Estudo da FGV, que analisou dados de 2002 a 2008 em seis regiões metropolitanas, aponta maior evasão na Grande São Paulo
Adolescentes entre 15 e 17 anos apontam a falta de interesse nos estudos, e não a busca por trabalho, como principal causa da evasão
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Praticamente um em cada cinco jovens entre 15 e 17 anos matriculados no início do ano abandona a escola na Grande São Paulo, de acordo com um estudo divulgado ontem pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas.
É a maior taxa de abandono entre as seis regiões metropolitanas comparadas no período de 2002 a 2008 no estudo Motivos da Evasão Escolar.
Os dados mostraram mais uma vez que o principal motivo declarado por jovens ou responsáveis de todo o país -não só das seis regiões metropolitanas- para justificar o fato de não estarem estudando é a falta de interesse na escola, e não a necessidade de trabalhar.
Especificamente no caso da região metropolitana de São Paulo, a média de abandono da escola entre 2002 e 2008 foi de 19,4%. Analisando ano a ano, a taxa chegou em 2008 a 18,7% dos jovens de 15 a 17 anos. Em 2007, ela era maior (21,7%), mas, em 2003, era de 15,8%.
De acordo com o economista Marcelo Neri, coordenador do levantamento da FGV, um dos fatores a diferenciar o maior abandono da escola por jovens da Grande São Paulo é a atratividade do mercado de trabalho na região em comparação com às demais estudadas.
A necessidade de trabalhar, porém, não é a principal causa da evasão escolar em todo o Brasil. Usando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, o estudo mostra que, em 2006, 40% dos jovens fora da escola citaram a falta de interesse como principal motivo de não estudarem.
Desinteressante
Essa constatação não é nova -estudo do MEC divulgado em 2007 chegou a mesma conclusão-, mas, no momento em que se discute a ampliação da obrigatoriedade de ensino para a faixa de 4 a 17 anos (hoje é de 6 a 14), ela é relevante por mostrar que as políticas públicas para atrair o jovem não podem se limitar à concessão de bolsas ou a construção de escolas.
“Não basta só ampliar a oferta. É preciso criar uma escola mais interessante”, afirma Luís Norberto Paschoal, diretor de relações institucionais do movimento Todos pela Educação.
Wanda Engel, superintendente do Instituto Unibanco e ex-secretária de Assistência Social do governo FHC, a partir desses dados é preciso investigar se o problema está na escola ou no próprio jovem.
“Mesmo que a escola ao lado seja uma maravilha, o jovem pode não ter interesse em estudar por não enxergar, especialmente no caso das famílias mais pobres, os retornos a médio e longo prazo”, diz Wanda.
Ela também sugere, no entanto, modificações na escola. Uma delas é ampliar a oferta de colégios profissionalizantes a fim de preparar melhor para o mercado de trabalho uma parcela da população que não entrará no ensino superior.
Neste sentido, Wanda defende que a lei do aprendiz -que regulamenta a possibilidade de estudo conciliado com trabalho- é uma ferramenta ainda pouco utilizada para manter o jovem na escola ao mesmo tempo em que o prepara para uma ocupação.
Para Marcelo Neri, convencer os jovens dos benefícios a médio e longo prazo do investimento pessoal na educação é uma das principais tarefas para trazer de volta à escola aqueles que abandonaram os estudos.
“Os maiores retornos da educação ocorrem entre 43 e 53 anos, no caso do mercado de trabalho, ou na velhice, no caso dos impactos na saúde. São, portanto, horizontes ainda muito distantes para uma parte dos jovens”, afirmou ele.