Participação ainda está abaixo dos 45,4% de 1990
MARTA SALOMON – DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de mostrar recuperação durante quatro anos consecutivos, a participação dos salários no renda nacional -de pouco mais de 40%, em 2007- só conseguirá retomar o peso registrado no início da abertura econômica brasileira em 2011, projeta estudo divulgado ontem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Segundo Márcio Pochmann, presidente do Ipea, a estimativa levou em conta um cenário otimista, que desconsidera o efeito da crise econômica. “Nesse ritmo de crescimento, o rendimento do trabalho deve voltar à mesma situação já verificada em 1990 somente 21 anos depois do recrudescimento no movimento de piora da distribuição funcional da renda no país”, diz o estudo.
O estudo do Ipea se contrapõe aos dados da queda da desigualdade de renda no Brasil, aferida pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) a partir da remuneração das fatias mais ricas e mais pobres da população. Essa queda da desigualdade, mostra o instituto, não vem acompanhada, na mesma proporção, pela maior participação do rendimento do trabalho no conjunto da renda nacional.
Entre 2001 e 2004, por exemplo, foi registrada queda da desigualdade de renda ao mesmo tempo em que a chamada renda da propriedade -lucros, juros, rendimentos de aplicações e aluguéis- também ganhava espaço no bolo da renda nacional.
“Para haver melhora geral na distribuição da renda nacional, é necessário que o aumento do peso relativo da parcela do trabalho na renda nacional ocorra simultaneamente à redução da desigualdade da repartição da renda do trabalho”, diz o Ipea, ao relativizar dados da Pnad.
Nos últimos 17 anos, apenas em seis anos a redução da desigualdade de renda foi acompanhada pelo crescimento da participação dos salários na renda nacional, mostram os cálculos, feitos com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Foi o que aconteceu entre 2004 e 2007. Desde 1990, a pior participação dos salários na renda nacional foi registrada em 1996: 38,5%.
Esse percentual não inclui, por exemplo, a renda de trabalhadores autônomos.
Desenvolvidos com 60%
“Todos os países desenvolvidos têm participação da renda dos trabalhadores acima de 60%. Nos anos 50, os salários no Brasil representavam 56% do PIB, bem mais do que os 45,4% registrados em 1990”, ponderou Pochmann.
Entre as principais causas da queda do peso dos salários na renda nacional, o estudo do Ipea aponta o recuo na remuneração dos trabalhadores ocupados nas empresas financeiras. A queda foi de 20% entre 2000 e 2006. Nesse período, os salários das empresas não-financeiras tiveram ganhos maiores do que os da administração pública. Mas a expansão maior foi registrada em instituições sem fins lucrativos.