Jamais, da minha parte, alguém viu a defesa da prática do denuncismo, seja pelo Ministério Público, seja pela grande mídia. Penso que, ante suspeitas, é preciso agir com cautela, pois uma denúncia injusta pode causar danos irreparáveis a cidadãos, a empresas ou a governantes.
Adotei essa postura quando a mídia martelava, diariamente, denúncias contra membros do PT. Mesma cautela adoto, agora, ante a delação de Sérgio Machado, ex-senador tucano e antigo presidente da Transpetro, que implica membros do governo interino, o núcleo do PMDB e o próprio ex-presidente Sarney.
Essa cautela não significa, em hipótese alguma, concordância com o fim do processo de apurações e mesmo de delação premiada, conforme a lei. A operação Lava-Jato deve prosseguir, assegurando aos implicados o direito de saber do que são acusados, bem como seu amplo direito de defesa.
As denúncias não podem ser seletivas, contra um partido e em benefício de outro. Polícia Federal e Ministério Público têm de continuar atuando com autonomia e o Poder Judiciário, com certeza, saberá atuar no estrito limite da lei, até porque justiça é diferente de justiçamento.
A corrupção está longe de ser o único problema brasileiro, nem está desligada do contexto geral. Somos um País onde a educação ainda não é direito de todos, onde a propriedade é muito concentrada e, onde, também, o poder econômico exerce uma influência espúria sobre a política.
Precisamos, por isso, não cair na ilusão de que a prisão de meia dúzia nos livrará de todo o mal. Entendo que a ação firme da Justiça ajuda a Nação, mas o Brasil, para crescer e se consolidar, precisa mudar estruturas do Estado e fazer reformas que mexam com grandes interesses econômicos.
Jango – Dezembro deste ano registrará o 40º ano da morte de João Goulart, o único brasileiro a morrer no exílio. Jango era um homem rico, mas nem por isso insensível às desigualdades sociais. Pelo contrário. Foi seu compromisso com a justiça social que provocou sua derrubada do governo, em 1964, seu exílio e, anos depois, sua morte na Argentina.
Tivéssemos adotado as reformas de base propostas por Jango, o Brasil seria hoje uma economia moderna, com um Estado a serviço da imensa maioria e não refém de grupos partidários ou empresariais. Sei também que o saudoso presidente não apoiaria reformas de conteúdo neoliberal, pois elas, essencialmente, punem os mais pobres e nada tiram dos mais ricos.
Volto ao tema das investigações, que aprovo. Mas é meu dever alertar que elas pouco resolverão se o Brasil não mudar na direção de uma Pátria para todos os brasileiros, com educação de qualidade, acesso à saúde, liberdade real de informação, justiça social e mais transparência por parte dos governos, empresas, entidades e agentes públicos.
José Pereira dos Santos
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região.