Escrito por Márcia Xavier
Direito não se reduz, se amplia”. Na faixa, uma entre centenas, e na multidão de mais de 35 mil manifestantes, a 5a Marcha da Classe Trabalhadora, que ocorreu nesta quarta-feira (3), em Brasília, demonstrou que tem “reivindicações” e que está unida em torno delas. “Não são seis centrais, é uma só voz”, gritava o orador do alto do carro de som, destacando a união que foi saudada por todos os demais oradores. O evento, que culminou com o ato político, no final da manhã em frente ao Congresso Nacional, deve continuar na agenda das lideranças e na mobilização dos trabalhadores nos estados.
Balões, cartazes, faixas, camisetas, apitos e buzinas deram o tom da manifestação – colorida e com muitas reivindicações, tendo como a principal delas a manutenção do emprego como alternativa para enfrentar a crise financeira internacional. Para os dirigentes das centrais e parlamentares, a principal arma para combater os efeitos da crise econômica é a preservação do emprego, que vai garantir o consumo e o desenvolvimento do País.
Eles destacaram ainda que o dinheiro público que está salvando bancos, indústrias exportadoras e agricultura deve ter como contrapartida a manutenção do nível de emprego nas empresas beneficiadas.
A cada cartaz e faixa correspondia um discurso. Os dirigentes sindicais defenderam a redução da jornada de trabalho, que sofreu um revés na votação prevista para esta quarta-feira (3), na Comissão de Trabalho da Câmara; e a ratificação da Convenção 151, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aprovada na votação desta quarta na mesma comissão. A Convenção 151 trata das relações de trabalho no serviço público.
“Emprego, emprego, emprego”
Outra tônica dos discursos foi a redução das taxas de juros. O presidente da CTB, Wagner Gomes, o primeiro a falar no ato político, promoveu uma votação – vitoriosa – pela demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meireles. Segundo Gomes, o presidente do BC é responsável pela política de juros altos que impede o crescimento econômico do País e pode agravar os efeitos da crise econômica.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, foi um dos últimos a falar aos manifestantes, que já se dispersavam entre os gramados e calçadas. “Emprego, emprego, emprego”, gritou, chamando atenção das pessoas que, após quatro horas de manifestação, aproveitavam o resto do tempo tirando fotos, comendo pequenos lanches vendidos pelos ambulantes e aplacando o cansaço sentando ou deitando na grama.
Artur Henrique renovou o discurso de todos os que o antecederam, defendendo uma alteração na política macroeconômica do País, com a diminuição das taxas de juros. E fez um balanço da manifestação, destacando que o grande número de manifestantes demonstra a união e a força do movimento sindical. Ele lembrou ainda que a luta continua nos contatos dos dirigentes sindicais com as autoridades e na mobilização nos estados.
Poucos deputados
A Marcha recebeu apoio de parlamentares e outras lideranças. Apenas quatro deputados discursaram no evento, comprometendo-se com as reivindicações dos trabalhadores, embora alguns outros tenha comparecido rapidamente ao evento para cumprimentar os trabalhadores. Vicentino (PT-SP) anunciou o resultado das votações na Comissão de Trabalho, criticando os deputados da oposição – DEM e PSDB, que tentam evitar a aprovação de matérias de interesse dos trabalhadores.
A deputada Manuela D´Ávila (PCdoB-RS) parabenizou a união das centrais, acrescentando que “nesse momento de crise no mundo e no Brasil, não podemos deixar que mais uma vez a classe trabalhadora pague pela crise. Segundo ela, a crise, que é dos bancos, deve ser enfrentada com trabalho e com política de valorização dos salários.
Também falaram na manifestação os deputados Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que falou como presidente da Força Sindical, reforçando as reivindicação dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho, o fim do fator Previdenciário e a ratificação das Convenções 151 e 158 da OIT.
Rollemberg disse que a crise é do capitalismo e que o compromisso dos socialistas não é salvar bancos e sim a população, criticando o uso de recursos que beneficiam os bancos e que poderiam já ter sido usados para garantir melhoria da qualidade de vida da população
Apoios e solidariedade
Os trabalhadores receberam apoio também da presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lúcia Stumpf, do representante da CTA da Argentina, Victorio Paulon e do líder indígena Ednaldo, da Raposa Serra do Sol, em Roraima. Ednaldo aproveitou a ocasião para convidar os trabalhadores brasileiros a reforçarem a luita do povo indígena, lembrando que no próximo dia 10 de dezembro será votada no Supremo Tribunal Federal (STF) a constitucionalidade da demarcação da terra indígena.
Paulon elogiou a união dos trabalhadores brasileiros e conclamou a todos para maior integração dos trabalhadores do Mercosul, lembrando que a crise ameaça a todos e a primeira resposta a ela deve ser a união da classe trabalhadora. Ele disse que no próximo dia 12, em Buenos Aires, os argentinos farão uma marcha como a dos brasileiros. “Hasta la vitoria finale”, concluiu.
Stumpf saudou a manifestação, lembrando que todas as conquistas do mundo do trabalho foram obtidas pela união e mobilização dos trabalhadores, estudantes, mulheres e negros, que lutaram e continuando lutando por um Brasil melhor. E engrossou o coro de que “não é o povo que vai pagar o preço dessa crise.”
Longo percurso
A manifestação foi iniciada nas imediações do estádio de futebol Mané Garrincha, onde se reuniram os manifestantes vindos de todo o País – do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Por volta de nove horas, sob uma chuva fina, eles iniciaram o percurso de nove quilômetros. Quando os primeiros manifestantes chegaram em frente ao Congresso Nacional, ainda havia manifestantes por um longo percurso.
Mulheres, homens, jovens e velhos, portanto cartazes, faixas, bandeiras, balões, apitos e buzinas, uniformizados com as camisetas que identificavam as várias centrais sindicais, encheram o gramado em frente ao Congresso. As faixas e cartazes foram estendidas na grama e as bandeiras fincadas no chão. Enquanto aguardavam a chegada de todos, o que demorou quase uma hora, o microfone era disputado pelas lideranças sindicais dos estados.
Em meio aos discursos, foi lembrando o acidente com o ônibus que trazia manifestantes do Maranhão, em que morreram duas pessoas. Uma salva de palmas saudou os dois militantes mortos. (Tragédia: ônibus do MA à 5º Marcha tomba e deixa 2 mortos).
Fonte: O Vermelho