Valor Econômico
Andrew Ward e John Reed
Financial Times, de Estocolmo e Londres
A Saab Automobile está oscilando à beira do colapso, pela segunda vez em dois anos, depois que um tribunal sueco recusou o pedido de proteção da empresa em relação aos credores.
O destino da montadora problemática está agora nas mãos dos sindicatos de trabalhadores e dos seus fornecedores, que terão de decidir se a empurrarão para a insolvência a fim de garantir o pagamento de salários e contas não quitados.
Victor Muller, principal executivo da Saab, pediu para os credores “manterem a calma” enquanto a empresa recorre da decisão, divulgada na quinta-feira, do tribunal de primeira instância de Vänersborg de barrar sua tentativa de ingressar no regime de recuperação judicial.
O tribunal disse ver poucas perspectivas de a Saab ressurgir com sucesso de seu plano de reorganização e que, diante disso, não podia aceitar o pleito.
Líderes sindicais que representam os 3,6 mil funcionários da Saab vinham contando com a aprovação do tribunal, já que a medida lhes traria ajuda da parte do programa de garantia salarial do governo sueco.
Stefan Löfven, diretor do grupo sindical IF Metall, manifestou decepção com a decisão e disse que o sindicato pode agora ser obrigado a pressionar pela decretação de falência “dentro de alguns dias”, a fim de habilitar os funcionários a receber ajuda oficial do governo.
No entanto, Fredrik Sidahl, diretor da FKG, entidade central das fornecedoras suecas de autopeças, disse que a insolvência não era do interesse de seus membros. “Se a empresa [Saab] abrir falência, as fornecedoras vão ficar sem nada, enquanto o regime de recuperação judicial lhes permitiria, pelo menos, receber alguma coisa”, disse o executivo ao “Financial Times”.
A montadora luta pela sobrevivência desde que sua controladora anterior, a americana General Motors , ameaçou fechá-la, em 2009, depois de anos de pesados prejuízos.
A GM acabou concordando em vender a empresa para a Spyker Cars, uma minúscula fabricante de carros esporte de alto desempenho fundada pelo empresário holandês Muller.
No entanto, a Saab continuou às voltas com dificuldades, e a produção foi suspensa nos últimos três meses em meio às disputas com as fornecedoras em torno de contas não pagas.
A Saab firmou, em junho, um acordo de venda de uma participação de 30% para duas empresas chinesas, a Pang Da Automobile Trade e a Zhejiang Yougman Lotus Automobile, num contrato de salvamento que supostamente abriria o mercado chinês à Saab.
O plano ainda aguarda a aprovação das autoridades chinesas, e analistas manifestaram dúvidas sobre a possibilidade de sua aprovação. Muller disse ao “Financial Times” que está confiante de que obterá em breve o sinal verde de Pequim.
No entanto, acrescentou, o período entre a prevista aprovação e a injeção de € 245 milhões de (US$ 341 milhões) por parte das duas empresas chinesas era “longo demais” para a montadora sobreviver sem proteção em relação aos credores.
Os automóveis sui generis da Saab, inspirados na aviação – a GM usava o slogan “Nascido dos Jatos” quando controlava a marca – tinham uma clientela cult, mas a montadora sueca sempre foi uma das menores fabricantes para o mercado de massa do setor. As vendas, que alcançaram seu pico de 132 mil unidades em 2006, minguaram para o limite inferior dos cinco dígitos.
O governo sueco assumiu uma atitude de liberalismo econômico com relação às suas duas principais montadoras – a Saab e a Volvo Cars – durante a crise, deixando-as, em grande medida, decidir sua própria sorte por si sós. A Volvo foi comprada no ano passado pela montadora chinesa Geely à Ford, por US$ 1,5 bilhão.