Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Exportador já vê déficit comercial em 2009

Para AEB, crise reduzirá preços de commodities e demanda por produtos, o que afetará a balança comercial brasileira

José Augusto de Castro avalia que recente queda do real, que poderia favorecer exportações, não vai se sustentar

FÁTIMA FERNANDES – DA REPORTAGEM LOCAL

A crise financeira que abala a economia norte-americana pode levar o Brasil a voltar a ter déficit comercial em 2009, após oito anos consecutivos de superávit comercial, na avaliação de José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).

Para Castro, a recente desvalorização do real, que favorece as exportações, não deve se sustentar. “E, se o mundo está em recessão, compra menos, não adianta o câmbio ser favorável às vendas no exterior.”

A possibilidade de o Brasil voltar a registrar déficit comercial no ano que vem surgiu com a queda nos preços das commodities em julho, segundo Castro. “Agora, estamos vendo que, além da queda nos preços das commodities, o mundo vai enfrentar recessão”, afirma.

Os setores que mais sofrerão com a desaceleração da economia mundial, na avaliação da AEB, além dos exportadores de produtos agrícolas, são os fabricantes de aviões, carros, autopeças e de bens de capital.

Apesar de registrar déficit comercial, o Brasil, segundo Castro, “vai passar 2009 com certa tranqüilidade, já que possui reservas de US$ 205 bilhões. Esse valor de reservas funciona como um colchão para o país. Agora, se a crise se estender até 2010, o cenário será bem mais ruim para o país”.

Se a crise se agravar, segundo Castro, a tendência é a taxa de câmbio subir (o real se desvalorizar mais em relação ao dólar) por conta do déficit da balança comercial. “E, se a taxa de câmbio sobe, pode gerar inflação, e as taxas de juros, como conseqüência, podem subir para controlar a inflação.”

O cenário não é favorável para o Brasil, segundo Castro, “porque o pais faz parte do mundo globalizado. Assim como as reservas do país cresceram devido ao cenário externo favorável, agora poderão diminuir com situação contrária lá fora. Isso não é mérito nem demérito do país, é conseqüência do desempenho da economia no mercado internacional”. 

China

Um sinal de que as conseqüências da crise norte-americana no mundo não serão brandas, na opinião de Castro, é o fato de a China ter reduzido os juros. “Isso mostra claramente que até o mercado interno chinês não está tão aquecido como se previa. O fato de a China reduzir juros demonstra que o país também tem preocupação com seu mercado interno. E, se a China reduz ritmo de crescimento, isso afeta o mundo como um todo. A crise, que era virtual, tornou-se agora real.”

Para Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, as conseqüências da crise nos EUA vão mostrar que o “Brasil não está descolado do resto do mundo. O tamanho do choque que o Brasil vai sofrer vai ser proporcional ao tamanho da crise lá fora”.

Silveira estima que em 2009 o país ainda possa ter superávit comercial e que déficit seria registrado em 2010. “Uma recessão nos EUA vai enfraquecer as economias mundiais, inclusive a da China. A Europa já registrou redução do PIB no segundo trimestre deste ano, o que deve acontecer no terceiro e no quarto trimestres deste ano.”

Humberto Barbato, presidente da Abinee, associação que reúne a indústria eletroeletrônica, considera que ainda é cedo para avaliar o impacto da crise norte-americana nas exportações brasileiras.