Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Economia em alta é trunfo para pedir reajuste salarial

Expectativa de crescimento de 5,8% do PIB, criação de 2 milhões de empregos em 2010, além da falta de mão de obra qualificada podem ser usados como argumento na hora de conversar com o chefe sobre seu futuro na empresa

Carolina Dall’olio, Luciele Velluto

O jogo virou em 2010. O reaquecimento da economia brasileira deixou a crise no passado e trouxe “a faca e o queijo” de volta às mãos dos trabalhadores nas negociações salariais deste ano. O momento é bom tanto para quem é sindicalizado e pertence a uma categoria organizada quanto para o funcionário que quer pleitear aumento por conta própria.

A expectativa de crescimento de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2010, a previsão de criação de 2 milhões de empregos no ano e a falta de profissionais qualificados no mercado podem ser argumentos para quem busca a valorização profissional, principalmente de ordem financeira.

“O conjunto de indicadores está muito favorável ao trabalhador. O cenário positivo que se desenhava nos últimos anos foi interrompido pela crise no fim de 2008 e durante 2009. Mas, agora, a retomada do crescimento econômico torna a negociação menos difícil”, afirma José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Os sindicatos já perceberam o reaquecimento da economia – também sentido na pele pelo trabalhador, ocupado por muita hora extra para atender à demanda das empresas. Há categorias dispostas a reivindicar até 10% de aumento real (reajuste acima da inflação), como é o caso dos profissionais da construção civil.

“Achamos que vamos conseguir um aumento razoável este ano, pois além da economia favorável, temos falta de profissionais no mercado. As empresas terão de valorizar seus funcionários para que a demanda possa ser atendida no prazo determinado para as obras”, comenta Antonio de Souza Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP).

Mesmo com todos os argumentos favoráveis, as greves não estão descartadas. “Já estamos organizando uma paralisação para o fim de abril, começo de maio. As negociações, na maioria das vezes, só fluem na base da pressão”, afirma o líder sindicalista. A data-base dos trabalhadores da construção civil é 1º de maio.

De acordo com Sergio Amad, professor de Relações de Emprego e Trabalho da FGV-SP, os aumentos reais certamente virão. Porém, na maioria das categorias, o reajuste deve ficar entre 0,5% e 1%, estima Amad . “A inflação vai dificultar um aumento real muito expressivo, porque as empresas já vão ter que gastar bastante só para cobrir as perdas causadas pela alta do custo de vida”, acrescenta o docente. “Além disso, os empresários vão querer recuperar as perdas que tiveram no ano passado com a crise.”

Mesmo adotando uma postura conservadora, Amad reconhece que os trabalhadores ganharam poder de barganha neste ano que promete ser de vacas gordas. “Funcionários da construção civil, turismo, hotelaria e tecnologia da informação (TI), por exemplo, estão numa situação muito confortável agora, porque as empresas não encontram gente no mercado e precisam fazer de tudo para reter seus bons profissionais”, diz. “Por isso, para quem está nesta situação, a hora de pedir aumento é agora.”

Embora o cenário econômico esteja jogando a favor do trabalhador, ele sozinho não basta para convencer o chefe a colocar a mão no bolso. “O profissional que for pedir aumento também precisa levar argumentos, mostrando que é merecedor de um salário melhor”, afirma Fernando da Costa, diretor da consultoria de recursos humanos Human Brasil.

“Nem o bom momento da economia, nem o fato de as vendas da companhia estarem em alta e nem a escassez de mão de obra vão convencer o chefe a conceder um aumento se o funcionário não apresentar resultados para empresa”, reforça Costa. “Não adianta ser dedicado, varar a noite trabalhando e se mostrar comprometido. No final das contas, o que vai pesar a favor do trabalhador é o quanto ele contribui de fato para o sucesso da empresa.”

Sindicatos querem mais em 2010

Os sindicatos já preparam a lista de reivindicações para a campanha salarial de 2010. A maioria das categorias tem como data-base o segundo semestre, mas os coordenadores querem definir até junho a pauta de reivindicações e, dessa forma, antecipar os debates.

Uma das categorias já em negociação é a construção civil, pois a data-base é 1º de maio. O sindicato pede 10% de aumento real, mais a inflação acumulada em um ano até a data de reajuste, estimada em 7%. “Queremos a equiparação do piso de São Paulo com o Rio de Janeiro. Aqui, o trabalhador ganha 16% menos”, afirma Antonio de Souza Ramalho, presidente da entidade.

