Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Sindicato dos Metalúrgicos de Cruzeiro chega aos 56 anos



Cruzeiro na década de 1950

Movimento intenso na Estação Central. Trens chegam de Minas, do Rio e de São Paulo. O entroncamento é o mais importante da região.Gente chegando para negócios, em busca de empregos ou simplesmente fazendo baldeação. Não só de passageiros chegam lotados os vagões. Há ainda os boiadeiros parados diante da plataforma de desembarque do Frigorífico Cruzeiro.Na mesma direção, na Rua 2, são imensas as filas de caminhões lotados de bois. O frigorífico é um dos maiores do País. Também chegam os caminhões de leite para a usina da Vigor.  A FNV (Fábrica Nacional de Vagões) inaugura suas instalações e a presença do presidente Juscelino Kubitschek enche os cruzeirenses de orgulho.

A cidade conta pouco mais de 40 mil habitantes. A zona urbana avança pelos morros da Washington Beleza, do Jardim América e da Paulo Romeu. A Vila João Batista, a mais velha, já não está sozinha na periferia. O comércio de tecidos e gêneros alimentícios cresce em ritmo acelerado. No silêncio da noite, a zona do meretrício traz homens de todos os lados e faz lotar os vagões noturnos. Poucos são os táxis. As charretes cruzam a cidade como principal meio de transporte. Nelas, desaconselhável  mulheres de família sem um acompanhante, além do charreteiro. Afinal,podem ser confundidas com as da zona.

A cidade respira cultura. Três cinemas e teatros. O Cine Palácio está em construção. A maestrina Olga Caputo funda o Coral Branco, aplaudido de pé no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.  Na educação, a inauguração do prédio da Escola Oswaldo Cruz é o grande marco. Começam as obras do Oratório Salesiano e do Sanatório Jesus. O antigo Jardim Público ganha novo formato e se transforma em Praça 9 de Julho. A fonte luminosa é a grande atração. O estádio Rosalina Novaes está prestes a ser demolido e já se projeta a maior praça da região, a Anthero Neves Arantes, a Nova. É inaugurado o Mercado Novo.

Na política, Avelino Júnior consolida o posto de maior liderança de todos os tempos. O líder mobiliza o povo e realiza o histórico mutirão popular para a construção da adutora do Rio do Braço. Começa um “reinado” de duas décadas.

O SURGIMENTO DO SINDICATO

Os fatos que narramos retratam a Cruzeiro da década de 1950, uma das fases mais marcantes da história local. Nesse contexto de desenvolvimento, um grupo de trabalhadores da FNV, liderado por João Roque, o “Onça”, decidiu fundar, no dia 26 de novembro de 1955, a Associação dos Metalúrgicos de Cruzeiro, mais tarde transformada em sindicato. A primeira sede foi na Associação 12 de Outubro.  Desde a fundação até hoje, o movimento sindical em Cruzeiro foi marcado por quatro períodos: o da quase clandestinidade, o da transição, o do chamado radicalismo dos anos 70 e, finalmente,o moderno.

A QUASE CLANDESTINIDADE

Na década de 1950, influenciado pelos movimentos ocorridos na Polônia, na Alemanha e nos Estados Unidos, o sindicalismo brotava no Brasil. Numa época de parcos recursos técnicos, prevalecia a força braçal.Pouco reconhecido, o trabalhador se contentava apenas em ter a carteira assinada.  Os poucos direitos eram como favores patronais. Aqueles que se dispunham à organização da categoria eram taxados de baderneiros, anarquistas ou comunistas. Geralmente, recebiam o aviso prévio, uma forma de opressão encontrada pelos patrões para aniquilar a organização trabalhista.

Mesmo sabendo dos riscos que corriam, os operários liderados por João Roque ousaram enfrentar o desafio. Nos primeiros anos da associação, as reuniões ocorriam às escondidas.

– Tinha que ser daquele jeito. A gente até se achava mesmo comunista, tinha que trabalhar na surdina, tentando convencer os demais trabalhadores, trabalho no pé do ouvido mesmo.Depois é que os companheiros foram se encorajando e o movimento sindical cresceu e se fortaleceu – afirmou o fundador.

TRANSIÇÃO

João Roque presidiu o sindicato de 1955 a 1960. Nos cinco anos seguintes, a presidência foi ocupada por Pedro de Oliveira. Em 1965, na ditadura militar, João Pedro assumiu o comando e foi sucedido por Agostinho Elizei a partir de 1968 até 1975.

João Pedro e Elizei viveram o período de transição entre a fundação, a resistência às imposições da ditadura e o surgimento do sindicalismo de força, o chamado radicalismo sindical. Foi nesse clima que surgiu José Firmo, eleito em 1975 para o mandato mais longo da história do sindicato, dezenove anos no poder.

O RADICALISMO

Piquetes nos portões das empresas, greves, protestos e confrontos marcaram os movimentos sindicais dos anos 70 e 80. Patrões e empregados, quando sentados à mesma mesa, cruzavam olhares de inimigos. Raras as exceções. Poucos acordos foram firmados sem que antes houvesse as manifestações da massa trabalhadora. Nas duas décadas, os movimentos sindicais também extrapolaram as conquistas de direitos trabalhistas. Estava em jogo também a redemocratização do País. A luta pelas liberdades individuais teve como forte aliada a classe trabalhadora organizada. Foi o momento de crescimento da atividade sindical.

A liderança nata de José Firmo se enquadrou perfeitamente nesse período da história sindical. As greves e as manifestações lideradas por ele, notadamente a de dezembro de 1986, projetaram o sindicato local no cenário paulista. Já não se falava em sindicalismo sem que Cruzeiro fosse citada. Foi o trampolim para José Firmo também se projetar. De presidente do sindicato local foi a secretário e posteriormente a presidente da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo. Também ocupou outras funções de relevância. Hoje, aposentado, Firmo mora em Soledade de Minas, sua terra natal.

– Não classifico aquela fase de radical. As greves foram uma reação dos trabalhadores à forma como eram tratados pelos patrões e pelo governo. Fazer sindicalismo naqueles tempos era difícil e exigia muita coragem para enfrentar os patrões, a polícia e as opressões da ditadura. Valeu porque hoje podemos comemorar inúmeras conquistas para os trabalhadores e para o País. É um orgulho para todos nós. – afirmou Firmo.

SINDICALISMO MODERNO

Passada a fase da turbulência política brasileira e iniciada a mudança do perfil empresarial, surgiu nos anos 90 o chamado sindicalismo moderno, capaz de colocar patrões e empregados como parceiros. Foi com esse conceito que José Odário assumiu a presidência em 1994. Nenhuma greve, nenhum confronto. Negociação, a palavra chave. “Trabalhadores e patrões entendem que o diálogo é o melhor caminho e, dessa forma, todos ganham”. Odário presidiu o sindicato por doze anos.

Em 2006, José Odário foi substituído por Jumar Batista da Silva, que também defende o diálogo.

– O exemplo do diálogo é que, neste ano, por mais uma vez, conseguimos excelentes resultados nas negociações. Importante destacar que as negociações foram travadas em São Paulo e o nosso sindicato também foi chamado a participar das rodadas de entendimentos. Isso significa o respeito que o sindicato de Cruzeiro conquistou ao longo dos anos no cenário paulista e nacional – frisou Jumar Batista.

Texto – Paulo Antônio de Carvalho
Colaborou – João Bosco Ramos Fuska