Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Empresas começam a rever investimentos

Coreana Hyundai adia planos para a construção de uma fábrica de máquinas pesadas no Brasil

A coreana Hyundai anunciou ontem que está revendo seus planos de construir uma fábrica de máquinas pesadas no Brasil. “Com a escassez de crédito, as chances de se construir uma fábrica diminuem”, diz Felipe Cavalieri, diretor da BMC, braço de máquinas da Hyundai no Brasil. “Porém, a alta do dólar torna mais necessária a produção interna, e é isso que vamos discutir com a matriz. É um momento de cautela.”

A posição da Hyundai ilustra o momento que atravessam praticamente todas as empresas no País. Quem não cancelou investimentos, faz, no mínimo, uma pausa para reavaliar o quadro, diante das incertezas no mundo econômico. “A única certeza é a de que 2009 será pior que este ano”, diz o diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini. “Mas, o quanto, ainda não sabemos.”

A empresa indiana Reliance, que negocia a instalação de uma fábrica de resinas plásticas e têxteis no complexo portuário de Suape, é outra que está revendo sua posição. O grupo pediu “alguns dias” ao governo de Pernambuco para dar continuidade à negociação. O projeto envolve investimentos de US$ 1,5 bilhão.

O adiamento é para avaliar melhor o cenário da turbulência nos mercados financeiros dos EUA e da Europa e reavaliar seus planos de expansão. A informação é do secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho.

O Grupo Orsa, um dos maiores do setor brasileiro de embalagem de papelão e celulose, decidiu segurar um plano de aumento de capacidade de produção das fábricas programado para os próximos três meses. O projeto consumiria R$ 30 milhões mas, diante do “momento preocupante”, conforme define o presidente da empresa, Sérgio Amoroso, a decisão foi esperar mais um pouco.

Para 2009, um novo aporte de R$ 80 milhões estava previsto, mas também será postergado. “A crise vai pegar todo mundo”, prevê Amoroso. O grupo Orsa fatura US$ 800 milhões, dos quais cerca de 40% com exportações. Segundo o executivo, vários importadores da China e da Europa cancelaram parte dos pedidos, temendo a desaceleração da demanda em seus países.

NA GAVETA

“Em cenário de incertezas, projetos de investimento de longo prazo ficam na gaveta, principalmente aqueles que dependem de capital de terceiros”, afirma Francisco Barone, coordenador do Centro de Empresas – Small Business – da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A crise preocupa a direção da Marcopolo, pelos desdobramentos que pode ter sobre os mercados. A empresa é uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo, com sede em Caxias do Sul (RS) e filiais na Rússia, Portugal, África do Sul, México, Colômbia e Argentina.

“Os negócios seguem seu ritmo normal, mas estamos avaliando a situação”, diz o diretor de relações com investidores, Carlos Zignani. Como a análise deve demorar, a conclusão do planejamento para 2009, prevista para o fim de setembro, foi adiada até a situação do mercado ficar mais clara. Um dos reflexos da crise internacional já percebidos pela Marcopolo são as linhas de crédito para exportação, que ficaram mais caras e seletivas. “Não temos tido dificuldade para obter financiamentos, mas o custo está mais elevado”, constata Zignani.

A Marcopolo mantém investimentos em duas novas unidades industriais no exterior, com recursos próprios e financiamentos tomados com instituições locais. A fábrica da Índia, que custou US$ 100 milhões, está praticamente pronta. A do Egito, de US$ 50 milhões, entra em operação em 2009.

O presidente da Positivo Informática, Hélio Rotenberg, afirma que a empresa, com sede em Curitiba (PR), mantém otimismo para as vendas de fim de ano. Mas, a partir daí, será preciso avaliar a influência da crise sobre a classe C, onde está a maioria dos clientes do setor. “Por enquanto, o Brasil é um dos menos afetados”, diz. Mas o consumidor não deve esperar que os preços continuem os mesmos depois das oscilações no câmbio. “Sem dúvida, há pressão de aumento.”

Apesar das dificuldades enfrentadas pela matriz nos EUA, a fabricante de baterias Johnson Controls, com fábrica em Sorocaba (SP), tem apoio da sede para manter o investimento de US$ 13 milhões previsto para 2009. “É dinheiro gerado aqui, com recursos próprios, que deixará de ser enviado à matriz”, explica Alex Pacheco, gerente de vendas da empresa.

ANA PAULA LACERDA, ANGELA LACERDA, CLEIDE SILVA, ELDER OGLIARI, EVANDRO FADEL E MÁRCIA DE CHIARA