Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Crise chega ao emprego

06/12/08:

Nos setores mais afetados da economia já ocorreram pelo menos 5 mil demissões

Carolina Dall´olio, carolina.dallolio@grupoestado.com.br

Os trabalhadores brasileiros começam a vivenciar um dos efeitos mais perversos da crise econômica: o desemprego. Nos setores que mais sofrem com a atual escassez de crédito – bancos, indústria automobilística, fabricantes de eletroeletrônicos, além de exportadores e comerciantes – já ocorreram ao menos 5 mil demissões. Todas atribuídas à crise.

A turbulência financeira desembarcou no Brasil em um momento em que o País apresentava um crescimento pujante, com seguidos recordes na geração de empregos. “Agora tivemos de frear um carro acelerado”, compara Sérgio Amad, professor de Relações do Trabalho da FGV-SP. Para ele, a mudança brusca do cenário econômico explica porque alguns setores logo adotaram medidas extremas de contenção de gastos, como as demissões. “Quando a economia ia bem, as empresas incharam seu quadro de funcionários para dar conta da demanda. Agora elas estão se ajustando à nova realidade”, avalia o professor.

Na indústria automobilística, que antes da crise era uma das vedetes da economia brasileira, as vendas recuaram aos níveis de quase dois anos atrás. Em novembro, foram vendidos 177,8 mil veículos, volume 25,7% menor que o de outubro, que já tinha sido 11% inferior ao de setembro. A queda levou as montadoras a demitirem 480 trabalhadores e dar férias coletivas para outros milhares, informa a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O prejuízo da indústria refletiu o marasmo das lojas. Humberto Barbonalha, que trabalhava em uma concessionária de caminhões da Mercedes, perdeu o emprego nesta semana – dos 200 funcionários da revenda, 30 foram cortados. O vendedor foi dispensado porque não tinha para quem vender. “Há três meses, faltava caminhão para entregar, porque a demanda era enorme”, conta Barbonalha. “No último mês, os compradores simplesmente desapareceram.”

Na construção civil, os negócios também minguaram. “A diminuição da procura fez muitas empresas postergarem seus lançamentos e dispensarem alguns funcionários”, admite Sérgio Watanabe, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-SP). Em julho, havia no Brasil um déficit de 230 mil trabalhadores no setor. Com a crise, o sindicato dos trabalhadores da categoria (Sintracon-SP) projeta que haja redução de 100 mil vagas até o final de 2008 em todo o País.

Para o presidente do Sintracon-SP, Antonio de Sousa Ramalho, a justificativa das demissões não se restringe à redução da demanda. “Nos últimos meses, como havia falta de mão-de-obra, os salários da categoria subiram. Agora as empresas querem demitir para recontratar depois com salários menores”, diz Ramalho. O Sinduscon-SP, por sua vez, rejeita essa possibilidade.

Ao contrário do que ocorre na construção civil, há setores que já aceitam renegociar salários para evitar o desemprego. É o caso do comércio. “Já havíamos assinado contrato que previa reajuste de 9% sobre o piso”, informa o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah. “Mas em alguns ramos, como o de revendas de autopeças, topamos rever o acordo para evitar demissões.”

Waldir Gomes, presidente do Conselho dos Economistas (Corecon-SP), avalia que a melhor estratégia é mesmo negociar. Para ele, também é hora de se qualificar e mostrar ao seu chefe que você é indispensável no trabalho. “Os mais preparados têm mais chances de manter o emprego, porque as demissões sempre começam pelos menos qualificados.” Buscar aprimoramento constante e trabalhar com afinco são atitudes que valem para qualquer cenário – mas que se tornam mais recomendáveis em tempos de crise.

Além de tentar segurar o emprego, também é preciso ser cuidadoso com as finanças. Fazer um colchão para enfrentar possíveis dificuldades é uma ação prudente. Mas também é preciso manter o otimismo – até para que a economia não sofra ainda mais. É o que recomendou ontem o presidente Lula,após encontro em São Paulo com a ex-refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Ingrid Betancourt. “Se vocês não estão devendo, comprem as coisas que têm que comprar. Mas, se têm dívidas, paguem”, disse. “Se ninguém comprar, ninguém vende, ninguém produz, portanto a economia pára.”

BANCOS

1000 FUNCIONÁRIOS

dispensados nos últimos três meses, 200 do banco Safra

SETOR AUTOMOBILÍSTICO

480 TRABALHADORES

foram demitidos pelas montadoras no último mês

SIDERURGIA

1300 FUNCIONÁRIOS

da Vale do Rio Doce foram dispensados esta semana

COMÉRCIO

“A crise já está afetando o comércio. Mesmo em dezembro, que é o nosso melhor mês do ano por conta do Natal, estão ocorrendo demissões. Por isso estamos mais temerosos com relação a janeiro”, diz Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo

CONSTRUÇÃO CIVIL

2,6 MIL DEMISSÕES

das 3.895 ocorridas em 3 meses podem ser atribuídas à crise

ELETROELETRÔNICOS

200 FUNCIONÁRIOS

Da LG foram demitidos, outros 300 temporários também

COMO AGIR
Busque qualificação profissional o quanto antes. Os especialistas são taxativos em dizer que as demissões sempre começam pelos menos qualificados

Há diversos cursos oferecidos gratuitamente pela Prefeitura, no Centro de Apoio ao Trabalho

Tenha mais empenho do que nunca. Trabalhe para que seu chefe e seus colegas julguem que você é um funcionário indispensável à empresa

Coloque todas as suas contas em dia. Aproveite o pagamento do 13º salário para quitar as dívidas

Saia de casa sabendo quanto pode gastar. Ninguém vai deixar de fazer as compras de Natal, mas esse não é o momento de esbanjar

Compre à vista e faça uma reserva para enfrentar possíveis dificuldades. Os especialistas são unânimes em dizer que é necessário evitar o crédito e guardar dinheiro para uma eventualidade

Por fim, tente manter o otimismo. A crise é grave, mas a economia brasileira não é uma das mais atingidas