Projetos do setor no Brasil chegam a US$ 39,9 bilhões até 2013
Daniele Carvalho e André Magnabosco
A ameaça de uma recessão mundial preocupa executivos de empresas de siderurgia e papel e celulose, que já haviam planejado pesados investimentos para acompanhar o aquecimento da demanda mundial pré-crise. Os grandes grupos siderúrgicos – que planejavam investir no Brasil US$ 39,9 bilhões até 2013 – evitam divulgar estimativas para seus negócios nos próximos meses. Mas o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) já admite que podem ocorrer ajustes nos planos das empresas, embora ainda estejam sendo apurados os reflexos da crise financeira na demanda por aço.
“É difícil fazer qualquer tipo de projeção, mas não há dúvida de que o impacto da crise vai respingar na economia real. Se grandes montadores que atuam no País resolverem, por exemplo, dar férias coletivas a seus funcionários porque as exportações já não estão no nível esperado, haverá redução do consumo interno de aço”, avalia o vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello Lopes. Ele acrescenta, no entanto, que a entidade ainda não reuniu informações para uma revisão de investimentos.
Ontem, o presidente da ArcelorMittal no Brasil, José Armando de Figueiredo Campos, admitiu que a companhia poderá reduzir sua produção no País, caso haja redução de demanda por aço. “Não faz sentido manter a oferta quando a demanda cai”, disse. Ele acredita que a crise pode levar a empresa a adiar a definição sobre o orçamento da companhia em 2009.
“Agora é momento para esperar e avaliar o mercado”, disse. Caso seja necessário, a siderúrgica poderá fazer um orçamento apenas para o primeiro trimestre do ano, até que as perspectivas mundiais fiquem mais claras. Apesar da cautela, o executivo informou que o acesso a crédito de longo prazo continua aberto, mesmo com a crise. “Os bancos de desenvolvimento querem bons projetos de longo prazo”, afirmou.
O receio dos investidores ainda não bateu às portas da diretoria de Infra-Estrutura e Insumos Básicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com o diretor da área, Wagner Bittencourt, até agora não houve qualquer pedido de cancelamento ou adiamento de pedidos de créditos em avaliação pelo banco.
“Estamos fazendo um acompanhamento constante, mas os números até setembro não mostram redução, nem mesmo, no número de consultas”, diz. Apesar do momento ser de cautela mundial, ele acredita que os projetos voltados para o setor de insumos básicos não devem ser revistos. “Alguns setores sentirão mais os reflexos da crise que outros. Mas, a nosso favor temos o fato de o Brasil ser muito competitivo na mineração, siderurgia e na produção de papel e celulose. A tendência é que quem seja menos competitivo do que nós perca mais”, acrescenta o diretor.
CELULOSE
No caso da indústria brasileira de papel e celulose, a opção pela redução da oferta como forma de equilibrar oferta e demanda no mercado internacional parece estar mais bem definida. “Ajuda mais (a retomar o equilíbrio do mercado) cada um fazer uma administração de sua capacidade do que uma guerra sangrenta de preço”, disse na semana passada o presidente da Votorantim Celulose e Papel (VCP), José Luciano Penido.
Já Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose, defendeu que as empresas tomem uma decisão pontual, de forma a garantir uma redução nos estoques mundiais. “Essa é uma situação conjuntural, de dois, três ou quatro meses. Apesar disso, o setor permanece muito otimista”, disse.
Caso decidam efetivar a intenção de limitar a oferta de celulose, no entanto, é provável que a alternativa não seja implementada a tempo de evitar ao menos mais uma redução nos preços em 2008. No mês passado, o preço lista da celulose caiu US$ 20 por tonelada nos mercados da Europa e da América do Norte. Na Ásia, a queda foi de US$ 30 por tonelada.
Mesmo com esse cenário, Bittencourt, do BNDES, mostra-se confiante no que diz respeito à manutenção dos projetos de infra-estrutura. “Acredito que não teremos muitas mudanças”, disse.
COLABOROU NATÁLIA GOMEZ
FRASE
Marco Polo de Mello Lopes
Vice-presidente do IBS
“Não há dúvida de que o impacto da crise vai respingar na economia real. Se grandes montadores que atuam no País resolverem, por exemplo, dar férias coletivas porque as exportações já não estão no nível esperado, haverá redução do consumo interno de aço”