Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Menos negociações pagam aumento real em 2008

As negociações salariais feitas no primeiro semestre de 2008 foram concluídas com reajustes mais baixos que a média obtida no mesmo intervalo de 2008, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Economistas avaliam o resultado como positivo – já que não deve se traduzir em pressão inflacionária – mas insuficiente para levar o Banco Central a afrouxar a política monetária sinalizada para os próximos meses. Em 85,8% das 309 negociações fechadas, as categorias profissionais obtiveram reajustes iguais ou superiores à inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – o menor desde 2005 e 10,8 ponto percentual abaixo do índice obtido no primeiro semestre de 2007.

O percentual de reajustes inferiores à inflação foi de 14,2% no primeiro semestre, contra 3,4% no mesmo intervalo de 2007. E os aumentos superiores à inflação representaram 73,5% do total das negociações, ante 87,1% registrado no ano passado. De acordo com o supervisor do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, mesmo nos casos em que houve ganhos sobre a inflação, esses foram mais modestos em comparação aos resultados obtidos no ano passado. Assim, na base da pirâmide, o percentual de acordos com ganho real de até 1% aumentou 6 pontos percentuais, para 37,2%, e aqueles com ganho entre 1,01% e 2% reduziram-se em 10,6 pontos, para 26,2% do total. Na ponta, o percentual de negociações com ganho real superior a 4 pontos percentuais sobre a inflação caiu de 3% do total dos acordos para 0,3%, apontou o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

“Os reajustes foram mais comedidos e outros indicadores mostram que não são os salários que estão pressionando a inflação”, afirmou Silvestre, citando ganhos de produtividade e a aceleração dos investimentos no país, item que é citado por economistas como principal fator de impulso à expansão da demanda doméstica.

Para o economista da LCA Consultores Fábio Romão, a inflação mais alta teve mais peso na decisão dos empresários em conceder ganhos menores aos trabalhadores do que o risco de explosão da demanda. “E esse resultado não foi pior porque o mercado de trabalho se manteve aquecido no primeiro semestre. O menor nível de desemprego é um fator que dá mais poder de barganha ao trabalhador.”

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, observou que os reajustes do primeiro semestre ficaram com índices mais modestos que no ano passado porque existe um consenso entre empresários e trabalhadores de que a inflação mais alta observada nos primeiros meses do ano seria temporária. “Já havia uma perspectiva de que a inflação não ficaria naqueles níveis de forma permanente.!

Para o Banco Central a notícia é positiva; o estouro da massa real de rendimentos que era esperada não aconteceu, afirmou Vale. Para ele, as negociações do segundo semestre devem ser concluídas com ganhos reais semelhantes. “De um lado, há perspectiva de desaceleração da inflação e, de outro, previsão de desaquecimento da economia”, observou o economista-chefe da MB Associados.

Vale observou ainda que o desaquecimento da economia global também contribuiu para a deterioração dos reajustes salariais nas regiões Norte e Nordeste. Segundo dados do Dieese, no primeiro semestre, 31,3% dos reajustes negociados na região Norte ficaram abaixo da inflação; no Nordeste, o índice foi de 18,4%. Nas duas regiões, os acordos com ganho real não chegaram a 70% do total. Ele disse que no Norte, a Zona Franca de Manaus já estava perdendo com a dificuldade de exportar. No Nordeste, muitas empresas – sobretudo dos setores têxtil e calçadista – se instalaram na região devido a facilidades logísticas para exportar e agora, com o desaquecimento da economia global, reduziram as vendas ao exterior. “Há também a questão do turismo, a maior parte dos turistas que vão para essas regiões são da Itália e da Espanha, que estão em recessão”, afirmou Vale.

Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul que, segundo ele, têm mercado interno mais forte e alguns setores industriais já consolidados, os percentuais de reajustes com ganhos sobre a inflação foram maiores – de 68,3%, 84,6% e 85,7%, respectivamente.