YGOR SALLES DA FOLHA ONLINE
PEDRO SOARES DA SUCURSAL DO RIO
Sob impacto da crise financeira internacional, a indústria de transformação paulista já começa a demitir: foram fechados 10 mil postos de trabalho no setor em outubro, mês no qual as empresas costumam aumentar as contratações por conta do Natal. Com as demissões, o nível de emprego do setor no Estado de São Paulo caiu 0,41% de setembro para outubro, segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). É a primeira retração para o mês de outubro desde 2003. Em setembro, o emprego havia crescido 0,48%. No acumulado do ano, o nível de ocupação registra alta de 7,28% (ou 159 mil novas vagas), segundo a Fiesp. Considerando os dados com ajuste sazonal (típicos de cada período), o emprego recuou 0,13% em outubro.
Para o diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Fiesp, Paulo Francini, a queda no nível de emprego foi atípica e sinaliza a menor confiança do empresariado por causa da crise. Segundo ele, a deterioração das expectativas explica a redução do emprego. “Foi mais por expectativa e precaução diante da crise do que por causa da atividade industrial em si, que ainda não sofreu alteração.” O que mais assusta, diz, é que as demissões ocorreram em outubro, quando a indústria opera a todo vapor para dar conta das encomendas de final de ano. De acordo com o sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, os dados mostram que a economia já começou a se ajustar às turbulências globais. “Estamos na reta da desaceleração. Primeiro, tivemos a escassez de crédito e a queda nos preços das commodities. Agora, veremos redução da atividade e perda de empregos”.
Prenúncio em setembro
Tal movimento já havia sido notado, com menor intensidade, em setembro. Pelos dados do IBGE, o emprego na indústria caiu 2,2% na comparação com agosto nas seis maiores regiões metropolitanas do país. “O mercado de trabalho já vinha numa suave desaceleração por causa da alta dos juros e da leve desaceleração da economia. Em setembro, com o estouro mais forte da crise, as expectativas se deterioraram”, diz Fábio Romão, economista da consultoria LCA. Não há, segundo ele, uma freada no consumo e uma conseqüente redução do nível de produção que justifique corte do emprego. Foi um movimento, avalia, de cautela dos empresários diante do cenário de crise e da perspectiva de desaceleração mais forte. Com o ambiente bem menos favorável, Romão prevê que o número de vagas geradas pelo conjunto de setores desacelere -da média 4,5% de abril a junho para 3% ao final do ano. Segundo ele, o setor industrial é o primeiro a sentir os efeitos da crise. A Fiesp aponta que as maiores quedas ficaram com couros e calçados (4,09%) e móveis (3,1%).
Com PAULO DE ARAUJO , da Reportagem Local