Centrais menores propõem até MP contra cortes
DA REPORTAGEM LOCAL
O fato de as centrais sindicais não realizarem greves gerais ou manifestações de grande porte não quer dizer que estejam “apáticas” ou “passivas”, afirma Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores).
“O movimento sindical tem admiração pelo presidente Lula e por sua história, assim como 84% aprovam sua atuação. Mas nos diferenciamos da CUT e da Força Sindical por não ocuparmos cargos no governo. Não estamos subordinados ao governo, fazemos críticas”, diz.
Em documento enviado ao Planalto no final do ano passado, a UGT pede a criação de um fundo para que pequenas e microempresas possam ter acesso facilitado ao crédito. “Estamos cobrando ainda para que as reformas política, tributária e sindical saiam do papel.”
A CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), formada por sindicatos que deixaram a CUT e são ligados ao PC do B, defende a realização de uma greve geral contra as demissões, a exemplo do que ocorreu no governo FHC. A proposta deve ser rechaçada por CUT, Força, UGT e Nova Central Sindical por acreditarem que esse não é o momento de propor greve geral já que prejudicaria os trabalhadores.
“O governo tem tomado medidas de fôlego curto para ajudar as empresas. A política econômica não traz desenvolvimento nem renda para o país. Por isso, nós e as demais centrais estamos unidas e devemos fazer atos em conjunto. Vamos propor uma greve geral, de ao menos 24 horas, para pedir mudanças. Não há outra forma”, afirma Wagner Gomes, presidente da central.
Para ele, a atuação do governo Lula na questão das demissões da Embraer foi “decepcionante”. “Não adianta negociar um pacote aos demitidos. Tinha é de ter exigido contrapartida, manutenção de empregos, quando o BNDES emprestou recursos para a Embraer.”
A Conlutas defende que o governo Lula interfira de forma direta nas demissões. “A saída é editar uma medida provisória que permita estabilidade no emprego. Já enviamos documento ao governo para que avalie essa proposta”, afirma José Maria de Almeida, presidente da Conlutas.
Contrária à redução de salários, à suspensão de contratos de trabalho e até a banco de horas nas empresas, a central passa por uma prova de fogo ao ter de encontrar uma saída para as 4.200 demissões feitas pela Embraer, em São José dos Campos. O sindicato dos metalúrgicos da cidade, que representa os funcionários da empresa, é ligado à Conlutas. Anteontem, as centrais fizeram ato em conjunto na porta da empresa, e o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) chegou a conceder uma liminar suspendendo as demissões.
Na opinião de José Calixto Ramos, presidente da Nova Central Sindical, nenhuma central tem “um remédio pronto” para resolver a situação. “Não podemos ceder às pressões de empresários para retirar direitos. Temos de agir com bom senso, seguindo a orientação do Ministério Público do Trabalho. Fazer acordo para abrir mão de salário não pode ser a regra.”
Antonio Neto, presidente nacional da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), diz que as empresas que demitiram se precipitaram. “Algumas montadoras, por exemplo, estão correndo contra o prejuízo devido ao corte na produção. Quem quer comprar carro novo tem de esperar 60 dias.” Para ele, a redução de jornada e de salários é um “tiro no pé”.
(CLAUDIA ROLLI E FÁTIMA FERNANDES)