Bancários temem onda de fusões desencadeada por Itaú e Unibanco
Paulo Justus
Os bancários temem o aumento das demissões a partir de uma nova onda de concentração bancária, inaugurada pela fusão do Itaú e Unibanco. “Outras fusões virão, não acreditamos que o Bradesco e os demais bancos vão ficar parados depois dessa fusão”, diz o secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro.
Segundo Cordeiro, a fusão põe em risco o emprego de parte dos 80 mil funcionários dos bancos (52 mil do Itaú e 28 mil do Unibanco). Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra uma redução significativa nas vagas nos maiores bancos adquiridos pelo Itaú até 2003. Dos 5.624 empregados do Banerj, adquirido em 1997, restaram 2.060. Quando foi adquirido pelo Itaú, em 1998, o Bemge tinha 6.296 funcionários e restaram 584 em 2003. Já o Banestado passou de 8.027 funcionários, em 2000, para 559 em 2003.
“Os cortes ocorreram em vários bancos nesse período, que coincide com as mudanças geradas pelo Plano Real”, afirma Ana Carolina Tosetti, técnica do Dieese. Posteriormente, com a consolidação da holding financeira do Itaú, o número de trabalhadores cresceu, mas em cargos distintos, como promotores de vendas e atendentes telefônicos. “Em todo o processo de fusão há cortes, um que nos preocupa atualmente é o do Santander”, ressalta Cordeiro.
A fusão dos bancos surpreendeu os bancários. A Contraf-CUT contatou as bases sindicais dos dois bancos, que vão se reunir em São Paulo na quarta-feira. “Devemos marcar uma reunião com a direção do Itaú na quarta ou quinta-feira”, diz Cordeiro. Os funcionários vão exigir a garantia dos empregos depois de consolidada a associação. “Se o banco afirma que acredita no desempenho do País e a fusão vem para preservar a saúde do sistema financeiro nacional em meio à crise, nada mais justo que preservar também os empregos.”
A Contraf-CUT pretende também se reunir com representantes do Banco Central (BC) e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Queremos incluir nas exigências para a conclusão do negócio garantias para os trabalhadores”, diz Cordeiro. Segundo ele, a proposta será similar à que os funcionários do Santander estão propondo. “A idéia é fazer com que o banco reaproveite os talentos internos, em vez de realizar novas contratações no futuro.”
Hoje, os bancários devem aproveitar uma manifestação da CUT contra a retenção do crédito bancário para discutir o impacto da fusão. “A fusão tem tudo a ver com o debate porque deixa o setor mais próximo de um cartel, prejudicial ao consumidor”, diz Cordeiro. Metalúrgicos e bancários ligados à CUT vão se concentrar em frente à sede do Banco Real.