Empresa de autopeças empregava cerca de mil dekasseguis, mas deve cortar mais de 800 até março
BBC
Cerca de 50 brasileiros desempregados fizeram ontem um piquete na porta da fábrica de autopeças Asmo, na cidade japonesa de Kosai, província de Shizuoka. Oito deles, uniformizados, tentaram entrar à força na empresa e voltar ao trabalho.
Houve confusão, pois eles foram impedidos pelos seguranças de passar pelo portão. “Este foi um ato histórico, pois nunca no Japão se tentou a reintegração à força de um demitido ao quadro de funcionários”, disse Francisco Freitas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Estrangeiros e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Japão, à BBC Brasil.
Funcionários da administração da Asmo acompanharam o protesto, mas ninguém quis falar à imprensa. A empresa tinha nas suas linhas de montagem cerca de mil brasileiros. Segundo cálculos do sindicato, até o começo de março sobrarão menos de 200 dekasseguis.
Todos os demitidos tinham contratos temporários, renovados a cada dois meses. “A Asmo agiu de forma errada perante a lei, pois ela deveria ter efetivado esses trabalhadores há muito tempo”, afirmou Freitas.
No Japão, segundo a lei trabalhista, após três anos em um mesmo emprego, o temporário tem o direito de ser contratado como funcionário efetivo. Entre os demitidos da Asmo, havia brasileiros que estavam na empresa há mais de cinco anos. O sindicato vai pedir nova reunião com a Asmo. “Queremos que eles readmitam os brasileiros”, disse o sindicalista. “Se não houver acordo, o caminho vai ser o tribunal.”
“Com a crise, as empresas começaram a fazer cortes em massa, sem pensar na responsabilidade social”, disse Freitas. “Elas não podem jogar os trabalhadores na rua sem antes tentar outras opções, como a redução da jornada de trabalho e salarial, ou férias coletivas.”
REVOLTA
Luiz Arias, 40 anos, é um dos que tentaram entrar à força na fábrica. Ele trabalhava na empresa há um ano e não quis assinar a carta de demissão. “Este ato foi simbólico, para chamar a atenção do governo e dos empresários”, disse Arias. “Tem japonês em situação ruim, mas os mais prejudicados são os estrangeiros.”
Há 18 anos no Japão, Arias deixou São Paulo para tentar a sorte como imigrante. “O brasileiro hoje não é mais aquele do começo do movimento dekassegui, que andava de bicicleta e comia mal”, avalia. “Hoje, ele faz parte da sociedade, consome carro e casa. Um veículo novo que a gente compra é um pedido a mais para essa empresa que nos demitiu.”
Silvio Iwamoto, de 33 anos, é outro que não conseguiu voltar ao trabalho. “Minha esposa também trabalha na Asmo, mas já foi avisada que o contrato não será renovado.” Há 17 anos no Japão, com três filhos pequenos, ele não sabe que rumo tomar. “Tive de tirar as crianças da escola, senão não terei como pagar o aluguel e a comida.”
Revoltado, Iwamoto já pensa em desistir e voltar a Bauru (SP). “Estou me sentindo como um objeto descartável. Meu único objetivo aqui era poder pagar os estudos dos meus filhos para que tivessem um futuro melhor do que o dos pais.”
Empresas de tecnologia demitem 124 mil no mês
Jamil Chade
O setor de tecnologia está sendo uma das maiores vítimas da recessão nos países ricos. Um levantamento obtido pelo Estado revela que 124 mil trabalhadores foram demitidos apenas nas multinacionais do setor de informática e tecnologia no mês de janeiro.
Gigantes como a Microsoft, Intel, NEC e Google estão entre as empresas atingidas e que tiveram de promover cortes drásticos em sua mão-de-obra.
Os dados são dos analistas da Channel Insider, especializada no setor de telecomunicações e informática. Segundo o levantamento, os cortes desde o início da crise, em setembro, somam 205 mil empregos no setor.
Com quedas nas vendas e lucros sendo reduzidos, as empresas de tecnologia praticamente estão passando por uma explosão de uma nova bolha. Os cortes no setor representam 16% de todas as demissões realizadas pelas multinacionais no mundo em janeiro.
Para os analistas, o impacto sobre o setor de tecnologia está sendo maior que nas recessões anteriores.
Só no Japão, as empresas de tecnologia vão somar prejuízos de US$ 15 bilhões em 2009. No Japão, elas anunciam cortes de 50 mil trabalhadores, atingindo também suas fábricas espalhadas pelo mundo. No país, a produção industrial havia registrado uma queda de 9,6% em dezembro na comparação com novembro. O Natal não foi suficiente para que as vendas fossem retomadas e a decisão de muitas, em janeiro, foi a de promover cortes.
As exportações japonesas de produtos tecnológicos também despencaram.Dados apontam que a contração, apenas em dezembro, chegou a 35%. Com Europa e Estados Unidos em recessão, a capacidade das empresas de exportar foi reduzida.
A Hitachi sofreu US$ 7,8 bilhões em prejuízos, comparado com uma previsão de ganhos no ano de US$ 1,5 bilhão. Diante da queda, parte da solução foi a de cortar 7 mil postos de trabalho.
Nos próximos doze meses, a NEC cortará 20 mil empregos por causa da queda nas vendas de semicondutores.
Na Microsoft, os cortes planejados atingem 5 mil trabalhadores em 18 meses. A empresa não fala em recessão e justifica que a medida tem como meta colocar a companhia em boa situação para tirar proveito de oportunidades futuras.