Brasília – As cinco maiores centrais sindicais de trabalhadores vão rachadas hoje para a mobilização na votação do projeto do salário mínimo para tentar um aumento maior do que os R$ 545 propostos pelo governo, que por sua vez não ´arreda o pé´. Enquanto a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT) querem R$ 560, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) insistem em R$ 580. O governo confia na primeira vitória da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Espera mais de 360 votos, mas teme baixo quórum. Com isso, os líderes dos partidos da base aliada prometem excluir de comissões do Congresso Nacional os aliados que faltarem ou votarem contra a proposta oficial, reforçando a pressão dos oposicionistas por um aumento maior – R$ 560 (DEM) e R$ 600 (PSDB).
Durante o debate com as centrais sindicais sobre o novo salário mínimo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu com unhas e dentes a implantação de uma política de longo prazo para a valorização do mínimo. “Antes, o trabalhador tinha de pleitear aumento de salário a todo o momento. O governo está propondo uma posição mais saudável. É a garantia que terá aumento todo ano. É bom para o governo e para o trabalhador”, observou. Na tentativa de convencer os parlamentares e os integrantes das centrais sindicais, presentes na sessão especial, Mantega explicou que cada R$ 1 acrescido no valor do mínimo representa um acréscimo de R$ 300 milhões nas contas do Estado. Segundo o ministro, a aprovação do mínimo em R$ 600 implicaria em custos de cerca de R$ 16, 5 bilhão para o governo.
Na tentativa de emplacar o valor do mínimo em R$ 560, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, levou dirigentes e militantes ao Congresso para tentar apoio numa proposta alternativa. Ele apresentou emenda que não apenas fixa o valor do novo salário mínimo, mas prevê a antecipação de 2,9% do que seria dado em 2012 como reajuste. De acordo com Paulinho, assim fica mais fácil para o governo negociar. “As centrais queriam R$ 580,00, mas aceitaram recuar para R$ 560 para mostrar ao governo disposição em negociar”, ponderou.
Ponderações
Durante debate no Congresso sobre o novo mínimo entre as centrais sindicais e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as centrais mostraram que estão divididas quanto ao valor. Mas, logo em seguida, o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique, discursou na tribuna defendo um mínimo de R$ 580,00. Relatou alguns aspectos para reforçar a proposta defendida por todas as centrais. “Nos Estados Unidos, na Suécia, na Alemanha e na Itália, a participação da renda dos trabalhadores no PIB (Produto Interno Bruto) é de 67% a 72%. No Brasil, é de 42%. O salário mínimo é poderoso”, comparou, ressaltando que no Brasil 47 milhões de pessoas ganham isso.
Canindé Pegado, secretário-geral da UGT (União Geral dos Trabalhadores), foi na mesma direção da Força Sindical e apresentou o recuo para R$ 560. Sindicalista, ele contestou o discurso do governo, de que as centrais estariam querendo romper o acordo firmado em 2006, que prevê o reajuste do mínimo baseado na reposição da inflação do ano anterior mais o crescimento do PIB de dois anos antes.
Dilma é poupada
A CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), representada pelo presidente Antonio Neto, e a Nova Central Sindical, com José Calixto, mantiveram as posições iniciais e, juntamente com a CUT, ainda cobram o reajuste do mínimo para R$ 580. Mas disse que a presidente Dilma Rousseff será poupada nos protestos previstos para hoje. E culpou a equipe econômica pelo valor menor.
O acordo de procedimento feito entre o governo e a oposição para votar o salário mínimo é o seguinte: duas emendas ao projeto serão analisadas. A primeira, do PSDB, reajusta o mínimo para R$ 600; em seguida, será apreciada a proposta do DEM, de R$ 560. Se ambas forem derrotadas, prevalecerá a proposta de R$ 545.
Pelas contas do governo, os dissidentes serão no máximo 10% de toda a base parlamentar aliada. Como a base tem 388 deputados – o único partido independente, o PV, com 14 deputados, decide hoje qual valor vai apoiar -, o governo calcula que cerca de 40 deputados de sua base votarão contra os R$ 545,00. O PT sinalizou que a primeira retaliação contra os dissidentes será a exclusão de comissões no Congresso, além de dar início a um eventual processo de expulsão aos deputados aliados que votarem em propostas de valores superiores aos R$ 545,00.
Abnor Gondim