Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Banco Mundial e FMI vêem aumento da pobreza

José Meirelles Passos – Correspondente

WASHINGTON. A crise deflagrada nos últimos meses pelos aumentos dos alimentos e do petróleo, somada aos primeiros impactos da atual crise financeira, já provocaram um enorme retrocesso nos avanços que os países em desenvolvimento haviam realizado.

Por causa daqueles fenômenos, nada menos do que 100 milhões de pessoas voltaram à pobreza este ano.

– E o número vai crescer! – afirmou o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, depois de revelar a cifra.

Segundo ele, a rapidez e a intensidade do aumento daquele índice vão depender da agilidade e profundidade das ações que sejam tomadas pelos países ricos para conter a crise.

– Essa é uma catástrofe construída pelo homem.

As ações e respostas para superá-la estão em nossas mãos.

Nós devemos garantir, também, que, ao mesmo tempo em que os governos voltam sua atenção para os seus problemas internos, eles não dêem um passo para trás em seu compromisso de aumentar a ajuda aos países necessitados – ressaltou Zoellick ao fim da longa reunião do Comitê de Desenvolvimento do Bird e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Dominique Strauss-Kahn, diretorgerente do Fundo, que dois dias antes já havia dado um puxão de orelhas nos países ricos – lembrando que, apesar de terem prometido milhões de dólares em ajuda aos mais pobres, ainda não tinham colocado o dinheiro à disposição destes -, também definiu a crise financeira como uma catástrofe. Segundo ele, a crise vai triplicar os problemas que já haviam sido provocados pela alta nos preços de alimentos e petróleo.

– A crise financeira acrescenta uma crise às crises que já existiam. Ela é um furacão diferente para os países do Caribe, por exemplo. Ao nos concentrarmos na crise financeira não podemos nos esquecer das outras duas – afirmou Strauss-Kahn.

Ele revelou ainda que, nas últimas semanas, “aumentou incrivelmente o número de países solicitando ajuda financeira ao FMI”.

Zoellick, a seu lado, afirmou que os países em des envolvimento correm o risco de ser derrotados em seus esforços para melhorar o nível de vida de sua população, devido a uma prolongada contração no crédito ou uma sustentada desaceleração global.

– Os grupos mais pobres e vulneráveis correm os riscos mais sérios de sofrer mais com essas crises. Em alguns casos, os danos poderão ser permanentes – advertiu o presidente do Bird.

O organismo tem uma lista de 28 países que podem enfrentar dificuldades financeiras, como Jordânia, Líbano, Camboja, Sri Lanka, Jamaica, Haiti, Etiópia, Nepal e Costa do Marfim.

– Os fluxos de ajuda precisam ser mantidos. O encontro de hoje foi unânime nesse ponto – afirmou Zoellick.

“Essa é uma catástrofe construída pelo homem.

As ações e respostas para superá-la estão em nossas mãos Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial (Bird)

Menos investimentos para emergentes

Segundo associação mundial de banqueiros, porém, Brasil receberá mais recursos

José Meirelles Passos Correspondente

WASHINGTON. O impacto imediato e a curto prazo da crise financeira nos mercados emergentes, em geral, e na América Latina, em particular, deverá ser menor do que teme a maioria de seus governos – revelou ontem um levantamento realizado pelo Institute of International Finance (IIF), que reúne os 390 maiores bancos do mundo. Isso porque os emergentes, que em 2009 continuarão sendo responsáveis por quase todo o crescimento da economia mundial, serão os países mais atraentes para os investimentos.

Para o Brasil, porém, a expectativa da entidade é de alta no fluxo de capital privado líquido em 2009 para US$ 53,8 bilhões, ante US$ 46,1 bilhões em 2008. Em 2007, o valor foi de US$ 85,2 bilhões. Já para investimentos em bolsas, a previsão é que o montante chegue a US$ 10 bilhões em 2009, ante US$ 5 bilhões em 2008 e US$ 24,8 bilhões em 2007. O aporte de investimentos estrangeiros diretos deve chegar a US$ 12 bilhões em 2009, ante US$ 11 bilhões em 2008 e US$ 15,9 bilhões em 2007.

“A perspectiva de retorno (lucros) nos mercados emergentes continua parecendo mais atraente do que em mercados mais desenvolvidos”, diz um trecho do informe divulgado na reunião anual do IIF, na capital americana.

Bill Rhodes, presidente e executivo chefe do Citicorp, e vice-presidente do IIF, confirma o cenário para os emergentes: – Muitos dos emergentes instituíram reformas-chave e políticas macroeconômicas prudentes, que os tornaram mais resistentes do que no passado. Muitos deles estão bem posicionados para suportar as tempestades.

Aumento de fluxos privados na América Latina Apesar disso, a entidade prevê redução no fluxo de capital privado para os países emergentes.

Em 2007, essas economias tinham recebido US$ 900 bilhões. O montante estimado para 2008 é de US$ 619,2 bilhões, ante uma previsão de US$ 730 bilhões feita em março.

No ano que vem, quando as consequências da crise serão mais notórias, o volume deverá ser de US$ 561,9 bilhões.

A cifra de investimentos diretos, no entanto, terá uma retração bem menor: cai de US$ 287,6 bilhões em 2008 para US$ 282,3 bilhões em 2009.

As perspectivas são ainda melhores para a América Latina.

Os fluxos privados em geral vão aumentar de US$ 111,6 bilhões este ano para US$ 114,6 bilhões em 2009. Em termos específicos de investimento direto, a queda será mínima: o fluxo será reduzido em apenas US$ 500 milhões, baixando de US$ 60,2 bilhões para US$ 59,7 bilhões. A maior razão para a desaceleração do influxo de capitais nos emergentes é a substancial redução dos empréstimos feitos por bancos internacionais.

– Essa é a crise mais séria em meus 50 anos como banqueiro.

Nem a crise da dívida dos anos 80 nem a da Ásia, nos 90, provocaram uma erosão de confiança no mercado como a de agora – disse Rhodes.

Já o presidente do IIF e do Deutsche Bank AG, Josef Ackermann, afirmou que a categoria está consciente dos erros cometidos e do que é preciso fazer para corrigi-los. Ele disse ainda que o momento atual é fundamental para o futuro dos mercados: – Esta noite (de domingo) e a manhã da segunda-feira são momentos muito cruciais – apontou Ackermann. – Acredito que temos que fazer o que for necessário para trazer a confiança de volta, ainda que seja um pouco artificial com ajudas de governos e garantias.