistas, e assim reduzir a pressão que salários menores em outras regiões exercem sobre a administração das montadoras. “Nosso papel é avançar nas conquistas, mas ao mesmo tempo não podemos dar um tiro no pé. Queremos uma classe bem remunerada, mas, principalmente, com futuro”.

A partir dos anos 90, as montadoras escolheram regiões fora do eixo tradicional para os novos investimentos. Fábricas foram construídas em Indaiatuba (Toyota), Sumaré (Honda), Curitiba (Volkswagen, Renault), Gravataí (GM) entre outras regiões. Além dessas, a Fiat, instalada em Minas Gerais desde os anos 70, indicava um caminho a ser seguido pelas montadoras: territórios com pouca organização sindical e custos mais baixos. Esse movimento das empresas foi determinante para a mudança de organização sindical e, assim, serviu de origem para as dissidências políticas e partidárias.

“Essa competição para ver quem conseguiu acordo maior é besta. Por que os sindicatos no Brasil, com tantas diferenças regionais e salariais, têm de ter o mesmo reajuste? Não faz o menor sentido”, afirma Nobre. Para ele, o que separa a atuação sindical é a aceitação de práticas modernas, que ampliam os espaços de negociação com montadoras e governos.

Há uma discussão intensa sobre práticas sindicais no Brasil, avalia o professor de sociologia da Unicamp, Ricardo Antunes. Os metalúrgicos do ABC adotam organização baseada nas câmaras setoriais dos anos 90, fundamentados no modelo de negociação tripartite. “Tentam demonstrar que, de alguma forma, são parceiros das empresas, na ânsia de evitar que o ABC se transforme numa Detroit brasileira”, afirma Antunes, lembrando a crise porque passou a cidade americana nos anos 80, quando a competição com fábricas alojadas em outras regiões e países lançou a “capital do automóvel” em recessão.

O outro modelo de sindicalismo, que disputa com a CUT-ABC, é o que busca o confronto com os sindicatos patronais, fundamentado na mobilização de base. “Este sindicalismo, presente em Campinas e São José dos Campos, por exemplo, manteve a organização que o ABC e a CUT tinham nos anos 70 e 80, que sofreu mutações nos últimos anos”, avalia Antunes. Centrais e movimentos criados recentemente, como Conlutas e Intersindical, são dissidências de esquerda da CUT, e o abandono às origens coincidiu com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República, em 2002, que atrelou ainda mais a Central Única dos Trabalhadores ao Estado.

Para Miguel Torres, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, os acordos trabalhistas elevados servem como demonstração de que a indústria automobilística está bem, com produção e vendas em alta. “Em Curitiba, as greves ajudaram a conquistar ótimos reajustes”, diz. Torres afirma ser importante que acordos maiores sejam conquistados no Paraná, “onde os salários são menores”.

Os sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo e Paraná são filiados à Força Sindical, aliada política do governo federal. “Se não fosse a política de aumento do salário mínimo, não teríamos o mercado interno forte, sustentando a economia brasileira, e assim não teríamos esses resultados nas montadoras”, afirma.

No passado, brigas eram maiores, dizem aposentados

JV

Eles nasceram no primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945) e começaram a trabalhar nas montadoras de São Bernardo do Campo (SP) pouco depois da chegada da indústria automobilística no Brasil, no governo Juscelino Kubitschek (1956-1960). Eram metalúrgicos quando veio o golpe militar em 1964, e continuaram na ativa durante o auge do movimento sindical, anos 70 e 80. Aposentados na década de 1990, hoje lutam para melhorar os benefícios do plano de saúde e veem com reservas a atuação sindical do presente.

