“Volto a dizer o que já manifestei outras vezes nesta coluna: o governo achou o culpado pela crise econômica que está sufocando o País: os trabalhadores brasileiros.
São eles os responsáveis pela fuga dos investimentos na produção, pelo fechamento de empresas, pequenas, médias e grandes; pelo desemprego de quase 12 milhões de pessoas, pela insegurança dos que continuam empregados, pelo endividamento público e das pessoas físicas, pelo aumento do número de famílias morando nas ruas, pela saúde pública ruim, pela crise política.
Senão, como explicar que todas as medidas de ajuste fiscal pensadas tanto pelo governo anterior como atual são em cima dos trabalhadores. Eles é que têm que abrir mão de direitos conquistados ao longo de mais de um século com luta e sacrifícios que custaram empregos, saúde, até mortes, para salvar a Previdência Social e para que as empresas tenham condições de contratar.
A saída para o Brasil voltar aos trilhos é o trabalhador abrir mão dos direitos, permitir que mexam nas suas férias, no FGTS, nas licenças e adicionais. A CLT, dizem, é um entrave às contratações. Precisamos garantir que maus empresários continuem obtendo seus lucros à custa de mão de obra barata. Exigem qualificação profissional, mas não temos uma política de qualificação de qualidade e permanente.
Querem que o trabalhador abra mão da aposentadoria por idade, por tempo de contribuição, que trabalhe mais tempo para poder se aposentar, mas não temos uma política que garanta que ele terá emprego aos 55, 60 anos de idade; querem acabar com a pensão por morte dos viúvos e viúvas mais jovens, com o acúmulo de pensão e aposentadoria, cassar auxílios-doença a aposentadorias por invalidez de quem depende única e exclusivamente deste benefício para sobreviver.
O trabalhador tem mesmo é que ganhar um benefício só e pouco. Afinal, ele está vivendo mais, sobrecarregando a Previdência e onerando os cofres públicos.
Hoje, comemoramos o Dia da Independência do Brasil, mas o povo trabalhador continua sendo oprimido por aqueles que colocam os seus privilégios acima do direito e do bem-estar da maioria”.
Miguel Torres
Presidente da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos)
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes
Vice-presidente da Força Sindical
Artigo publicado no Diário de S.Paulo em 7 de setembro de 2016