Sérgio Lamucci
A produtividade na indústria avança com força no começo do ano, acenando com uma expansão firme em 2010, depois da queda de 1,9% registrada em 2009. No primeiro bimestre, ela cresceu 16,5% em relação ao mesmo período do ano passado, resultado da comparação da alta de 17,3% da produção industrial e do aumento de 0,7% do número de horas pagas aos trabalhadores. Na série livre de influências sazonais, a expansão acumulada pela produtividade em janeiro e fevereiro ficou em 1,5%. Esse desempenho indica que a produtividade voltará a subir de modo saudável em 2010, com elevação simultânea da produção e das horas pagas, destaca o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Foi o padrão seguido entre 2004 e 2008.
Almeida atribui a recente expansão da produtividade, impulsionada pelo forte aumento da produção, a dois principais fatores: a retomada dos investimentos, a partir do segundo semestre do ano passado, e a racionalização de processo produtivos em função da crise . “Não existe investimento sem aumento de produtividade”, afirma ele.
Segundo Almeida, no caso de compras de máquinas e equipamentos, o tempo entre a decisão do empresário de investir e os ganhos de eficiência é de seis meses a um ano. Com isso, uma parcela das inversões feitas a partir da segunda metade de 2009 na aquisição de máquinas já maturou, ajudando a explicar a alta da produtividade.
Esses ganhos de eficiência são importantes por deixar as empresas mais preparadas para absorver aumentos de custos sem repassá-los para os preços, afirma ele. “E isso vale não apenas para os custos com a folha de salários.” É um fenômeno que alivia pressões inflacionárias no setor industrial.
Em 2009, a produtividade no setor despencou no primeiro semestre, porque a produção caiu muito mais que as horas trabalhadas. A crise global pegou boa parte das empresas com estoques elevados. No primeiro trimestre de 2009, a produção recuou 14,3% na comparação com o mesmo período do ano anterior, num movimento de ajuste intenso de estoques. As horas pagas, por sua vez, recuaram 5,1%. Isso deixa claro que o ajuste no emprego foi bem mais moderado, como lembra o analista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada.
Para Bacciotti, o custo elevado de demitir levou as empresas a conter os cortes de funcionários, num quadro de incerteza quanto à duração da crise – havia a perspectiva de que o impacto fosse transitório e que a atividade se recuperasse depois de não muito tempo, o que de fato ocorreu.
“O empresário apela primeiro para férias coletivas e redução de jornada, para não ter que arcar com os custos de demissão, especialmente num cenário em que havia a possibilidade de que os efeitos da crise fossem passageiros”, avalia a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara. Como caiu menos, o emprego se recupera numa velocidade menos intensa do que a da produção, que mergulhou num primeiro momento e agora sobe a um ritmo na casa de 16% a 18% em relação aos mesmos meses do ano passado.
O resultado de fevereiro indicou uma alta mais expressiva do emprego e especialmente do número de horas trabalhadas, como mostrou a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O pessoal ocupado na indústria cresceu 0,6% sobre janeiro, feito o ajuste sazonal, enquanto as horas pagas tiveram expansão de 1,5%.
Almeida observa que uma expansão firme do número de horas trabalhadas costuma anteceder novas contratações de empregados. Primeiro, há um aumento nas horas extras. Depois, com a confirmação de que a demanda é de fato firme, os empresários contratam novos empregados.
O ritmo de alta da produtividade no primeiro bimestre, de 16,5% sobre o mesmo período de 2009, não deve se sustentar no acumulado do ano, dizem os analistas. A baixíssima base de comparação da produção industrial explica o resultado tão forte, diz Almeida. Para ele, o mais razoável é esperar um crescimento de 4% a 5% da produtividade em 2010, o que é um número bastante positivo. Se ficar em 5%, será a taxa mais alta desde os 6,2% registrados em 2004.
Thaís também acha possível um número na casa de 5% neste ano. Ela destaca, como Bacciotti, que o nível da produtividade na indústria já superou o nível pré-crise, na série livre de influências sazonais.
Já nos 12 meses até fevereiro deste ano, a produtividade na indústria registra alta de 2,5%, fruto da combinação de uma queda de 2,6% da produção e de um recuo 4,8% das horas trabalhadas. Nessa base de comparação, fica evidenciada a recuperação mais rápida da atividade fabril que do emprego. Nos 12 meses até dezembro do ano passado, o tombo da produção ainda era superior ao das horas trabalhadas.
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