Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Montadoras usam custos para negar reajuste

Marli Olmos e Cibelle Bouças

Os metalúrgicos mantiveram ontem a estratégia de paralisações localizadas, em diversas fábricas do setor automotivo, surpreendendo uma indústria que havia perdido o hábito de ver suas linhas paradas em movimentos desse tipo. As negociações de reajuste salarial, em curso até ontem à noite, não têm sido fáceis. Se de um lado os representantes dos trabalhadores têm a seu favor o ritmo acelerado nas montadoras e alta demanda no mercado de veículos, pesa desfavoravelmente a situação cambial. Os fabricantes de veículos argumentam que a valorização do real não permite mais custos.

Do lado das montadoras, o que está em jogo nessa discussão é muito mais o papel que a indústria automobilística planeja para seu parque fabril no Brasil no futuro do que métodos para evitar eventuais prejuízos hoje. Os executivos que dirigem esse setor no Brasil não querem perder a chance de continuar atraindo investimentos em ampliações industriais e projetos de novos carros na disputa com outras fábricas localizadas na Ásia e demais regiões emergentes. 

“Negociamos pensando no médio e longo prazos”, disse ontem o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider. “Nas nossas condições de exportação, com o real mais valorizado, qualquer aumento real de salários implica aumento de custos e menos condições de competir lá fora”, acrescentou.

Os volumes de exportação já estão em queda. Vão absorver apenas um quarto da produção de veículos este ano. Mas, como o mercado interno já deu sinais de um crescimento mais moderado no mês passado, os dirigentes das montadoras não querem correr o risco de perder mais nenhum contrato no exterior. Além disso, se preparam para projetos de exportação mais ousados no futuro.

Do lado dos empregados, a retomada de um movimento grevista na base dos metalúrgicos, o primeiro dessa magnitude durante o governo Lula , pede cautela. É por isso que as paralisações que se viram nos últimos dois dias trouxeram, sim, prejuízos financeiros. Mas a perda de produção de algumas horas pode, desta vez, ser recuperada em alguns dias, ao contrário do que se via anos atrás. A verdadeira “greve pipoca” dos tempos mais combativos dos metalúrgicos do ABC parava pequenos, mas estratégicos fornecedores por longos períodos, o que resultava numa imediata paralisação de toda a indústria automobilística do país. Desta vez, a mobilização é mais branda. Surge mais como uma tentativa de demonstração da força da categoria.

Ontem, além do movimento no setor automotivo, metalúrgicos realizaram passeatas na capital paulista e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, aproximadamente 5 mil fizeram passeata na região central e entregaram a pauta de reivindicações à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A proposta inclui reajuste salarial de 20% e redução da jornada semanal para 40 horas. A última oferta feita pelas empresas era de aumento real de 1,25%.

De acordo com Eleno Bezerra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, hoje dois terços da categoria em São Paulo trabalha em turnos de 42 horas ou 44 horas semanais. “Estamos dando 15 dias para os sindicatos patronais definirem uma proposta, para não dizer que somos intransigentes”, afirmou Bezerra.

Segundo o sindicalista, se após esse prazo as empresas não entregarem uma proposta, serão realizadas paralisações de turnos ou de 24 horas em diferentes municípios, sem aviso prévio. “O Paraná já está parado, São José [dos Campos] também. Se não for feita uma proposta, São Paulo não vai ter alternativa a não ser parar também”, afirmou.

Representantes da Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da CUT (FEM/CUT) e do Sindicato dos Fabricantes de Veículos Automotores (Sinfavea) realizaram nova rodada de negociações.

No ABC, 8 mil metalúrgicos paralisaram as atividades por até duas horas na Volkswagen, Ford e Scania. Na Mercedes-Benz, 3 mil trabalhadores do turno ficaram parados pelo segundo dia consecutivo, segundo informou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A empresa somente confirmou a paralisação de quarta-feira. Em Diadema, 2 mil funcionários das autopeças Dana Nakata, TRW e Autometal também pararam a produção pela manhã e decidiram paralisar as atividades no sábado e no domingo, seguindo a decisão dos metalúrgicos da Mercedes. Conforme o sindicato, se a negociação marcada para sábado entre metalúrgicos e Sinfavea não for bem sucedida, os trabalhadores podem entrar em greve a partir de segunda-feira.

No Paraná, 8 mil metalúrgicos da Volkswagen e da Renault e Nissan seguem paralisados desde segunda-feira, o que causou a perda na produção de 6,6 mil veículos, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba. A entidade convocou reunião com as montadoras, mas representantes da Volks não apareceram. De acordo com a assessoria do sindicato, a Renault não fez oferta de reajuste, o que levou os sindicalistas a reduzirem o pedido de reajuste cujo índice é mantido em sigilo. A greve continua pelo menos até sexta-feira, quando os metalúrgicos se reúnem pela manhã para avaliar a nova proposta do sindicato. A pauta inclui reajuste de 7,6% de reposição da inflação mais 5% de ganho real e abono de R$ 1,5 mil. As empresas ofereceram aumento de 0,5 ponto percentual sobre a inflação acumulada em 12 meses.

No Rio, houve manifestação focada no risco de demissões. Metalúrgicos do Estaleiro Mauá e do Estaleiro Ilha (Eisa), ambos de Niterói, fizeram passeata no centro da cidade para pressionar a Petrobras a assinar o contrato de construção da plataforma P-62. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, se o contrato não for assinado, 3 mil operários do Estaleiro Mauá poderão ser demitidos.