Em assembleia da Associação dos Metalúrgicos Aposentados (AMA) na quadra Celso Daniel, na última sexta-feira de setembro, cerca de mil metalúrgicos e sindicalistas do passado anotavam as mudanças no novo convênio médico. Mensalidades de R$ 5 são suficiente para as críticas à AMA, que segue as diretrizes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Para os aposentados abordados pelo Valor, há maior “conformismo” no sindicato. Um metalúrgico aposentado em 1998 após 36 anos de trabalho nas fábricas da Willys e da Ford aponta a “mudança de perfil do sindicato”. “Não é mais a mesma coisa que era na década de 1970”, diz. “O sindicato era bem mais forte. Antigamente oferecia cursos e atividades, mas isso foi acabando”, afirma outro aposentado, após 30 anos e nove meses de serviço na Volkswagen. Ambos não quiseram se identificar.

José Fernandes foi membro da segunda diretoria do sindicato do ABC, eleita em junho de 1963. O sindicato, recorda, era muito atuante. “O líder na época era Orisson Saraiva, que também era o secretário-geral do Partido Comunista de São Bernardo. Havia mobilização e a atuação junto às montadoras começava a se fortalecer”, afirma. Depois de eleito, Fernandes foi retirado da Willys, onde ingressara em 1958 para operar o câmbio e testar os motores, no fim da linha de montagem.

Na direção do sindicato, Fernandes participou de um congresso de sindicalistas em Pernambuco, que decidiu enviar alguns dirigentes para expedição na União Soviética. Embarcou em 29 de fevereiro de 1964, chegando na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) quatro dias depois. Estava na URSS quando ocorreu o golpe militar no Brasil, e seu mandato foi cassado. A viagem que duraria 90 dias se estendeu por quase dois anos, quando, clandestino, retornou ao país para trabalhar no comércio, em Marília (SP).

Foi apenas com a anistia, em 1979, que Fernandes retornou a São Bernardo e às montadoras. Estava na Willys durante as greves que marcaram o período, surgimento de Lula como líder sindical do ABC. De lá para cá, a relação entre o sindicato dos trabalhadores e os sindicatos patronais se alterou. “Agora é muito mais fácil atuar dentro do sindicato do que na minha época. Hoje tem comissão dentro das fábricas, negociação continuada”, avalia. “O sindicato está mais ´na boa´. O ABC se acalmou um pouco com o tempo”.

Para Sérgio Nobre, presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, comparar épocas é equivocado para avaliar a atuação sindical. “Nos anos 70, não havia espaço para resolução de conflitos e demandas dos trabalhadores. Não havia negociação. Nem o próprio Lula negociava, quem agia era o departamento jurídico, e mesmo assim era uma luta para conseguir ser recebido pelas fábricas”, afirma.

Os três filhos de José Fernandes, que é vice-presidente da AMA, são metalúrgicos. Mas, diferentemente do pai aposentado, nenhum deles atua junto a sindicatos.

Fonte: Valor Econômico

Novas forças sindicais põem montadoras e ABC em xeque

Marli Olmos

Quando descentralizou o parque produtivo, entre meados dos anos 90 e início desta década, a indústria automobilística parecia ter conseguido escapar, em parte, do mais organizado movimento sindical do país. A última campanha salarial, contudo, registrou um novo capítulo na história dos metalúrgicos. Foram os trabalhadores de regiões distantes do combativo ABC que paralisaram fábricas e conseguiram reajustes salariais maiores que os colegas da base historicamente mais mobilizada.

Entre as justificativas para o fenômeno, destacam-se ao menos três. Primeiro, uma década foi tempo suficiente para muitos operários perceberem que produzem carros tão bem quanto os que saem da região dos trabalhadores mai bem remunerados. Outro ponto: com o aquecimento das vendas de veículos no país, a indústria cedeu mais nos acordos trabalhistas. Por fim, a proximidade da direção dos metalúrgicos do ABC com o governo Lula fez surgir novas organizações sindicais de oposição. O tempo dirá se dessas instituições surgirão novas lideranças políticas.

A mobilização dos operários do Paraná, segundo polo de produção de veículos no país, surpreendeu a indústria. Com data-base em setembro, a mesma do ABC e do interior paulista, os metalúrgicos paranaenses pararam a produção na Volkswagen e Renault, atrapalhando os planos das duas empresas de vender mais, aproveitando o aquecimento do mercado na véspera de aumento do IPI.

