Convencionou-se dizer que estamos em crise.
Pode ser, mas em nossa histórica jornada sindical, de vários anos de lutas e de embates, compreendemos que o momento por qual passa a economia mundial, em especial a brasileira, é peculiar – e merece algumas considerações a fazer.
Isto significa dizer que a crise é distinta porque não são raros os prognósticos que nos alentam de esperanças de que a situação senão temporária, está fadada a terminar assim que houver a necessária disposição do capital olhar com menos perversidade as relações de trabalho.
Vamos aos fatos:
Embora na engrenagem produtiva esteja presente a mais valia trabalhista, isto é, o esforço do trabalhador no lucro empresarial, é preciso reafirmar que a chamada crise não é fruto do mundo do trabalho.
É, antes de mais nada, a inexistência de uma administração correta – ou honesta – dos créditos financeiros que não foram empregados, justamente, na produção.
Em outras palavras: o dinheiro fácil dos créditos de diversas instituições financeiras foram desviados para o ralo do desperdício e, por que não, da ganância.
Se prestarmos a atenção, vamos verificar que a deflagração da crise surgiu a partir dos créditos podres, sem lastro, do mercado imobiliário norte-americano, ao qual eram canalizados bilhões de dólares para o expurgo da banca finaneira internacional.
Daí para aglutinar bancos considerados gigantes da economia para a borrasca da economia mundial foi um pulo. E banco falido significa fim do crédito. É matemática a relação.
No entanto, o que presenciamos nos últimos meses teve seu começo em manifestações esporádicas de administrações canhestras.
Não presenciamos empresas até então sólidas, como a Enrom, por exemplo, metidas em maracutaias – e que faliram por causa disso – prenunciando o momento em que vivemos?
Tudo porque a direção destas empresas acreditava ser onipotente usando o dinheiro alheio, não poucas vezes o dinheiro público. O que ficava mais fácil para locupletar lucros e inchar balanços falsos.
Mas estas empresas não agiram sozinhas. Tiveram ajuda dos poderes constituídos de seus paises de origem. Se alguém se lembrou de George Walker Bush, de amarga lembrança, não é mera coincidência.
Após o desastre nos paises centrais, o alastramento da crise se deu feito nuvem de gafanhoto pelas economias dos diversos paises do mundo, entre eles as dos emergentes, como o Brasil.
NOVA SITUAÇÃO – desta vez, porém, o patronato verifica que não pode colocar sobre os ombros do trabalhador o ônus do equívoco administrativo – embora nós, sindicalistas, avaliamos que parte das demissões que viceja é fruto da antiga administração, que expolia e se aproveita do contexto em questão para dinamitar direitos trabalhistas.
Entretanto, tais empresários encontraram pela frente uma nova situação sindical, a que impede os argumentos em favor das demissões em massa.
Primeiro, porque nunca o capital ganhou tanto como nos últimos anos, com sucessivos recordes de vendas e lucros. Isto, em nossa opinião, concede a “gordura” necessária para enfrentar esta crise.
Segundo, porque os diversos indicadores econômicos brasileiros estão saudáveis, não sendo ocasionais as opiniões de que o Brasil é dos poucos paises em que a crise não atinigirá em cheio o macrossistema financeiro e produtivo nacional.
E , finalmente, o mais emblemático: o patronato encontrou as Centrais Sindicais não somente unidas, mas coesas em torno de ideais amplos em defesa do trabalhador, do trabalho e de toda a cadeia produtiva.
Os representantes das empresas (Fiesp e CNI) se surpreendem porque não estavam preparados para discutir com um movimento sindical disposto a endurecer, se preciso, no quesito chamado defesa dos direitos trabalhistas, respaldados pela Justiça do Trabalho, através do TRTs..
Portanto, não iremos, em hipótese alguma, ceder as conquistas obtidas com tantos sacrifícios ao longo de nossa história de desafios vencidos.
Vamos, com certeza, sentar à mesa de negociação – como já o fazemos – para debater e propor alternativas para amenizar a crie financeira que afeta a todos..
Mas que a negociação seja a mais ampla possível, para que os trabalhadores não custeiem o prejuízo de muitos que não souberam administrar seus negócios, e optaram por aplicar seus lucros no mercado financeiro.
Por isto mesmo, o momento é crucial. O momento é de negociar e de usar o bom senso; e não dar trégua ao capital selvagem.
Francisco Sales Gabriel Fernandes
O Chico do Sindicato é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Mococa e Região, vice-presidente da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo e vereador em Mococa pelo PPS.
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