Pesquisa revela que 45% dos acessos à rede no país são feitos nesses locais
Maioria é de jovens do Nordeste e Sudeste com renda de até R$ 1.200 e que desembolsam R$ 2 por hora na internet
CLAUDIA ROLLI
DE SÃO PAULO
Trinta e dois milhões de brasileiros acessam a internet em 107 mil LAN houses espalhadas pelo Brasil, segundo o Comitê Gestor de Internet no Brasil. O que significa dizer que 45% dos acessos à rede no país são realizados por meio desses locais.
São usuários, na maior parte, jovens, com idade entre 14 e 24 anos, que possuem renda pessoal de até R$ 1.200 e trabalham e/ou estudam. Concentram-se em regiões carentes do Nordeste e do Sudeste e desembolsam, em média, R$ 2 por hora para ter acesso a serviços de internet.
Sete em cada dez desses jovens concluíram no mínimo o oitavo ano do ensino fundamental. E 43% deles têm ensino médio completo ou superior incompleto.
Eles trabalham de seis a oito horas por dia, quase a metade deles com carteira assinada, e 77% deles contribuem para a renda familiar.
Os dados, obtidos com exclusividade pela Folha, constam de estudo sobre o perfil dos usuários de LAN houses realizado pela CDI Lan (empresa ligada à organização não governamental Comitê para Democratização da Informática) em parceria com a consultoria Plano CDE, especializada no mercado de baixa renda.
Parte das informações será apresentada hoje em um seminário do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para discutir formas mais eficientes de apresentar serviços e produtos de mais qualidade para os consumidores de baixa renda.
Na América Latina, esse mercado movimenta cerca de US$ 500 bilhões por ano.
EMPREGO E EDUCAÇÃO
“Mesmo sem computador ou sem acesso à internet, esse jovem busca informação e tecnologia fora de sua casa. Utiliza esse serviço, ao contrário do que se pensa, não apenas para jogar”, afirma Luciana Aguiar, antropóloga e diretora da Plano CDE.
Um dos pontos que mais chamam a atenção dos pesquisadores é o fato de um quarto desses jovens usar a LAN house para trabalhar e obter informações sobre emprego e formas de ganhar dinheiro, além de fazer cursos.
No estudo, realizado com 891 usuários de todo o país, 40% deles responderam que investiriam em educação caso tivessem incremento na renda de R$ 500. Em seguida, aparecem as categorias meio de transporte (20%), tecnologia (13%) e consumo pessoal (7%) -vestuário, calçados e higiene pessoal.
“Esse resultado mostra o potencial das LAN houses para oferecer cursos à distância, presenciais, além de crédito e produtos de inclusão financeira. As empresas ainda dão pouca atenção a esses consumidores”, diz Bernardo Farias, diretor da CDI Lan.
Até julho, a CDI Lan deve firmar acordo com empresa de grande porte de educação para iniciar cursos à distância em 20 LAN houses do Nordeste e Centro-Oeste.
Em parceria com o Banco do Brasil, lançou recentemente o programa CorBan, que transforma LAN houses em correspondentes bancários. Hoje são 20 no país.
INCLUIR OS EXCLUÍDOS
Os usuários de LAN houses estão hoje distantes até mesmo do universo das pesquisas. Não estão em painéis de empresas de pesquisa on-line (comScore e Ibope).
“A base da pirâmide passa muito distante dos radares das pesquisas tradicionais. É preciso ir além e procurar inseri-la nesses levantamentos”, afirma Aguiar.
A comScore, empresa líder mundial na medição de audiência digital, registra dados de usuários que acessam a rede em casa ou no trabalho em 45 países. “Nos próximos meses, isso deve mudar, com a inclusão da audiência de LAN houses. O Brasil será um dos primeiros a medir isso”, afirma Alex Banks, diretor da empresa no Brasil.