Houve greves também – embora com duração bem menor que as do Paraná – em Taubaté (Ford e Volkswagen) e São José dos Campos (General Motors), no Vale do Paraíba, São Paulo, onde as montadoras estão há mais tempo. Mas o melhor acordo saiu em outra local do interior. Com um dia de mobilização, empregados da Honda, em Sumaré, e da Toyota, em Indaiatuba, conquistaram o mais alto índice de reajuste de salários dessa campanha – 10% de reajuste, com aumento real de 5,32%.

Os trabalhadores da Honda e da Toyota são representados pelo sindicato de Campinas, dirigido por uma nova corrente, a Intersindical, dissidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). O sindicato de São José dos Campos é filiado ao Conlutas, outra dissidência da CUT. Já o comando de Taubaté é alinhado à CUT. No Paraná, a representação da categoria é da Força Sindical. Uma onda de mobilização como a da última campanha nunca mexeu da mesma forma com a Fiat, instalada em Minas Gerais há mais de 30 anos.

Na Volkswagen, maior produtora de automóveis do país, as principais fábricas têm data-base em setembro – ABC, Taubaté e Paraná. O presidente da Volkswagen, Thomas Schmall, diz que é mais fácil negociar hoje com a direção do ABC do que com a do Paraná. “No Paraná eles são muito jovens”, afirma. O vice-presidente de Recursos Humanos da Volks, Josef-Fidelis Senn, concorda com Schmall e diz que houve um amadurecimento nas relações trabalhistas com a direção dos metalúrgicos do ABC.

No caso do Paraná, uma fonte da indústria conclui que o investimento do setor no Estado acabou aumentando o poder da Força Sindical. A central não tinha uma montadora sob seu comando desde que a Ford transferiu a fábrica de caminhões de São Paulo para o ABC, há quase uma década. “A industria automobilística é carro-chefe nesse cenário e o sindicato do ABC sempre viu isso, por isso tinha uma postura aguerrida”, diz.

A experiência mostra que o ganho inicial com a fuga das áreas onde a atuação sindical é mais intensa se esvai rapidamente, segundo Glauco Arbix, professor de sociologia e coordenador do Observatório da Inovação do Instituto de Estudos Avançados da USP. Arbix, que acompanhou o movimento metalúrgico principalmente na década de 90, com a constituição das câmaras setoriais, destaca que fábricas recém-construídas vivem uma espécie de “estado de graça” num primeiro momento. Mas o cenário muda à medida que os trabalhadores começam a se conhecer. “Cria-se uma sociabilidade, que favorece a reivindicação”, completa.

Para ele, no começo o operário acha que vale a pena receber menos e morar em regiões com custo de vida mais baixo e qualidade de vida melhor. Mas, com o tempo ele percebe o nível de qualidade do seu trabalho e começa a buscar a elevação do seu padrão salarial. Nota que é capaz de produzir até carros ainda mais modernos, em fábricas que foram erguidas com conceitos atuais. “A tese de que o trabalhador aceita trocar um salário melhor numa região com problemas como enchentes, poluição e trânsito, como o ABC, por um ordenado mais baixo nas cidades que oferecem qualidade de vida melhor funciona só no começo.”

Arbix discorda da ideia de que o comando dos metalúrgicos do ABC se enfraqueceu. A diferença, diz, é que esse sindicato passou a adotar práticas diferentes. Deixou, por exemplo, de partir imediatamente para o confronto, preferindo negociar. “Na crise esse comportamento da CUT teve papel importante para que a indústria conseguisse o incentivo da redução do IPI, o que acabou trazendo benefícios também para o trabalhador, com o aumento da atividade”, destaca. “Eu acho essa postura mais inteligente”, diz Arbix.

Para o especialista em gestão de pessoas Fernando Tadeu Perez, embora não tenham perdido força de pressão, os sindicalistas do ABC “estão mais cautelosos, pois hoje existe a possibilidade de as montadoras transferirem linhas de produção para novas fábricas”. “No passado as montadoras negociavam com a espada na cabeça”, diz Perez, que participou de muitas dessas negociações até 2001, quando era vice-presidente de recursos humanos da Volkswagen.

