Crise leva empresas a reverem custos e obras, além de metas de lançamentos
Cortes ocorrem na área administrativa, mas também afetam técnicos que trabalhavam com projetos a partir de 2009
JULIO WIZIACK – DA REPORTAGEM LOCAL
A crise financeira começou no mercado imobiliário americano e acabou afetando a construção civil brasileira. Além de reverem as metas de lançamento, construtoras e incorporadoras listadas na Bolsa estão realizando demissões. Os cortes começaram há dois dias.
A Folha apurou que a Cyrela demitiu 300 funcionários. Por meio de sua assessoria, a empresa afirmou que seu quadro de funcionários continua inalterado. Na JHSF, especializada em empreendimentos de alto padrão, foram cerca de 40. A Lopes demitiu 60, mesmo número da Abyara. Segundo o gerente de Relações com Investidores da Abyara, Alexandre Hermann Sande, há chances de novas demissões. Na Even, 25 foram demitidos.
Entre eles, estão engenheiros, advogados, mestres de obra e projetistas, além de profissionais da área técnica que trabalhavam em projetos previstos para os próximos anos.
A JHSF afirmou que não fará mais cortes. Na Even, as demissões foram anunciadas juntamente com a contratação de 70 postos de trabalho nos canteiros de obra.
Segundo as próprias construtoras, o setor entrou em um período de ajustes de custos para responder aos efeitos da crise financeira que abalou o mercado de crédito no Brasil. “As demissões fazem parte desses ajustes”, diz Paulo Safady Simões, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
Segundo ele, ao mesmo tempo em que cortam custos, as companhias precisam concluir suas obras para gerar receita. “A saúde financeira dessas empresas não pode ser comprometida.” Para Simões, o governo acertou ao responder com um pacote prevendo até R$ 16 bilhões em crédito ao setor. “Essas linhas de financiamento têm como objetivo gerar caixa para as construtoras concluírem os empreendimentos,” diz.
Analistas do setor afirmam que demissões e revisões de projetos eram previstas, mas que isso afeta a cotação das ações dessas empresas. “Os cortes eram inevitáveis”, diz Sande, da Abyara. Segundo ele, a reestruturação da incorporadora prevê ainda a venda de terrenos e até mesmo de participações em empreendimentos imobiliários. “Vamos anunciar tudo isso e a revisão de “guidance” para baixo nos próximos dias.” “Guidance” é a meta prometida pelas companhias aos investidores. Em geral, ela se refere ao total de lançamentos futuros, permitindo estimar a geração de receita.
Há cerca de dois anos, após se capitalizarem na Bolsa, as incorporadoras e construtoras adquiriram terrenos a alto custo, contando com a permanência do ritmo de crescimento do setor na casa dos atuais 10%. Com a crise, que fez secar o crédito para os empreendimentos, esse ritmo será menor. Alguns economistas já estimam um ritmo entre 2% e 5%. Se confirmado, o setor deverá fechar 2008 com 2,1 milhões empregados, 100 mil a menos que o previsto antes da crise.
“Essa é a pior crise enfrentada pelo setor”, afirma Antonio de Sousa Ramalho, presidente do SintraCon-SP (Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo). “Todas as construtoras estão demitindo.” Segundo Ramalho, a média diária de homologações no sindicato era de 40. “A partir de setembro passou para 150.”