Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Três categorias buscam acordo em SP


João Villaverde | De São Paulo

Quase um milhão de trabalhadores estão mobilizados para conseguir aumentos reais de salário em São Paulo. Enquanto os bancários (470 mil no país) estão em greve há 7 dias, os 19 mil metalúrgicos da Embraer e fornecedores em São José dos Campos (SP) aprovaram ontem estado de greve e os 450 mil comerciários da cidade de São Paulo buscam uma saída para o impasse nas negociações.

“Estamos aguardando um posicionamento dos bancos desde o dia 22 de setembro. Já enviamos duas cartas a eles e ainda não obtivemos resposta. Enquanto não sentarem para negociar, a greve continuará”, diz Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), para quem “é esquisita a atitude dos bancos de não aceitarem uma negociação depois de verem tantas agências fechadas”. Ontem, a greve fechou 7.723 agências, o número mais elevado em 20 anos, segundo levantamento da Contraf.

Negociador da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), Magnus Apostólico caracteriza a negociação, para os bancos, como “uma luta inglória e insana”. Segundo informou Apostólico, as cartas enviadas pela Contraf não tratavam de negociações, mas sim de “acusações infundadas contra os bancos”. Apostólico afirmou que os bancos reuniram material contra os sindicalistas, que usarão como resposta. “Temos registros gravíssimos de pessoas contratadas para fazer piquetes, de sindicalistas agredindo bancários e clientes”.

Os bancários reivindicam reajuste salarial de 11%, embutindo aumento de 6,7% acima da inflação, além de elevação do piso da categoria, que é de R$ 1.074. “Não é um abuso pedir aumento real de 6,7% com a economia crescendo quase 8% e os bancos lucrando cada vez mais”, diz Cordeiro, que avalia que a greve deste ano pode superar os 15 dias parados em 2009.

Na indústria, os metalúrgicos de São José dos Campos estão, aos poucos, decretando estado de greve nas 23 empresas que compõem a cadeia produtiva que a Embraer desenvolveu na região. Ontem, foi a vez dos 1,2 mil trabalhadores da unidade da Embraer em Eugênio de Melo, na região de São José. “Como o CNPJ é o mesmo, podemos dizer que o estado de greve se estende a todas as operações da Embraer em São José dos Campos”, diz Herbert Claros, diretor do sindicato e funcionário de uma empresa de estamparia fornecedora da fabricante de aviões. Apenas a Embraer conta com mais de 14 mil trabalhadores em São José. Ao todo, são 19 mil metalúrgicos no ramo aeronáutico na cidade. Só na Embraer são 14 mil, que devem ter uma assembleia surpresa ainda nesta semana, segundo apurou o Valor.

“Os metalúrgicos da GM e das fábricas de autopeças já estão, desde o início de setembro, com o reajuste de 9% nos salários. Só faltam os que trabalham no ramo aeronáutico, que representam quase metade da categoria aqui”, diz Claros, em referência aos 44 mil metalúrgicos de São José.

Segundo informou Claros, os trabalhadores reivindicam 15,57%, mas fecham em 9% com as empresas, desde que a convenção coletiva seja assinada – algo que não ocorre desde 2005. “A Embraer não pode participar de licitações, uma vez que a Constituição proíbe a participação de empresas cujas convenções coletivas não estejam sancionadas”, diz o sindicalista. Procurada pela reportagem, a Embraer informou que é a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) quem responde pelas negociações. A Fiesp afirmou, em nota, estar “analisando os pleitos”.

Os 450 mil comerciários de São Paulo aguardam a concessão de 7,5% de reajuste salarial por parte de supermercados e varejistas. “Os empresários já concordaram em ampliar os pisos em 8% e em conceder as folgas para quem trabalha aos domingos e feriados, só resta os 7,5% para os salários”, diz Ricardo Patah, presidente do sindicato. Para Ivo Dall´Acqua, presidente do conselho de assuntos sindicais da Fecomercio, “o grande nó está em trabalhar com índice único, porque há empresas com diferentes realidades no mesmo balaio”, observa.