Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Plano de resgate a montadoras corre risco

Senadores do partido de George W. Bush se opõem ao projeto democrata de socorro à indústria americana de veículos.

Para o presidente eleito Barack Obama, o socorro deve ser condicionado a um plano de longo prazo de reestruturação do setor.

DA REPORTAGEM LOCAL

Não será fácil, para a indústria automobilística americana, conseguir do governo a ajuda necessária para continuar funcionando. Ontem, dois senadores republicanos disseram que vão se opor ao plano de resgate, proposto pelo Partido Democrata, que deve ser colocado em discussão nesta semana. A idéia dos líderes do partido do presidente eleito Barack Obama é reservar para o setor cerca de US$ 25 bilhões do já aprovado pacote de US$ 700 bilhões destinado a tentar resolver a crise econômica na qual os Estados Unidos mergulharam.

“Empresas vão à falência todos os dias e outras tomam o seu lugar “, afirmou Richard Shelby, do Alabama. “Elas [as montadoras] não estão construindo os produtos certos, não inovam. São dinossauros.”

“Apenas lhes dar US$ 25 bilhões não muda nada, só adia por seis meses a hora do acerto de contas”, fez coro o senador Jon Kyl, do Arizona.

O risco político de deixar à deriva empresas do porte da General Motors, da Ford e da Chrysler é considerado alto.

A GM, maior montadora do mundo e que teve prejuízo de US$ 4,2 bilhões no terceiro trimestre, disse que pode não ter capital suficiente para chegar em 2009 e não descartou pedir concordata. A Chrysler também corre risco de não sobreviver sem a ajuda do governo, na avaliação de analistas. A Ford se encontra em situação um pouco melhor do que as outras graças a uma reforma interna realizada em 2006; no entanto, seria fatalmente prejudicada pelo fechamento da GM, com a qual compartilha fornecedores.

Da teoria do “grande demais para falir”, que sempre fundamentou o socorro a bancos, os políticos também estão lançando mão para explicar o intuito de jogar uma bóia para as fabricantes de veículos. Por esse raciocínio, custaria menos o auxílio do que arcar com as conseqüências das quebras.

George W. Bush é contra o plano. Obama, que venceu nos Estados do chamado “cinturão do ferro” (Illinois, Indiana e Ohio), onde as fabricantes de veículos se concentram, comentou acreditar que a ajuda é necessária, mas deveria ser fornecida como parte de uma estratégia de longo prazo para “uma indústria automobilística sustentável”, não simplesmente um cheque em branco. “Se o setor entrasse em colapso, seria um desastre no ambiente atual”, disse em entrevista ao programa de televisão “60 Minutos” que foi ao ar na noite de ontem. “Minha esperança é de que o debate seja a respeito de dar uma ajuda condicionada a um plano que envolva trabalhadores, gestores, fornecedores e financiadores.”
Com agências internacionais

Megafeirão de carros atrai consumidor e ajuda a reduzir estoques das fábricas

DA REPORTAGEM LOCAL

A médica veterinária Taís Berelli Saito, 36, pensou muito, mas, na ensolarada manhã de ontem, decidiu fechar a compra de um Celta zero-quilômetro no megafeirão na unidade da GM de São Caetano do Sul. Com o carro novo, Saito vai resolver dois problemas: deixará de usar o carro da mãe e vai ajudar a GM a reduzir o gigantesco estoque acumulado na fábrica e nas concessionárias, um problema que anda tirando o sono da indústria automobilística.

Só na Grande São Paulo, o estoque da GM atingiu a marca de 8.000 veículos, somados os carros simetricamente estacionados no pátio da montadora e os guardados na rede de 40 concessionárias. Em tempos normais, o estoque seria a metade.

A GM estima que mais de 20 mil pessoas tenham passado pelo feirão no fim de semana -o segundo consecutivo realizado pela montadora. A força-tarefa mobilizou 400 pessoas, da GM e das concessionárias, e atingiu, segundo Rodrigo Rumi, gerente regional de marketing e vendas da montadora, a meta de desovar 3.000 unidades. O balanço oficial do feirão sai hoje, mas a previsão na tarde de ontem era a de que a montadora obtivera êxito.

“No sábado, foram vendidos 800 carros novos. Pelo ritmo de visitas, vamos conseguir chegar a 1.500”, calculou Rumi. Com os dois fins de semana de feirão, a GM fecharia a venda de 3.000 carros zero-quilômetro, sem considerar os seminovos -que chegariam a 1.400.

A GM e a rede de concessionárias teve de abdicar das margens de venda para tirar o consumidor de casa. Foi a razão que levou Saito a fazer negócio. Um Celta de R$ 25 mil saiu por R$ 23,6 mil. Com entrada de 60%, ela conseguiu parcelas de R$ 294 durante 60 meses e juros de 1,38%. “O momento foi esse”, dizia sorridente.

O analista de sistemas, Cristiano José dos Reis, 26, ainda fazia as contas com a vendedora para saber se fechava a compra de um Meriva.

O seu Gol seria parte do negócio, mas o problema estava no tamanho da prestação, acima de R$ 1.000 por mês.

A crise não assusta?, pergunta a reportagem da Folha. “Estou pensando em fazer o negócio porque tenho segurança de que vou continuar empregado”, disse Reis.

Meta

Reduzir estoques é essencial agora. Gilberto Antonialli, diretor de vendas da revendedora GM Itororó, estava satisfeito com o resultado do feirão, mesmo tendo de abrir mão da margem. “Com carros no estoque, não há como ter margem”, explicou. Ele acredita que isso irá acontecer nas próximas semanas, quando o estoque da loja retornar ao nível de 400 a 500 unidades. “O consumidor está voltando”, comemora.

Wagner Zampieri Silva, gerente da Amazonas Morumbi, concessionária Fiat, também disse que já nota o retorno do consumidor ao mercado.

“Ainda é uma volta tímida, mas essas promoções e feirões têm ajudado”, afirma. A queda na taxa de juro ajuda. Silva, responsável pelo mercado de seminovos, afirma que, no fim de semana, as taxas baixaram de 2,37% para 1,86%, com a possibilidade de o consumidor pagar em até 60 vezes, sem entrada.

Segundo Fernando Campos, gerente da Itavox -concessionária Volks com quatro unidades em São Paulo-, os feirões têm ajudado a reduzir os estoques. “Os consumidores estão voltando devagar, mas estão voltando”, disse. (AGNALDO BRITO)