Fonte: Valor Econômico

Em Gravataí, cresce disputa entre centrais

Sérgio Bueno

Os aumentos reais conquistados pelos metalúrgicos de montadoras, depois das greves em São Paulo e no Paraná, estão servindo de munição para a Central Única dos Trabalhadores (CUT) buscar adesões para a oposição à diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (Simgra), comandado pela Força Sindical. A estratégia é sustentar que a negociação fechada em maio com a unidade local da GM, com 1% de aumento acima da inflação e abono de R$ 1,3 mil, foi pífia em comparação com acordos mais recentes em outros Estados.

O plano da CUT é montar uma chapa com força suficiente para vencer a próxima eleição do sindicato, dirigido pela Força desde a fundação, em 1997. O mandato é de quatro anos, mas as duas partes divergem até quanto à data da disputa. Para a CUT, será em novembro de 2010, mas a atual direção sustenta que o calendário prevê o confronto somente em 2011.

A briga pela representação dos 14 mil metalúrgicos de Gravataí começou há 12 anos, quando a GM anunciou a implantação da fábrica local. Até então a cidade fazia parte da base do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, dirigido pela CUT, mas um grupo ligado à Força decidiu criar a nova entidade e o conflito se estabeleceu.

A CUT contestou a criação do novo sindicato na Justiça do Trabalho, mas a Força levou a melhor e no mês passado retirou a carta sindical definitiva na DRT. Valcir Ascari, presidente do Simgra, classifica o acordo fechado em maio em Gravataí (onde a data-base é abril) como “um dos melhores do país” na época. Segundo ele, agora não há como alterar o acordo e a nova conjuntura da economia será explorada nas negociações do ano que vem.

Para Pierre de Pinho, provável candidato da oposição à presidência do Simgra, a insatisfação com a direção do sindicato é “generalizada”. Segundo ele, o teto salarial da GM no Estado é de R$ 8 por hora, contra R$ 18 em São Paulo, embora a produtividade em Gravataí seja a maior da montadora no país.

Depois de passar pelo comando da mesma área no banco Itaú, hoje, como consultor associado da Agreggo, ele diz que reações como os últimos movimentos dos trabalhadores no interior de São Paulo e Paraná eram esperadas pelas montadoras. “Ao escolher outros locais para investir, a indústria tentou mostrar aos sindicalistas e trabalhadores que a realidade das negociações precisaria mudar. Mas todos sabiam que era uma questão de tempo para que o processo voltasse à tona, mesmo em outras regiões do país”, afirma.

É importante não perder de vista que a migração dos investimentos também foi estimulada por benefícios tributários, que provocaram uma verdadeira guerra fiscal entre Estados e municípios. Mas, ao mesmo tempo, Perez lembra que a CUT também continua “intimamente ligada ao PT e, consequentemente ao governo, o que faz com seja mais cautelosa”.

Em relação ao acordo na base dos empregados da Honda e Toyota, Perez diz que se essas empresas podem pagar mais, provavelmente é porque têm custos de produção mais baratos. “Isso é consequência direta de processos produtivos mais enxutos e de conceitos diferenciados, trazidos de suas matrizes e culturas orientais.”

Para o professor Glauco Arbix, toda essa movimentação na esfera trabalhista pode se refletir nas próximas campanhas eleitorais. Ele prevê não apenas a renovação de lideranças no campo da CUT e do PT como também a abertura de portas para novas lideranças.

De qualquer maneira, para Arbix, o mais interessante desse cenário é acompanhar, por meio dos metalúrgicos, a maneira como o Brasil sai da crise. “Havia temor de desemprego, que é o maior inimigo do movimento sindical”, diz. “Mas, ao contrário, os metalúrgicos, que continuam sendo referência no país, não apenas conquistaram aumentos reais como conseguiram até fazer greves, o que serve no mínimo para demonstrar a robustez da economia.”