Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Negociação permanente

José Pereira dos Santos

A democracia moderna incorporou a negociação como uma ferramenta permanente. Vivemos num mundo de interesses contraditórios. Exatamente por isso, ou seja, para evitar conflitos ou resolver situações geradas por conflitos, é que a negociação se faz tão importante.

Mas, como tudo na vida, a negociação tem seus requisitos. O primeiro é a disposição, sincera, de negociar. A segunda é que as partes tenham legitimidade para negociar, selar pactos ou firmar acordos. E a terceira é que, numa negociação, as partes podem – ou devem – ceder no que for cabível e legítimo.

No geral e no particular, diariamente, assistimos ao sucesso ou ao fracasso da negociação. Um caso geral é o da atual greve de 35 categorias de Servidores federais. O tempo está mostrando o erro primário do governo ao não ouvir as reivindicações, não entender a situação concreta e não negociar em condições aceitáveis.

Um caso particular acaba de acontecer na empresa Cummins, que tomou uma decisão unilateral, que mexia no bolso do trabalhador, reduzindo drasticamente o valor da PLR (Participação nos Lucros e/ou Resultados) dos mais de mil funcionários. Os trabalhadores ficaram revoltados, e deu a lógica: greve.

Ao tomar uma medida unilateral, a empresa não contava com dois fatores concretos. Primeiro, a reação imediata dos funcionários. Segundo, a postura firme do Sindicato em não aceitar o corte no benefício que há anos vem sendo praticado. Se levasse esses fatores reais em consideração, e adotasse a negociação, a Cummins não teria sofrido a greve, evitando o desgaste inevitável de seu próprio erro.

Todos aprendemos com a negociação e também com o conflito. Essa compreensão eleva nosso entendimento a um novo patamar. E esse fato, se observado e seguido, evita maus passos ou a repetição de erros do passado.

Ulisses Guimarães dizia que, na política, não devemos ser tão amigos a ponto de não poder brigar; nem tão inimigos a ponto de não poder reconciliar. Esse ensinamento, do político vivido e astuto, traz implícito o princípio da negociação. Ele mesmo, Ulisses, corajoso adversário da ditadura, tantas vezes se sentou à mesa com adversários e negociou, sabendo que, dali, tanto poderiam surgir avanços como recuos.

Penso que essa regra vale na política, no sindicalismo e também na nossa vida pública ou pessoal. E vale, principalmente, porque é uma postura baseada em um princípio. O princípio da negociação, do respeito e da convivência com posições contrárias às nossas.

José Pereira dos Santos é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região