Para a empresa, valorização do dólar frente ao real incentiva a nacionalização de produtos e as exportações
Cleide Silva
Com a alta do dólar em relação ao real, a General Motors estuda produzir no Brasil três veículos que iria importar do México e dos Estados Unidos. Um deles é um utilitário esportivo (SUV) de pequeno porte, para disputar mercado principalmente com o EcoSport, da Ford. Esse modelo deve ser incluído no projeto Viva, uma família de veículos cujo primeiro membro, um carro compacto, será lançado no segundo semestre.
O presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila, diz que “avalia a possibilidade de produzir localmente pelo menos três modelos que antes considerava importar”. Segundo ele, o real cotado acima de US$ 2 é competitivo tanto para exportações quanto para a produção local, em substituição às importações.
O segmento de SUVs, lembra Ardila, é apropriado para o Brasil, mas a maioria dos modelos disponíveis são importados. Outro item que pode ser nacionalizado é o motor Ecotec, que equipa a nova versão do Captiva, importada do México. “É um motor econômico, ecológico e com bom desempenho”, diz. “Se tivermos oportunidade de adaptá-lo para a tecnologia flex, poderemos fazê-lo.”
A GM apresentou ontem a nova versão do Captiva, com motor 2.4 e preço de R$ 87 mil. O modelo antes estava disponível na versão 3.6, a partir de R$ 97 mil. O veículo tem fila de espera e vende em média 1,3 mil unidades ao mês.
Além de favorecer a produção local, Ardila considera que o melhor estímulo para as exportações é a taxa cambial competitiva. “Hoje está competitiva, mas perdemos muitas oportunidades”, diz. “O anos de real forte foram errados do ponto de vista cambial.”
Para ele, se o câmbio permanecer nos níveis atuais, o Brasil vai recuperar competitividade externa e, quando as condições internacionais melhorarem, a empresa estará pronta para reconquistar mercados perdidos. “Até 2012 vamos renovar toda nossa linha e teremos produtos com alto poder exportador.”
O executivo aguarda para o segundo trimestre a visita do presidente mundial da GM, Rick Wagoner, que deve anunciar a liberação de parte de um investimento de US$ 1 bilhão solicitado pela filial. Tudo será financiado com recursos próprios, diz ele, sendo parte por meio do BNDES. “Não precisamos de ajuda dos EUA.” A matriz, porém, precisa dar aval ao projeto.
MERCADO
Ardila também defende a continuidade de uma política agressiva de queda de juros e maior disponibilidade de crédito. “Essa é a saída para o longo prazo, pois o corte do IPI é temporário”, diz, referindo-se à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados em vigor desde meados de dezembro.
Nos bastidores, porém, há gente do setor automobilístico tentando convencer o governo a prorrogar o corte do imposto, previsto até o fim de março. Ardila acredita que a reação do mercado de carros em dezembro e em janeiro está relacionada à queda do IPI, mas teme que o consumidor esteja antecipando compras.
Para evitar nova queda acentuada nas vendas, ele também apoia uma linha especial de crédito para carros usados e a retomada do projeto de renovação da frota.
O presidente da GM projeta vendas de 2,4 milhões de veículos no mercado interno este ano – 15% a menos que em 2008. A produção deve ficar na casa de 2,8 milhões de unidades, uma queda de 13% ante o ano passado. Para fevereiro, ele projeta vendas de 170 mil veículos, 14% a menos que em janeiro e 20% a menos na comparação com igual mês de 2008.
A GM também inaugurou, em Indaiatuba (SP), uma pista de testes em granito para medir ruído interno e vibração dos carros, a única desse tipo na América do Sul. Antes, era preciso enviar os carros aos EUA para homologação. Foram gastos US$ 100 milhões no projeto.
Contratos temporários não serão renovados
Cleide Silva
General Motors não deve renovar boa parte dos 1.633 contratos de trabalhadores temporários que estão em licença remunerada na fábrica de São Caetano do Sul (SP). Os contratos vencem entre fevereiro e março. O presidente da montadora, Jaime Ardila, adianta que, para a produção programada para este ano, essa mão-de-obra extra não será necessária. “Contratamos pessoal temporário no ano passado, quando prevíamos um mercado de 3,2 milhões de veículos”, diz. “O ano fechou com vendas de 2,8 milhões de unidades e este ano deve ficar em 2,4 milhões”.
A GM, segundo ele, deve produzir este ano 500 mil veículos em suas três fábricas, uma queda de 17% em relação a 2008. Na fábrica de São José dos Campos (SP), onde já foram dispensados 800 temporários, a empresa anunciou ontem novo período de férias coletivas de um mês para parte dos mais de mil funcionários da unidade de motores. Já na fábrica de Gravataí (RS), as férias coletivas previstas para fevereiro foram canceladas por causa da demanda por carros pequenos. Em São Caetano, dois dias de licença agendados para este mês também foram suspensos. “Pessoalmente, é muito frustrante não renovar o pessoal já treinado, mas nossa prioridade é manter os 22 mil empregados fixos que temos”, diz.