Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Embraer demite 4.200 funcionários


Fábrica de aviões corta 20% da folha de salários por causa da crise

Mariana Barbosa

Com a queda na demanda mundial por jatos comerciais e executivos, a Embraer anunciou ontem cerca de 4.200 demissões, o equivalente a 20% de seu quadro de 21.362 funcionários. Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou indignação ao ser informado sobre os cortes.

As demissões interrompem um ciclo de expansão de mais de uma década da companhia, que disputa com a mineradora Vale o posto de maior exportadora do Brasil. Só em 2007, com a demanda em alta, a fabricante contratou nada menos do que 3 mil pessoas. Em um esforço para atender à demanda, a empresa bateu recorde de produção no ano passado, quando entregou 204 aeronaves, ante uma previsão de 194. Mas a sorte começou a virar no terceiro trimestre do ano passado, quando a Embraer anunciou seu primeiro prejuízo trimestral (R$ 48 milhões) em 11 anos.

Nos últimos dois meses e meio, clientes da Embraer pediram para adiar a entrega de quase 30 aviões, reduzindo a previsão de entregas totais no ano para 242 unidades. No início do ano passado, quando ainda havia filas de três ou quatro anos para conseguir adquirir um jato executivo da Embraer, a fabricante chegou a prever de 315 a 350 entregas para 2009. Com o adiamento das entregas, a previsão de faturamento foi reduzida em 13%, de US$ 6,3 bilhões para US$ 5,5 bilhões.

Em uma carta aos funcionários, o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, afirma que tanto o segmento de aviação comercial quanto de aviação executiva têm sido impactados com um grande volume de adiamentos, “muitos deles por mais de dois anos”. Curado admite estar “sem uma clara visibilidade de quando (a empresa) poderá voltar a crescer”.

O executivo afirma que o corte na atividade industrial é de mais de 30%, “o que torna inevitável o ajuste na base de custos”.

COLABOROU SIMONE MENOCCHI

Lula reage às demissões na Embraer

Presidente se mostra indignado com a empresa, que nos últimos anos foi amplamente capitalizada pelo BNDES

Tânia Monteiro e Simone Menocchi

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem ter ficado “indignado” com as 4.200 demissões anunciadas pela Embraer e anunciou que vai convocar o presidente da empresa para uma reunião, em Brasília, o mais rápido possível, para pedir explicações. O relato sobre a reação do presidente foi feito aos jornalistas pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, que esteve ontem à noite com Lula no Palácio do Planalto.

Segundo Artur Henrique, a indignação de Lula é enorme porque a Embraer, nos últimos anos, foi “amplamente capitalizada” com recursos do BNDES. “É um absurdo que uma empresa que recebeu recursos do BNDES, ao longo dos últimos anos, ao primeiro sinal de problemas promova este enorme corte, sem uma única conversa com ninguém do governo, sem nos procurar. Isso é um absurdo”, desabafou Lula, conforme relato do presidente da CUT. “Eles preferiram o fato consumado. Eles não poderiam tem feito isso sem falar antes com a gente.”

Os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da Comunicação Social, Franklin Martins, também participaram da reunião. José Lopez Feijoó, da Executiva da CUT, que também esteve no encontro no Planalto, contou que a Embraer havia marcado para ontem uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Marcaram e não apareceram.”

De acordo com os sindicalistas, na conversa com a direção da empresa Lula quer analisar a situação. “A conversa será dura”, afirmou Feijoó, dizendo não saber se a convocação dos dirigentes da Embraer pelo presidente pode levar a empresa a voltar atrás nas demissões.

Ontem, em São José dos Campos, onde estão concentradas praticamente todas as demissões, cada funcionário dispensado recebeu uma carta informando a demissão. O aviso foi feito entre 15 horas e 16 horas e provocou choradeira. Cada um que recebia a carta ficava perplexo, sem entender o que estava passando. Alguns choravam, outros passavam mal. “Fui surpreendido com essa demissão, não esperava que isso fosse acontecer”, disse o funileiro Silvano Batista.

Nos murais da empresa, uma carta do presidente Frederico Curado, tentava dar uma explicação: “Estamos diante de uma redução significativa nas cadências de produção de todos os produtos da empresa, apesar de todos os esforços com os clientes”. De acordo com a Embraer, as demissões se concentraram “na mão de obra operacional, administrativa e lideranças, com a eliminação de um nível hierárquico”, e não afetam a “expressiva maioria da mão de obra de engenheiros”

Rumores de que a empresa demitiria 4 mil funcionários circulam desde dezembro, mas vinham sendo negados. Na quarta-feira, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Adilson dos Santos, enviou uma carta ao presidente da Embraer, solicitando uma reunião para discutir alternativas. Ontem, Santos reclamava do fato de não ter sido sequer comunicado oficialmente das demissões.

O prefeito de São José dos Campo, Eduardo Cury (PSDB), pretende anunciar hoje um plano de apoio aos demitidos da Embraer.