Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Chuvas matam 31 no NE; Alagoas tem 15 cidades em calamidade pública

Estado tem 80 mil desabrigados e mais de mil desaparecidos; em PE, 49 municípios afetados

Matéria de 21 de junho de 2010

Ricardo Rodrigues e Angela Lacerda – O Estado de S. Paulo

RIO LARGO – Dois dias após a tromba d´água que devastou 21 cidades da Zona da Mata, do Vale do Paraíba e do Litoral Norte do Estado, Alagoas contabiliza pelo menos 19 mortes, cerca de 80 mil desabrigados e mais de mil pessoas desaparecidas. Algumas cidades foram praticamente destruídas pela força das águas das chuvas e da correnteza dos rios que contam os municípios em direção às lagoas e o mar. Em Pernambuco, o mau tempo deu trégua nesta segunda-feira, mas o número de mortos já chega a 12.

Na Grande Maceió, a cidade de Rio Largo, cortada pelo rio Mundaú, foi uma das mais atingidas. De acordo com a Prefeitura de Rio Largo, cerca de 3 mil casas, localizadas nas proximidades do rio, foram completamente destruídas pela enchente. Há cerca de 30 pessoas desaparecidas e mais de 15 mil desabrigados, alojados em escolas públicas, ginásios de esportes e casas de parentes.

“Já fugimos três vezes da correnteza do rio, algumas das vezes com a água dando na canela, mas nunca vimos uma enxurrada tão grande como essa”, contou a dona de casa Maria do Carmo dos Santos, de 34 anos, que teve a casa destruída pela enchente e perdeu praticamente tudo que tinha. “Só deu tempo de pegar os documentos, um saco com roupas e os meninos”, acrescentou a dona de casa, que é casada e mãe de cinco filhos, todos menores de idade.

Dona Maria do Carmo estava alojada numa sala de aula da Escola Estadual Fernandina Malta, que fica na parte alta de Rio Largo. Junto com ela, estava Maria Juliana, de 17 anos e mãe de um filho de um ano, que também perdeu a casa e todos os seus pertences, inclusive os documentos. As duas moravam na Ilha Angelita, próximo ao Centro de Rio Largo.

Praticamente todas as 2 mil casas dessa ilha, que fica no delta do Rio Mundaú, foram destruídas pela correnteza do rio. As poucas casas que restaram em pé estavam com a estrutura abalada e sem condições de abrigar as famílias atingidas pela enchente. O nível do rio Mundaú baixou, mas a correnteza ainda estava muito forte, na manhã desta segunda-feira.

O prefeito Toninho Lins (PDT) disse que espera ajuda do governo do Estado e do governo federal para reconstruir Rio Largo. Ele ainda não tinha um balanço geral dos estragos causados pelas chuvas, mas disse que esta enchente foi a pior dos últimos 40 anos. “Depois da cheia de 1969, esta foi a pior tragédia que já tomamos conhecimento em Rio Largo”, afirmou Lins.

Segundo o secretário executivo da Coordenação Estadual da Defesa Civil, Deníldson Queiroz, o número de mortos passa de 19, mas deverá subir. “Muitas pessoas ainda estão desaparecidas. São mais de mil pessoas que ainda não foram localizadas por familiares em meio às enchentes no interior do Estado”, observou Queiroz. O Instituto Médico Legal Estácio de Lima já recebeu 10 corpos.

Os números de desabrigados e desalojados ainda são conflitantes, já que a todo instante chegam informações novas a respeito da situação enfrentada pelos 21 municípios atingidos pelas enchentes. Pela manhã, a Secretaria Estadual de Defesa Civil atualizou os dados e informou que já são mais de 80 mil afetados, sendo 30 mil desabrigados, 30 mil desalojados e outros 20 mil que precisaram ser resgatados de áreas de risco.

O governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), em comunicado oficial, informou que decretou estado de calamidade pública no Estado e já entrou em contato com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para pedir ajuda às vítimas das cheias e para reconstruir as cidades destruídas pelas enchentes. Ele disse ainda que sobrevoou de helicóptero as áreas atingidas e ficou impressionado com a destruição que as chuvas causaram.

Pernambuco

O balanço divulgado hoje pela Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe) aponta que o número de pessoas desabrigadas e desalojadas no Estado por causa das chuvas dos últimos dias subiu para 38.360 pessoas. A destruição chega a 1.449 quilômetros de estradas, 69 pontes e 6.407 casas, em 49 municípios pernambucanos. Doze é o número oficial de mortes – oito delas no Recife. Não há registro de desaparecidos.

“Uma verdadeira tragédia”, definiu o governador Eduardo Campos (PSB) ao se referir aos estragos causados pelas chuvas, antes de embarcar hoje para Brasília, onde foi buscar ajuda do presidente Lula.

Segundo classificação da Defesa Civil, desabrigados são pessoas que perderam tudo e precisam dos abrigos públicos, e desalojados, aquelas que podem contar com ajuda de vizinhos e familiares. Do total de municípios pernambucanos afetados, 10 estão em situação de calamidade pública. Outros 13 estão em estado de emergência.

Texto atualizado às 19h25.

 

Lula anuncia liberação de FGTS para vítimas de enchentes no Nordeste

Presidente pediu um minuto de silêncio em homenagem aos mortos em Alagoas e Pernambuco

BRASÍLIA – Assim como foi feito com os estados de Santa Catariana e do Rio de Janeiro, que tiveram municípios atingidos por enchentes, o governo vai liberar o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para as vítimas das enchentes em Pernambuco e Alagoas.  

O anúncio foi feito nesta segunda-feira, 21, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a 4ª Conferência Nacional das Cidades, em Brasília. “Vamos fazer com a mesma rapidez que fizemos para Santa Catarina e para o Rio de Janeiro, inclusive liberar o Fundo de Garantia daqueles que tiverem o direito e tenham sido atingidos pelas enchentes”, disse Lula.

O presidente ainda pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas nos dois estados. Lula disse que conversou ontem com os governadores de Pernambuco e Alagoas para obter mais informações sobre os estragos causados pelas chuvas.

“Temos que esperar a água baixar para fazermos o levantamento [das vítimas]. Estamos mandando para lá um hospital da Força Aérea Brasileira para atender, sobretudo em Palmares, onde o hospital ficou totalmente alagado”, afirmou Lula.

O presidente deve se reunir ainda hoje com os governadores Teotônio Vilela, de Alagoas, e Eduardo Campos, de Pernambuco, para discutir a liberação emergencial de recursos para os dois estados.

LIBERAÇÃO EM ATÉ 5 DIAS

A presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho, disse que a liberação para o saque deve estar pronta em cinco dias úteis, já que é necessária a edição de um decreto presidencial autorizando a liberação.

A liberação será voltada para as localidades que o Ministério da Integração Nacional declarar em estado de emergência e calamidade pública. Maria Fernanda disse que o limite para a liberação será de R$ 4.650,00. E que será feita no mesmos moldes daquela concedida às vítimas das enchentes do Rio de Janeiro.

A Caixa também vai emitir um novo CPF para as vítimas das enchentes sem cobrança de taxa e oferecer condições diferenciadas de crédito para essas pessoas.

Colaborou Adriana Fernandes, de O Estado de S. Paulo