Dom, 16 de Janeiro de 2011 22:25
O novo governo que se instala no Pará poderá se tornar, ao longo dos próximos quatro anos, ao mesmo tempo agente e testemunha de uma verdadeira revolução na logística e na infraestrutura de transportes no Estado, com previsíveis desdobramentos em toda a Região Norte e na sua integração com as demais regiões do país. Não por acaso, já se fala inclusive na possível implantação, no Pará, de um megaestaleiro com a missão inicial de construir 12 navios, de que resultaria a geração imediata de aproximadamente oito mil empregos.
Se o estaleiro está, por enquanto, no terreno das possibilidades, há que se destacar o efetivo início das mudanças com a entrega, afinal, do sistema de transposição da barragem de Tucuruí, no rio Tocantins. O projeto das eclusas, que teve sua construção iniciada no governo João Figueiredo, na primeira metade da década de 1980, só foi concluído ao apagar das luzes do governo Lula, quase três décadas depois.
O próximo passo será o derrocamento dos pedrais do rio Tocantins, num trecho de 43 quilômetros, entre Tucuruí e Marabá. O projeto, com início previsto para 2011 e prazo de dois anos para execução, garantirá a segurança da navegação, sem restrições, numa extensão de aproximadamente 500 quilômetros até o porto de Vila do Conde. A obra fará desse trecho da hidrovia do Tocantins o eixo de escoamento de toda a produção do polo metal-mecânico que está se instalando em Marabá, bem como da produção agropastoril e industrial das regiões sul e sudeste do Estado.
No que diz respeito à malha rodoviária, é praticamente certo que venhamos a ter finalmente concluídas, no decorrer dos próximos quatro anos, as obras de asfaltamento das rodovias Cuiabá-Santarém, no seu trecho paraense, e também da Transamazônica. As duas rodovias federais de integração, ambas cruzando áreas de grande potencial produtivo, esperam há décadas pela consolidação. E, apesar das muitas promessas, repetidas a cada governo, o asfalto só tem avançado, ano após ano, de forma lenta e espasmódica. A esperança é de que esse roteiro comece a mudar agora.
Até hoje pouco explorado, aqui como em todo o Brasil, o modal ferroviário deverá também ganhar impulso em território paraense nos próximos anos. A Vale, que já vem investindo na duplicação da capacidade da Estrada de Ferro Carajás, vai construir novos ramais interligando a ferrovia principal às suas minas de cobre e minério de ferro no sul do Pará. E, embora com futuro ainda incerto, outra obra que começa a ser discutida é a possível construção do ramal paraense da Ferrovia Norte-Sul para interligá-la ao porto de Vila do Conde, no município de Barcarena.
Também como mera possibilidade, pelo menos por enquanto, volta à mesa de discussões, quase quatro décadas depois de haver sido descartado, o projeto da construção de um grande terminal marítimo na costa paraense. O porto do Espadarte, em frente à ilha dos Guarás, no município de Curuçá, era a opção desejada por todos os paraenses para o escoamento do minério de ferro de Carajás, na década de 1970. Os estudos de viabilidade do projeto estão sendo realizados por iniciativa da mineradora Vale S.A.
Vila do Conde: capacidade triplicada
Enquanto algumas estão em desenho nas pranchetas e outras começam a sair do papel, a Companhia Docas do Pará e a Marinha do Brasil, através do Serviço de Sinalização Náutica do Norte (SSN-4), avançam num projeto que poderá até mesmo triplicar a capacidade de movimentação de cargas do porto de Vila do Conde, em Barcarena. Se vierem a se confirmar os prognósticos mais favoráveis, o porto paraense poderá se transformar até mesmo em alternativa ao complexo portuário de São Luís para o transporte de minérios produzidos no Pará. Inclusive o ferro de Carajás.
De acordo com a diretora de gestão portuária da CDP, Socorro Pirâmides, o porto de Vila do Conde trabalha atualmente com limitação de calado fixado em 12,1 metros, o que permite a operação de navios com capacidade para cerca de 60 mil toneladas. Se a limitação de calado for elevada para 14 metros, a capacidade de carga subirá para 75 mil toneladas. E se, numa perspectiva mais otimista, porém não irreal, o calado subir para 18 metros, o porto passará a permitir a operação de navios com capacidade de até 175 mil toneladas.
Todas essas variáveis estão sendo contempladas no bojo de um estudo em curso e cuja etapa inicial se realizou entre os dias 22 de novembro e 16 de dezembro de 2010. Nesse período, o navio hidroceanográfico “Garnier Sampaio”, da Marinha do Brasil, sob o comando do capitão de corveta Antonio Santos Siqueira, procedeu a um levantamento hidrográfico do Canal do Quiriri, na foz do rio Pará, desde a sua desembocadura no Atlântico até a altura da Ilha do Mosque iro.
No segundo semestre de 2011, o estudo será complementado com o levantamento no trecho que vai do Mosqueiro até o porto de Vila do Conde. A última atualização batimétrica do rio Pará data de 2002. O trabalho está sendo refeito agora, segundo autoridades da Marinha e da CDP, porque há vários indicadores que já permitem afirmar com razoável margem de segurança a possibilidade de aprofundamento do canal.
De acordo com o encarregado do Serviço de Sinalização Náutica do Norte (unidade subordinada ao Comando do 4º Distrito Naval), o capitão-de-fragata Télio Ferreira da Silva Júnior, esse levantamento faz parte do termo de cooperação firmado entre a Marinha, por intermédio do SSN-4, e a Companhia Docas do Pará. O estudo, segundo ele, visa atender às demandas emergentes do setor aquaviário por informações atualizadas da batimetria do rio Pará.
Na fase de planejamento, informa o comandante Télio, foram instalados cinco marégrafos em pontos estratégicos – Mosqueiro, Colares, Guarás, Maguari e Soure –, todos nas proximidades do Canal do Quiriri, de modo a se obter o máximo de informações de maré na região do levantamento hidrográfico. Marégrafos são equipamentos que registram as variações de maré.
O comandante Télio e a diretora da CDP, Socorro Pirâmides, fazem a mesma avaliação sobre a possibilidade de aumento do calado no Canal do Quiriri e ao longo do rio Pará, possibilitando a entrada e saída de navios com maior capacidade de carga em Vila do Conde. Para eles, o resultado será o crescente desenvolvimento dos portos da região e o consequente aumento da competitividade da economia paraense. Neste novo cenário, o porto de Vila do Conde passaria a receber ou embarcar, inclusive, cargas que hoje são movimentadas nos portos do Maranhão, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.