Empresas podem reduzir a compra de minério de ferro contra tentativa de reajuste de preços
Agências Internacionais, Pequim
As siderúrgicas chinesas estão pressionando a Vale a desistir do novo reajuste no preço do minério que vem sendo pedido pela empresa. De acordo com o Luo Bingsheng, vice-presidente da Associação de Ferro e Aço da China, as siderúrgicas do país podem até boicotar o minério exportado pela Vale se a empresa brasileira insistir no reajuste adicional.
A briga já vem se desenrolando há algumas semanas, depois que a Vale decidiu cobrar um adicional de 11% a 11,5% no preço do minério vendido para as siderúrgicas asiáticas, depois de ter acertado, em fevereiro, reajustes de 65% a 71%, dependendo do tipo de produto. Esse aumento deveria ser válido até o ano que vem.
A Vale diz que a exigência seria uma forma de igualar o preço do minério vendido na China ao que a empresa exporta para a Europa – o desconto dado aos asiáticos vinha sendo justificado, até agora, como uma maneira de compensar os preços dos fretes, mais altos, para a região.
Mas o reajuste extra seria também uma forma de tirar a desvantagem da empresa em relação aos preços cobrados na China pelas grandes rivais da Vale no mercado de minério de ferro, as anglo-australianas BHP Billiton e Rio Tinto. Este ano, as duas empresas quebraram a praxe que vinha sendo seguida nos últimos anos, pela qual o primeiro reajuste fechado por uma mineradora era seguido pelas outras. BHP e Rio Tinto esticaram as negociações com as siderúrgicas asiáticas para bem depois de a Vale ter fechado seu acordo, e conseguiram aumentos de até 100% para o minério.
A justificativa das anglo-australianas para o reajuste maior é o valor do frete menor que as siderúrgicas têm de pagar pelo minério enviado da Austrália. A Vale, porém, argumenta que teria de cobrar mais pelo minério que exporta, especialmente o das minas de Carajás, no Pará, que teria qualidade bem superior ao australiano.
REPRESÁLIA
A reação chinesa ao pedido da Vale, no entanto, não foi das melhores. Segundo Bingsheng, a China poderá, como uma espécie de represália, acelerar a expansão da produção das minas do país e reduzir a demanda geral das siderúrgicas, diminuindo as exportações de aço.
“O pedido de aumento da Vale foi um erro, já que o preço de longo prazo do minério de ferro brasileiro e o preço no mercado à vista do minério da Índia alcançaram o mesmo nível”, disse o executivo. Segundo ele, os estoques domésticos de minério também estão em níveis elevados.
Bingsheng disse ainda que a China não vai liberar o controle das exportações de aço, e que provavelmente vai apertá-lo ainda mais. Segundo ele, os fortes aumentos das exportações de aço do país em julho e agosto foram movimentos atípicos. A associação de siderúrgicas chinesas disse já ter enviado uma carta formal de protesto à Vale por seu pedido de aumento nos preços.