Além do aumento salarial, o setor da construção civil reivindica ainda melhorias no locais de trabalho, aumento da cesta básica de 36kg para 40kg e a entrega do pacote de alimentos na casa do trabalhador. “Se não querem a entrega em casa, que paguem um vale-cesta. Não dá para o trabalhador carregar um peso desse”, diz.

Os metalúrgicos de São Paulo ainda não definiram o índice para reajuste, já que a data-base da categoria é novembro. No entanto, a expectativa é de ganho real melhor do que no ano passado, que foi de 2,26%, além da inflação de 4,18%. “Estávamos numa situação desfavorável ano passado. Este ano podemos avançar mais”, diz Miguel Torres, presidente do sindicato da categoria.

O dirigente espera fechar a pauta com os pedidos da classe que serão entregues ao sindicato patronal até junho. “Consideramos até pedir aumento da Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) ou outro tipo de abono, pois a produção cresceu muito nesses últimos meses”, conta.

Já os comerciários, cuja data-base é setembro, devem endurecer a negociação para conseguir mais do que o obtido em 2009. “Tivemos 3% de aumento real no piso. Este ano queremos mais”, afirma Ricardo Patah, presidente da entidade de representação sindical.

Os bancários, embalados pelos lucros registrados pelos bancos, também não pretendem economizar nos pedidos. “Nos últimos seis anos conseguimos aumento real. Ano passado, mesmo com a crise, conseguimos reajuste de 6% (quase 2% de aumento real). Agora, com os bancos crescendo sem parar, vamos pedir ainda mais”, promete o presidente do sindicato da classe, Luiz Cláudio Marcolino. A proposta deve ser definida até setembro, data-base da categoria.

Além do reajuste salarial, os bancários querem aumentar a PRL. Em 2009, eles pediram para cada funcionário o equivalente a três salários e mais R$ 3.500. Conseguiram 2,2 salários mais R$ 2.100.

Os benefícios serão o grande alvo do Sindicato dos Químicos e Farmacêuticos. A negociação da categoria começou em 1º de abril para o setor farmacêutico – o restante dos trabalhadores tem data para reajuste no segundo semestre. Eles querem dobrar o valor da cesta básica, reajustar em 20% o valor da cesta de medicamentos a que os trabalhadores da categoria têm direito e receber o valor das férias em dobro. Além disso, pleiteiam 5% de aumento real.

Empresas optam por hora extra em vez de contratar

Especialistas e sindicatos apostam na ampliação do número de vagas em todos os setores. Tal otimismo vem, em grande parte, da estimativa do Ministério do Trabalho de que serão criados 2 milhões de novos empregos neste ano.

No primeiro trimestre, apesar do aquecimento do mercado, as contratações ainda são pequenas frente ao volume de horas extras. “Tem empresa fazendo mais do que duas horas a mais diárias, acima do permitido por lei. Vamos começar a pressionar para isso virar emprego”, diz Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

Segundo o diretor do MBA da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Tharcisio Souza Santos, as empresas, antes de contratarem, costumam lançar mão das horas extras como forma emergencial de atender à demanda. “Neste primeiro trimestre ainda não havia certeza de crescimento econômico. A partir do segundo, e mais ainda no terceiro trimestre, deverão ocorrer muitas contratações”, afirma o especialista.

Na construção civil, a previsão do sindicato é de 275 mil contratações em todo o País. As empresas estão mais otimistas e esperam criar até 480 mil postos de trabalho no Brasil. No setor metalúrgico, a entidade de representação da classe na capital paulista estima um incremento na base de trabalhadores de 10% a 15%. Já o comércio mostra-se animado com os empregos que devem ser criados com a Copa do Mundo. “É um ano que promete nas vendas”, conta Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.

Mas os sindicalistas alertam para a falta de mão de obra qualificada. “Não há gente capacitada para todas as vagas que serão ofertadas”, afirma Miguel Torres, representante dos metalúrgicos. A previsão do mercado é de oferecer 1,34 milhão de vagas para engenheiros, porém há apenas 1,09 milhão de profissionais disponíveis para ocupar tais postos. Na construção civil, faltam de pedreiros e mestres de obras a arquitetos.LV