Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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´A falta de zelo com o pobre me incomoda mais que o trânsito´


Folha de S.Paulo

ELVIS PEREIRA

“Rico não precisa de governo”, dispara Paulo Pereira da Silva, 56. À frente da Força Sindical desde 1999, uma das principais entidades de trabalhadores do país, pretende se candidatar à prefeitura pela segunda vez. “A prioridade tem de ser a periferia.” Deputado federal no segundo mandato, ele afirma que a pré-candidatura pelo PDT está firme. “Não tenho feito campanha e, mesmo assim, tenho uns votinhos na pesquisa [Datafolha].”

Paranaense, mudou-se para a zona norte de São Paulo há 36 anos, após se machucar jogando futebol e desistir do esporte. Tentou, sem sucesso, arrumar emprego em jornais e, por fim, tornou-se metalúrgico e envolveu-se com o movimento sindicalista. “Fui militar mais para brigar com a polícia do que para militar mesmo”, conta o hoje morador da Mooca, na zona leste.

Questionado sobre o que acha da gestão Gilberto Kassab (PSD), responde: “Levando em conta que é meu amigo e não vou falar mal de ninguém, ele cometeu os erros de pôr coronel nas subprefeituras e de, sendo prefeito, fazer um partido”.

Confira os resultados da mais recente pesquisa Datafolha em folha.com/no1056761

raio-x

FORMAÇÃO: ensino médio completo

FILIAÇÃO: PDT; já foi do PTB

CARGOS PÚBLICOS: deputado federal em seu segundo mandato seguido; disputou a prefeitura em 2004 e ficou em quarto lugar

ANTES DA POLÍTICA: foi metalúrgico e presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes. Desde 1994, preside a Força Sindical

PESQUISA DATAFOLHA: em seu melhor cenário, está em quarto lugar, com 10% dos votos

Como começou sua relação com SP?
No Paraná, meu negócio era jogar futebol, mas me machuquei e vim para São Paulo. Fui ser metalúrgico. Como eu ia jogar futebol e tinha briga, achei legal aquele negócio de brigar com a polícia. Aí, fui militar mais para brigar com a polícia do que para militar mesmo.

O que mais o agrada na cidade?
São Paulo tem oportunidades: se você quiser trabalhar, aqui é o lugar.

E o que mais o incomoda?
A desigualdade. A periferia está abandonada, falta moradia digna. Não me incomoda nem o trânsito, mas essa falta de zelo com os pobres. É preciso encontrar uma alternativa para que o cara da favela possa continuar morando ali.

Mas e o trânsito?
Também me incomoda, mas a desigualdade é o problema. O trânsito incomoda porque, quando você está parado ali, é infernal. Dez reuniões [num dia] em Brasília você faz numa boa. Em São Paulo, o trânsito não deixa chegar.

Como se locomove na cidade?
Uso um carro da GM. É da Força, não é meu. Tinham comprado um Corolla, mas me disseram que o Corolla é importado. Como venho falando muito mal de importado e acho que temos de fazer uma campanha contra a importação, mandei vender e comprar esse da GM [ambas marcas têm montadora no Brasil].

Já utilizou transporte público?
Usei, mas não uso mais. Brinco que já trabalhei a pé, de bicicleta, de ônibus, de trem e agora de avião. Fiquei chique.

Usa algum outro serviço público?
Não. Plano de saúde é da Força Sindical.

Se ganhar, vai recorrer ao helicóptero para escapar do trânsito?
Se o prefeito anda de helicóptero, é porque a situação é ruim. Não tenho nada contra quem anda de helicóptero. Acho que precisaria trabalhar com esforço para resolver o problema do trânsito…

Então, vai usar também?
Não vou dizer que não, porque depois alguém cobra. Infelizmente, tem de usar.

Há projetos de outras cidades que podem ser adotados aqui?
Conheço cidades da Europa que têm o negócio do metrô. Mas é muito caro…

Algum outro exemplo?
Há cidades que foram planejadas, como Curitiba. São Paulo é complicada. Dizer que vai resolver o trânsito é mentir para as pessoas. É uma cidade para trabalhar e, daqui a 20 anos, ter solução.

Derrubaria o Minhocão?
Para tirar o Minhocão, tem de fazer um túnel. Sem isso, seria uma loucura.

A cracolândia tem solução?
Do jeito que ocorreu a intervenção da prefeitura [em janeiro] foi uma loucura. Não imagino tratar drogado na porrada.

Quem foi o melhor prefeito?
A Marta Suplicy [2001-2004] implantou o Bilhete Único, os corredores de ônibus. O Serra [2005-2006] implantou coisas que eu defendia em 2004, como iluminação em campos [de futebol] na periferia… Não dá para dizer quem foi o melhor. Todos fizeram alguma coisa que chama a atenção em alguma área.

E o pior?
O [Celso] Pitta [1997-2000] foi muito mal. Não fez nada certo.

Como avalia a gestão Kassab?
Levando em conta que é meu amigo e não vou falar mal de ninguém, cometeu os erros de pôr coronéis nas subprefeituras e de, sendo prefeito, fazer um partido. Não teve tempo para a cidade.

Restrições como a Lei do Psiu podem tirar a vocação boêmia de SP?
Em alguns bairros não há como ter Psiu: Vila Madalena, Itaim Bibi. Quem mora lá tem de saber que vai ser assim. Em alguns lugares, tem de permitir [a boemia], até porque tem emprego.

Tem medo de São Paulo passar vergonha na Copa?
Quem vem para cá são pessoas da Europa, acostumadas com outro nível de vida. Imagine a abertura da Copa no Itaquerão com a Radial Leste às 18h…

Se for eleito, qual será sua marca?
Tenho chances de ganhar a eleição e não vou brincar com isso. Há problemas graves, como na saúde. Trabalharia ainda para implantar a educação em tempo integral e daria atenção à moradia.

O que não vai faltar no gabinete?
Cachaça. Sem cachaça não dá para trabalhar. [O assessor sugere gabinete de portas abertas.] Então, vamos abrir a prefeitura para as pessoas.