Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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A síndrome dos salários em queda


 

Paul Krugman, The New York Times*

 

Os salários estão caindo nos Estados Unidos.

 

Alguns desses cortes, como a devolução dos seus aumentos pelos trabalhadores da Chrysler, são o preço da ajuda federal. Outros, como o acordo provisório para uma redução salarial no The New York Times, são resultado de acertos entre patrões e empregados sindicalizados.

 

Não importa os motivos, o fato é que essa queda é sintoma de uma economia enferma. E é um sintoma que pode tornar a economia ainda mais enferma.

 

Comecemos pelo princípio: Os casos de reduções de salário estão proliferando, mas o quão amplo é o fenômeno? A resposta é: muito.

 

É verdade que muitos trabalhadores ainda conseguiram aumento. Mas os casos de cortes de salários hoje já são muitos.Como o mercado deve piorar ainda mais, não surpreende que os salários comecem a cair ainda mais no final deste ano.

 

Mas por que isso é ruim? Afinal, muitos trabalhadores aceitam ter o salário reduzido e salvar seu emprego. O que há de errado nisso? A resposta está num desses paradoxos que vêm atormentando a nossa economia no momento. O paradoxo da poupança: economizar é uma virtude, mas, quando todos procuram economizar ao mesmo tempo, o resultado é uma economia em depressão.

 

E estamos sofrendo com um outro paradoxo: quitar dívidas e limpar balancetes é bom, mas quando todo mundo tenta se desfazer de ativos e resgatar dívida ao mesmo tempo, o resultado é uma crise financeira.

 

E logo mais vamos conviver com o paradoxo dos salários: os assalariados de uma determinada empresa podem ajudar a salvar seus empregos, aceitando um salário menor, mas se os empregadores, por toda a economia, começarem a reduzir os salários ao mesmo tempo, isso vai provocar mais desemprego.

 

Como isso funciona? Suponha que os trabalhadores da empresa XYZ aceitem uma redução de salário. Isso vai permitir à direção da empresa XYZ reduzir seus preços, o que vai tornar seus produtos mais competitivos. As vendas aumentam e mais empregos são mantidos.Dessa maneira, você pode pensar que as reduções de salário aumentam o nível de emprego – o que de fato ocorre, mas no caso do empregador individual.

 

Agora, se todo mundo resolver cortar os salários, ninguém vai conseguir alguma vantagem competitiva. Portanto, a economia não vai se beneficiar com salários mais baixos. Por outro lado, essa queda pode ajudar a aumentar os problemas econômicos em outras frentes.

 

A queda nos salários, resultando numa redução da renda familiar, torna pior o problema do excesso de endividamento: com o salário que você recebe não conseguirá pagar a mensalidade da sua hipoteca. Os EUA entraram nesta crise quando a dívida familiar, em termos de porcentagem de renda, alcançou seu patamar mais alto desde a década de 30. As famílias estão tentando reduzir essa dívida, poupando como jamais visto em uma década. Mas, com a redução dos salários, a meta fica difusa. E como os encargos da dívida pressionam os gastos de consumo, a economia continua em depressão.

 

As coisas ainda pioram se empresas e consumidores esperam mais cortes no futuro. John Maynard Keynes já deixou isso claro há mais de 70 anos: “O efeito de uma expectativa de uma queda nos salários de, vamos dizer, 2%, no próximo ano equivale ao efeito de um aumento de 2% nos juros devidos no mesmo período”.

 

E um aumento de juros é a última coisa que a economia precisa agora.

 

A preocupação com a queda dos salários não é apenas teórica. O Japão – onde os salários caíram em média mais de 1% ao ano entre 1997 e 2003 – é um exemplo de como a deflação dos salários pode contribuir para a estagnação econômica.

 

Portanto, o que devemos concluir das evidências cada vez mais fortes de uma queda dos salários nos EUA? A primeira conclusão é que estabilizar a economia não basta. É preciso uma verdadeira recuperação.

 

Vem se falando muito que já estão aparecendo os primeiros sinais de recuperação e que há indicações de que a crise econômica está se estabilizando. O Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA (NBER, na sigla em inglês ) poderá até declarar um fim da recessão no final deste ano.

 

Mas a taxa de desemprego quase certamente continuará subindo. Uma receita para continuar com os cortes de salários, o que, por seu lado, vai manter a economia debilitada.

 

Para rompero círculo, precisamos mais: mais estímulo, mas ação decisiva sobre os bancos, mais criação de emprego.

 

Crédito onde o crédito for necessário: o presidente Barack Obama e seus assessores econômicos parecem ter tirado a economia do abismo. Mas o risco de os EUA se converterem num Japão – enfrentando anos de deflação e estagnação, parece estar aumentando.

 

* O autor é Nobel de Economia