Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Trabalhador muda mais de emprego

Valor Econômico

Por Carlos Giffoni | De São Paulo

O aquecimento do mercado de trabalho e a falta de mão de obra em alguns setores estão levando os trabalhadores a trocar mais de emprego. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o índice de pessoas que fica menos de um ano no emprego vem aumentando desde 2006. Por outro lado, cai o índice de profissionais que estão há mais de cinco anos no mesmo trabalho. Esse movimento é visível na taxa de rotatividade calculada pelo ministério, que aumentou cerca de 30% desde 2006.

Em 2011, 19,8 milhões de trabalhadores foram desligados (demitidos ou a pedido) e outros 21,8 milhões foram admitidos, indicando que 55% do total de vagas existentes no mercado de trabalho no final de 2010 “trocou” de ocupante ao longo do ano seguinte. Esse índice, conhecido como taxa de rotatividade, era de 42% em 2006.

Em abril de 2012, último dado disponível, 16,7% dos trabalhadores estavam no máximo há um ano no atual emprego (considerando a população ocupada em empregos formais). A fatia de profissionais nessa condição vem aumentando. Em 2006, eles eram 13,3% do total.

Fabio Romão, da LCA Consultores, acredita que a formalização do mercado de trabalho contribui para que esse resultado se acentue. “O aumento do emprego formal incorporou muitos trabalhadores nas estatísticas do MTE. E eles [os trabalhadores que foram formalizados ] normalmente estão há pouco tempo no emprego. Na maior parte, são pessoas de nível de instrução e qualificação mais baixos, o que, no passado, dificultava que elas tivessem a carteira assinada.”

Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de ocupação sem carteira de trabalho assinada no setor privado passou de 14,6% para 10,5% entre os meses de abril de 2006 e deste ano, enquanto os com carteira assinada, que representavam 41,7% dos ocupados, hoje são 48,9%, na mesma comparação.

O economista da LCA explica que a escassez de mão de obra em alguns segmentos do mercado de trabalho força o empregador a ocupar essas vagas formais com profissionais que, muitas vezes, não estão preparados para o cargo. “O empresário não tem escolha. Esse grupo de pessoas, que entra no mercado de trabalho formal, é o principal responsável pelo aumento da rotatividade”, diz Romão.

Para Romão, o setor de serviço doméstico no Brasil ilustra bem esse movimento. “O empregado doméstico claramente migrou para outros serviços. Existe a questão de status, mas, principalmente, esse profissional está buscando ter a carteira assinada, o que é raro nessa ocupação.” Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009, do IBGE, apenas 26,8% dos trabalhadores domésticos eram formalizados.

Na outra ponta, cai o índice de trabalhadores que estão há mais de 60 meses no emprego. Em abril de 2006, eles eram 41,9% dos ocupados formais, segundo o MTE. Em abril deste ano, 36,4%. “É cada vez mais raro uma pessoa fazer carreira dentro da empresa. O funcionário sobe alguns postos e consegue migrar”, diz Luiz Scorzafave, professor da Faculdade de Economia da USP em Ribeirão Preto. Ele explica que um mercado de trabalho aquecido como o brasileiro permite que as pessoas estejam sempre atentas a novas oportunidades. “Baixo desemprego e pressão salarial aumentam a rotatividade.”

Entre abril de 2006 e igual mês em 2012, a taxa de rotatividade no mercado de trabalho no Brasil cresceu 29,5%. De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em abril deste ano, 4,13% do total de 38,3 milhões de vagas formais passaram por um “rodízio” de profissionais nesse período – um trabalhador saiu e outro o substituiu. Em abril de 2006, essa “troca” envolveu 3,2% das vagas.

Correr esse risco depende do cenário macroeconômico, na avaliação de Scorzafave. “A alta rotatividade tende a se acomodar de acordo com a economia do país. Quando o desemprego começa a crescer, as pessoas param de trocar de emprego”, diz.

A alta rotatividade de um trabalhador pode dificultar a sua ascensão no emprego. Isso ajuda a explicar como é na mão de obra menos qualificada – e que recebe menores salários – onde se concentra a maior parte desse rodízio. Está aumentando a fatia de trabalhadores que ganha até dois salários mínimos entre aqueles que ficam até 12 meses. Em abril deste ano, 86,5% dos trabalhadores que estavam há menos de um ano no trabalho se concentravam nessa faixa salarial.

Romão não descarta que a diferença entre gerações contribui para o aumento da taxa de rotatividade. “Quem entra no mercado de trabalho hoje não viveu um histórico de inflação alta e incertezas quanto ao futuro, isso acaba deixando a pessoa com mais disposição a arriscar”, explica.

O custo do trabalho tem aumentado não somente via salários, devido à escassez de mão de obra, mas também devido à alta rotatividade, para Romão. Ele explica que o empregador precisa gastar mais com treinamento e, em alguns casos, contrata pessoas menos aptas àquela atividade do que as que ocupavam os mesmos cargos anteriormente. “O custo do trabalho aumenta sem que haja ganho de produtividade”, explica.

Apesar de o emprego formal no Brasil mostrar uma evolução na taxa de rotatividade e de haver perda de participação daqueles que estão há mais tempo no mesmo emprego, a PME mostra um movimento diferente nas seis regiões metropolitanas analisadas pelo IBGE. Desde 2002, quando a série foi iniciada, verificou-se um aumento de 14,1% no tempo médio de permanência do trabalhador no mesmo emprego. Em abril deste ano, ele estava em 358,9 semanas (cerca de sete anos), resultado próximo ao recorde apurado em fevereiro deste ano, de 359,1 semanas.

Adriana Beringuy, técnica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, acredita que a menor abrangência geográfica da pesquisa e a incorporação do trabalho informal na pesquisa explicam essa diferença entre os dados. “Os trabalhadores sem carteira assinada ou que não têm vínculo empregatício em regime de CLT, como quem trabalha por conta própria, somam 7 milhões entre os 22 milhões que compõem a população ocupada na PME. O aumento do tempo médio de permanência no emprego desses grupos, que não são considerados pelo Ministério do Trabalho, têm peso grande no resultado da pesquisa”, explica.