terça-feira, 10 de agosto de 2010 23:00
Estadão Online
Fabricantes nacionais têm condições de atender à demanda da estatal, dizem entidades
Renato Andrade, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA – A proposta da Petrobrás de reduzir a participação da indústria nacional na exploração do pré-sal provocou fortes reações entre fabricantes de equipamentos no País. Representantes dos setores de máquinas e eletroeletrônicos disseram que a indústria tem plenas condições de atender à demanda da estatal, desde que a empresa explicite o que será preciso e estabeleça um ritmo moderado de produção nos campos de petróleo e gás na costa brasileira.
A Petrobrás e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) travam um embate por causa das regras que fixam porcentuais mínimos de compra de materiais produzidos no mercado local pelas empresas que exploram petróleo e gás, conforme revelou ontem o Estado. A estatal, que será a operadora única dos campos do pré-sal, quer reduzir de 65% para 35% o porcentual de conteúdo local exigido pelo governo. A ANP classificou a solicitação como “inadmissível”.
Mesmo considerando que a ideia defendida pela Petrobrás se restringirá às áreas que serão cedidas onerosamente pela União – uma das etapas do processo de capitalização da empresa -, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, disse que a proposta é “um absurdo”. José Velloso, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) também foi no mesmo tom. “Somos veementemente contra.”
Um dos argumentos da Petrobrás para defender a mudança nas regras seria a falta de capacidade da indústria nacional em responder à demanda rapidamente. “Quem diz que a indústria não está aparelhada está querendo fugir da discussão”, disse Velloso. Para o executivo, o setor de máquinas e equipamentos tem condições de ampliar sua produção, desde que consiga ter um sinal claro sobre qual será o volume de produtos que a estatal vai precisar.
Para o secretário de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, Luciano Almeida, o governo pode estabelecer uma velocidade moderada na exploração do pré-sal para dar tempo à indústria nacional se desenvolver. “Se a cadeia produtiva não está madura, será que não vale a pena retardar?” questionou. “As reservas estão lá, não vão sair do lugar.”
Um ritmo mais lento ajudaria o governo a atingir seu objetivo de utilizar o pré-sal como alavanca para impulsionar as empresas brasileiras a dar um salto tecnológico e ganhar competitividade em relação ao produto importado. Especula-se no governo sobre a possibilidade de exigir um nível de nacionalização de 75% para os empreendimentos do pré-sal. Porém, a falta de peças e equipamentos nacionais com qualidade e preço competitivos estaria levando a Petrobrás a defender a redução desse índice.
Além de dar menos oportunidades à indústria, a produção acelerada do pré-sal provocaria outros efeitos sobre a economia, como lembrou o vice-presidente da Abimaq. “Vamos pressionar o câmbio e destruir a indústria”, disse. Para o presidente da Abinee, a Petrobrás não pode ter uma posição contrária à do governo federal, seu principal acionista. “A Petrobrás, como estatal, tem de seguir a linha de quem está na Presidência da República”, disse Barbato.
Lula
A Petrobrás terá um opositor de peso à ideia de alterar as regras de conteúdo local para exploração do pré-sal. A redução do grau de exigência de participação da indústria nacional contraria diretamente a posição defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na solenidade de lançamento do marco regulatório do pré-sal, em agosto do ano passado, o presidente enfatizou várias vezes a importância de se aproveitar a descoberta para “construir uma poderosa indústria” fornecedora de equipamentos e serviços para o setor de petróleo e gás.
Enquanto a Petrobrás caminha em direção oposta à do Palácio do Planalto, a posição das entidades que representam setores da indústria nacional está sintonizada com o discurso do presidente. / COLABOROU LU AIKO OTTA