Em abril, mercado de trabalho na indústria recuou pelo sétimo mês consecutivo, segundo o IBGE
Jacqueline Farid
A indústria teve em abril o pior cenário para o mercado de trabalho em oito anos. O emprego no setor caiu 0,7% ante março, a sétima taxa negativa consecutiva na comparação com o mês anterior. Em relação a abril do ano passado, houve recuo de 5,6% no número de ocupados, o pior resultado desde o início da série histórica da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2001. Houve quedas também no rendimento e no número de horas pagas.
O economista da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo, avalia que a recuperação lenta e gradual da produção e da confiança dos empresários ainda é insuficiente para uma reação mais forte no emprego do setor. “O que se observa historicamente é que é preciso um aumento muito consistente na produção e na confiança dos empresários para uma reação mais forte no emprego”, afirmou.
Em sete meses, de outubro a abril, o emprego industrial recuou 6,6%. No primeiro quadrimestre deste ano, acumula queda de 4,4% em relação a igual período do ano passado, e em 12 meses já apresenta redução de 0,4%.
De acordo com Macedo, os setores que vêm puxando a recuperação industrial na margem (ante mês anterior), como a indústria automobilística, fizeram ajustes muito fortes no emprego e não estão entre os maiores empregadores da indústria.
Na comparação com abril do ano passado, os principais impactos de queda no emprego vieram de vestuário (9,7%) e meios de transporte (9,4%), que inclui a indústria automobilística.
A derrocada do emprego industrial alcançou todas as 14 regiões pesquisadas pelo IBGE em abril, comparativamente a igual período do ano passado. Os destaques regionais de queda ficaram com São Paulo (4,2%) e Minas Gerais (7,2%). Na indústria paulista, que representa cerca de 40% da ocupação fabril no País, os principais recuos foram apurados nos segmentos de meios de transporte (11,3%) e produtos de metal (12,7%).
RECUPERAÇÃO
Apesar dos resultados ruins de abril, analistas esperam uma recuperação do mercado de trabalho da indústria nos próximos meses. Para Ariadne Vitoriano, analista da Tendências Consultoria, a queda do emprego industrial reflete o ritmo fraco da produção.
Segundo ela, a recuperação da produção do setor nos próximos meses deve aliviar o cenário difícil do mercado de trabalho. “A leve recuperação da produção, aliada à melhora da confiança do empresário industrial e às medidas de incentivo à produção, deve contribuir para a interrupção da queda do emprego neste setor”, avalia Ariadne.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em relatório sobre a pesquisa do IBGE, observa que, “apesar desses resultados adversos”, é possível antever na pesquisa “pontos que abrem espaço para uma perspectiva menos negativa para o emprego industrial, possivelmente no segundo semestre deste ano”.
O argumento dos técnicos do Iedi é que o recuo de 0,7% no emprego na comparação com o mês anterior é o menor apurado desde o início da trajetória de queda, em outubro do ano passado – em dezembro, o recuo chegou a 1,9%. Outro exemplo é a redução no ritmo de queda das horas pagas, que apresentou diminuição de 0,4% em abril ante março, após uma variação negativa de 1,1% em março ante fevereiro.
“Como o número de horas pagas precede o emprego, pode-se esperar que a mão de obra empregada na indústria apresente resultados menos desfavoráveis já em maio e junho”, diz o documento do Iedi.
FOLHA DE PAGAMENTO
No que diz respeito à queda observada na folha de pagamento real da indústria, de 0,2% ante março e de 1,8% ante abril de 2008, Macedo disse que o poder de barganha dos trabalhadores do setor foi prejudicado pelo recuo na produção.
Além disso, ele lembra que o setor industrial não tem os rendimentos vinculados diretamente ao salário mínimo, o que também impediu um aumento maior na renda do setor. Macedo observou ainda que a queda no emprego acaba rebatendo nos dados da folha, que equivalem à massa salarial.