Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Notícias

Crise já é passado para 10 setores da economia de SP


Região metropolitana já soma 25 mil postos de trabalho a mais do que os existentes antes da turbulência econômica atingir o País. Comércio e serviços tiveram os melhores resultados, compensando as demissões ocorridas na indústria

 

CAROLINA DALL´OLIO, carolina.dallolio@grupoestado.com.br

 

Para trabalhadores de dez setores da economia paulista, a crise já ficou para trás. Nesses ramos, as demissões ocasionadas pela retração que o mercado global sofreu a partir de setembro de 2008 já foram superadas pela abertura de vagas (veja quadro), fazendo com que a região metropolitana de São Paulo contabilize hoje 25 mil postos de trabalho a mais que os registrados antes da crise. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

 

Entretanto, como a retomada do emprego se deu de forma concentrada, nos outros 15 setores da economia paulista, o saldo entre as vagas encerradas e as abertas ainda continua negativo. Pior: na maioria dos casos, não há previsão de que os empregos perdidos na crise sejam repostos tão cedo (veja no texto ao lado).

 

O paradoxo da recuperação do mercado de trabalho de São Paulo se explica pelo contraste entre o mau desempenho da indústria – que foi duramente afetada pela crise e ainda sofre para recobrar o fôlego – e os bons resultados do comércio e do setor de serviços (que contaram com a ajuda do mercado interno para atravessar a turbulência e, em alguns casos, até voltar a ter crescimento).

 

O setor de serviços – que, pela classificação do Caged, engloba seis ramos de atividade – abriu mais de 68 mil vagas de setembro de 2008 a junho de 2009. “Como fomos o último setor a sentir os impactos da crise e o primeiro a se recuperar, as empresas do ramo repuseram rapidamente as vagas que haviam sido fechadas e empregaram também trabalhadores da indústria, que não encontraram vagas na sua área de atuação”, analisa Paulo Lofreta, presidente da Central Brasileira de Serviços (Cebrasse). Corretoras, imobiliárias, hotéis, bares e restaurantes foram os que mais contrataram. “Especialmente em São Paulo, que é uma cidade forte em serviços, o setor ajudou muito a conter o desemprego na região.”

 

O comércio também deu uma contribuição significativa: criou quase 18 mil postos de trabalho em plena crise. “Como as famílias continuam consumindo, as vendas têm aumentado. E como as empresas do ramo são intensivas em mão de obra, quando há crescimento elas necessariamente precisam contratar mais funcionários”, afirma Fábio Pina, economista da Federação do Comércio (Fecomercio). Segundo ele, os trabalhadores da indústria também podem ser facilmente incorporados pelo comércio. “Além do pessoal administrativo, que tem condições de trabalhar em qualquer tipo de empresa, é preciso lembrar que a indústria também tem área de vendas”, ressalta Pina.

 

Embora isso tenha ajudado a mitigar parte das demissões da indústria, o fato de as vagas surgidas em meio à crise terem sido criadas majoritariamente pelo comércio e pelo setor de serviços traz algumas consequências negativas para o mercado de trabalho. “Os salários pagos pelas empresas desses dois setores costumam ser mais baixos que os da indústria, porque em geral o perfil das vagas exige menos qualificação”, argumenta Sérgio Amad, professor de Relações do Trabalho e Emprego da FGV-SP. “Ou seja, o emprego que está sendo criado agora é de baixa qualidade. “

 

Paulo Lofreta, do Cebrasse, confirma a tese. “O setor de serviços emprega a grande massa. Na maioria dos casos, são vagas para pessoas de baixa escolaridade e com salários compatíveis a esse perfil”, diz. “Assim, quem veio da indústria para o setor de serviços provavelmente fez isso porque não encontrou emprego na sua área e precisou se recolocar, aceitando ganhar menos.”

 

Mas pior que topar uma remuneração menor é não ter opção para mudar de ramo e se recolocar. Essa é a situação enfrentada hoje pelos profissionais de formação técnica que foram demitidos pela indústria.”Quem exercia uma atividade mais específica, como os metalúrgicos, encontra dificuldades de se inserir no mercado”, reconhece Pina, da Fecomercio.

 

Hoje, as boas notícias para quem trabalhava na indústria e tem uma formação técnica vêm da construção civil. Essa cadeia produtiva, por sua diversidade, tem potencial para abrigar profissionais de várias áreas e diferentes perfis. Com estímulos do governo – como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos materiais de construção e a criação do programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida” -, o setor retomou rapidamente o crescimento e já abriu 9.298 vagas na região metropolitana de São Paulo desde setembro.

 

De acordo com o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), a disputa por engenheiros – que atormentava as empresas quando o mercado estava em plena ascensão – já voltou a acontecer.

 

Antonio de Sousa Ramalho, presidente do sindicato dos trabalhadores do setor (Sintracon-SP), prevê que em breve o setor vai sofrer com a falta geral de mão de obra qualificada. “Projetamos criar 30 mil vagas no Estado de São Paulo até o fim do ano, mas para isso precisamos de profissionais capacitados”, diz.

 

O QUE FAZER

 

Para quem, durante a crise, perdeu o emprego no comércio ou no setor de serviços, fica mais fácil voltar ao mercado, uma vez que as empresas do ramo dão sinais ter superado as dificuldades e continuam em expansão

 

Já quem foi demitido pela indústria deve ter que batalhar mais para voltar ao mercado, uma vez que muitos trabalhadores do setor foram dispensados e as empresas ainda não se recuperaram


Para quem tem pouca experiência ou baixa escolaridade, uma opção é mudar de área. Hotéis, restaurantes, bares e lojas têm aberto muitas vagas

 

Profissionais mais qualificados, desde que não tenham uma formação muito específica, também encontram menos dificuldade para pleitear emprego em outro setor – especialmente se exerciam cargos administrativos

 

Já os profissionais técnicos vão precisar de paciência. Como a mudança de área é mais difícil, o jeito é manter contato com os colegas que continuam empregados, aproveitar o período para fazer cursos de atualização, e esperar que o setor volte a crescer e contratar

 

Mas nunca é demais pesquisar outras áreas. Seu conhecimento pode ser aplicado em setores que você sequer havia cogitado