Alta é a maior desde 1985, após queda em 2009; cenário é de desaceleração, com estimativas abaixo de 4% em 2011
Analistas apostam em crédito mais caro com prazos mais curtos; mercado de trabalho continua aquecido
PEDRO SOARES
DO RIO
O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 7,5% em 2010, maior taxa desde 1985, o que alçou a economia do país à posição de sétima maior do mundo.
Entre as grandes nações ricas e emergentes, a expansão brasileira só perdeu para as registradas por China e Índia no ano passado.
Mas essa é uma fotografia do passado: desde o segundo semestre, o cenário é de desaceleração e algumas projeções já indicam uma expansão abaixo de 4% em 2011.
Parte do crescimento de 2010 se deveu ainda à fraca base de comparação de 2009, quando o PIB, deprimido pela crise, caiu 0,6%. Difícil será expandir a economia neste ano sobre o elevado crescimento do ano passado e num cenário de aperto das políticas monetária e fiscal para conter a inflação crescente.
Diante disso, analistas revisam projeções. A LCA estima uma expansão de 3,6%, e a Tendências, 3,9%. As expectativas mais correntes no mercado indicavam 4,5%.
Se confirmadas as projeções, o resultado de 2011 poderá ficar pouco abaixo do crescimento médio do PIB nos oito anos de governo Lula: 4%. No período FHC, a taxa média ficou em 2,3%.
Nos dados do último trimestre de 2010, a freada ficou clara na indústria, que caiu 0,3% ante o terceiro trimestre. O PIB, nessa comparação, cresceu 0,7%, puxado pelo consumo das famílias e seu reflexo nos serviços.
A desaceleração se manterá no primeiro trimestre, prevê Thaíz Marzola Zara, economista da Rosenberg & Associados. E tende a se intensificar na indústria por conta do câmbio favorável às importações -que contam negativamente no PIB.
“Boa parte do consumo será suprida por importados.”
Para a economista, as medidas do Banco Central de restrição do crédito (com prazo menores e de juros mais altos) já começaram “a esfriar a economia”.
“O mercado de trabalho continua aquecido, mas o crédito vai encarecer e os prazos de financiamento já estão mais curtos”, diz Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.
Para Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE, o crescimento de 2010 foi ditado justamente pela expansão do crédito (que o BC quer frear agora), da renda e do emprego, embora ele reconheça a ajuda da fraca base de 2009.
Juntos, diz, impulsionaram consumo e investimento. Até abril de 2010, segundo ele, os incentivos fiscais para a compra de veículos e eletrodomésticos com IPI reduzido também ajudaram.
Esses fatores, afirma, explicam o bom desempenho, em 2010, de setores como construção civil (11,4%), intermediação financeira (11,4%) e comércio (7,5%). A indústria cresceu 10,1% graças, principalmente, à base de comparação mais fraca de 2009, ao crédito e às medidas de estímulo do início do ano.
“O ano passado teve crescimento muito bom, mas incompatível com o potencial de expansão atual da economia brasileira”, diz Zara.