Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Indústrias suspendem acordos de redução de jornada e de salários



Melhora na demanda da indústria automobilística provoca reação em cadeia e faz empresas retomarem produção

Márcia De Chiara

Vinte dos trinta acordos fechados no início deste ano entre indústrias e sindicatos de trabalhadores ligados à Força Sindical para a redução da jornada de trabalho e de salário, a fim de evitar demissões, já foram suspensos. A informação é do próprio presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.

A resposta positiva nas vendas de automóveis ao corte no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do produto provocou uma reação em cadeia e melhorou o ritmo de atividade nas fábricas que fornecem peças. Com isso, os trabalhadores retomaram a produção.

O quadro é semelhante no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Segundo o presidente do sindicato, Sérgio Nobre, dos 44 acordos de redução de jornada e de salários, oito foram cancelados no início deste mês.

“Setores ligados ao mercado interno estão tendo recuperação bastante forte. O problema continua nas empresas exportadoras”, diz Nobre. Num primeiro momento, observa o presidente da CUT, Artur Henrique, a cadeia automobilística foi a mais afetada. “O que se vê agora é uma recuperação nas metalúrgicas ligadas às montadoras e à construção civil”, diz o sindicalista.

REAÇÃO

A Valeo, fabricante de faróis e lanternas para a indústria automobilística, por exemplo, interrompeu na semana passada o acordo de redução de jornada de trabalho e de 15% nos salários iniciado em fevereiro e previsto para durar até o dia 30 deste mês. A empresa decidiu cancelar a jornada reduzida porque tanto a demanda das montadoras em março como a programação de pedidos para este mês aumentaram.

“Dezembro foi trágico. Agora já houve uma reação, e temos um novo patamar de produção”, afirma Carlos Luiz Gazola, diretor administrativo e financeiro da Proxyon, que produz peças e conjuntos de aço e alumínio para a indústria automobilística.

Com a queda de 60% no faturamento em dezembro, a empresa decidiu reduzir em um dia por semana a jornada de trabalho dos 220 funcionários, que aceitaram cortar 14% nos salários. Com a melhora nos pedidos, a companhia suspendeu o acordo antes do fim do prazo previsto, que era 28 de março.

“O faturamento não voltou ao nível normal e está 30% abaixo do ano passado”, diz o diretor. De toda forma, pelo volume de pedidos já sinalizado pela indústria até agosto, a empresa optou por retomar a produção.

Já a Saint-Globain Sekurit, que produz vidros para veículos, adotou estratégia diferente. Em dezembro, quando a demanda pelo produto foi reduzida para um terço, a empresa demitiu 180 temporários. “Agora, acabamos de contratar 24 trabalhadores” diz o diretor geral, Manuel Corrêa. Segundo ele, a freada nas vendas no fim de 2008 foi brusca. Agora, a retomada é forte.

Três mil em fila por 120 vagas temporárias

Mais de três mil pessoas formaram fila de quase dois quilômetros junto ao prédio da Prefeitura de Mauá, na hora do almoço ontem, para se inscrever em um concurso público destinado a preencher 120 postos de trabalho temporários. As vagas eram para agentes administrativos, merendeiras e auxiliares de apoio operacional. Os interessados começaram a chegar às 8h30. Inicialmente, a informação era de que havia 690 vagas disponíveis. Muitos reclamaram da organização do concurso.

Quem acha emprego não acha carteira de trabalho

Mariângela Gallucci

Yan Fernando Barreto das Neves, de 14 anos, e o cozinheiro Ronei Cardoso dos Santos passaram ontem, por motivos diferentes, por uma situação inusitada. Num País onde falta emprego, Yan, acompanhado da mãe, Sarita Silva da Cunha, tentou se inscrever no Programa Menor Aprendiz, mas descobriu que faltam carteiras de trabalho nos postos de atendimento. O cozinheiro queria uma nova carteira para regularizar o nome na identificação, mas também voltou para casa de mãos vazias porque ouviu o mesmo argumento: faltam carteiras.

Em Brasília e muitas outras regiões metropolitanas do País estão faltando carteiras de trabalho nos postos de distribuição. Desde o início deste mês, os trabalhadores que vão ao posto da Rodoviária de Brasília ou à Galeria do Trabalhador, a menos de um quilômetro do Ministério do Trabalho, saem de lá sem explicação para a falta do documento.

O agente administrativo José Luiz Castro disse que o problema vem se arrastando há mais de um mês. “Na agência do trabalhador são emitidas de cinco a seis mil carteiras por mês. Estamos sem nada. As pessoas saem desesperadas porque precisam da carteira para assumir o emprego que conseguiram. Algumas saem daqui chorando, mas não podemos fazer nada.”

A explicação é que houve troca de gráficas no fim de 2008. Em novembro, foi iniciado o processo de licitação para confecção de novas carteiras, de emissão manual. Como a burocracia atrasou tudo e concluiu o processo só em março, o Ministério do Trabalho resolveu usar a própria gráfica. O problema é que ela só consegue confeccionar 40 mil carteiras por mês.