05 abr 2010
Notícias
Sindicatos conseguem reduzir jornada
Enquanto a proposta de emenda constitucional espera no Congresso, 32% dos trabalhadores formais já trabalham 40 horas semanais
Marcelo Rehder – O Estado de S.Paulo
Sindicatos de categorias mais organizadas de trabalhadores estão conquistando acordos de redução da jornada sem cortes nos salários, enquanto a proposta de emenda constitucional (PEC) que reduz a jornada legal, das atuais 44 horas para 40 horas semanais, permanece parada no Congresso, sem previsão de data para ser votada.
O movimento pela redução da jornada cresce ano a ano e virou a principal bandeira de luta das centrais sindicais em 2010. Segundo cálculos do professor José Pastore, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade São Paulo (FEA-USP), em seis anos o número de trabalhadores que trabalham até 40 horas subiu de 28,6% para 31,97% do total.
Só este ano, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e Região fechou acordos com 22 empresas, que beneficiam mais de 5,5 mil trabalhadores. A maioria prevê redução gradual da jornada.
É o caso dos 900 metalúrgicos da Schneider Electric Brasil, fabricante de aparelhagem elétrica e equipamento para automação. A partir de julho próximo, eles passarão a trabalhar 43 horas por semana. Em de maio de 2011, o período deverá ser reduzido para 42 horas. Em novembro do mesmo ano, está prevista nova negociação para se chegar às 40 horas semanais.
“Estamos buscando acordos que atendem tanto os trabalhadores quanto as empresas e mostram que a redução da jornada é possível”, afirma o presidente do sindicato, Miguel Torres.
Outras categorias. No mês passado, o Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados do Estado de São Paulo e o sindicato das empresas chegaram a um acordo para renovação da convenção coletiva da categoria. Além de reajuste linear de 6% nos salários, o acordo prevê redução da jornada para 40 horas a partir de janeiro do próximo ano. Existem hoje 80 mil profissionais dessa área no Estado.
“A redução da jornada é a nossa principal vitória”, diz o presidente do sindicato, Antonio Neto, também presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).
Os trabalhadores químicos nas indústrias farmacêuticas de São Paulo cumprem jornada de 40 horas desde setembro de 2009. A conquista, obtida na convenção coletiva em 2008, beneficiou 80 mil químicos associados a sindicatos da Força e da CUT.
A luta pela jornada de 40 horas é uma bandeira das centrais há quase duas décadas. Acordos têm garantido jornada reduzida às categorias com poder de mobilização. Entre as grandes empresas, como as montadoras, a jornada de 40 horas já é praxe. “80% da nossa categoria têm jornada entre 40 e 42 horas”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre.
O número de acordos tem crescido em todo o País. Entre 2002 e 2008 (último dado disponível), a quantidade de brasileiros com carteira assinada e jornada de 40 horas deu um salto de 56%, conta Pastore, da USP.
Com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, Pastore estima que o número de trabalhadores com jornada de 40 horas subiu de 6,9 milhões para 10,8 milhões. Com isso, o grupo passou a representar 31,97% do total de trabalhadores formais no País, ante 28,6% em 2002.
Teste. Há pouco mais de um mês, o Laboratório Buenos Ayres, farmácia de manipulação de medicamentos com cerca de 500 funcionários, resolveu fazer um teste, e reduziu a jornada de 44 para 40 horas semanais. O presidente da empresa, Sérgio Marques, se comprometeu em manter a jornada reduzida desde que houvesse ganhos de produtividade. “Reduzimos quatro horas na semana e ganhamos o dobro em produtividade”, diz.
Os sindicatos acham, no entanto, que isso tem um limite. O problema são as micro, pequenas e médias empresas, que enfrentam dificuldades para absorver ou repassar aumentos de custos, e alguns ramos de atividade. No comércio, os trabalhadores precisam cumprir jornadas longas, que chegam a superar 50 horas semanais, porque o salário base é baixo e eles precisam complementar a renda com comissões sobre as vendas.
“Vamos ampliar a pressão sobre o Congresso para garantir jornada de 40 horas com adicional de 75% sobre as horas extras para todos os trabalhadores brasileiros”, diz o presidente da CUT, Artur Henrique.
As entidades patronais se mobilizam na defesa do interesse das empresas. “Não há nenhuma possibilidade de adotar a medida sem comprometer a competitividade das empresas e ameaçar o emprego”, diz o diretor do departamento sindical da Fiesp, Roberto Della Manna.
Sindicalistas veem incentivo à especialização
Em um contexto de crescente demanda por trabalhadores qualificados, a redução da jornada contribuiria em muito para esse desafio, dizem os sindicalistas. A adoção da medida liberaria mais horas para que o trabalhador tivesse melhores condições de estudar e se qualificar, além de dedicar mais tempo para o convívio familiar e o lazer.
É o caso da metalúrgica Simone Soares, de 36 anos, que trabalha como auxiliar de estoque em uma fábrica de chapinhas e secadores de cabelo, na capital paulista. No ano passado, Simone se matriculou em um curso técnico de controle de medidas, em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo, onde reside, mas teve de desistir no meio do caminho. Ela não conseguia chegar no horário e era impedida de entrar na sala de aula.
Desde fevereiro, no entanto, a jornada na empresa em que Simone trabalha foi encurtada de 42 horas para 41 horas semanais. Pelo acordo negociado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e Região, o expediente será de 40 horas a partir de fevereiro de 2011. Ela pretende voltar a estudar.
Com a saída antecipada do trabalho, e fora do horário de pico de trânsito em São Paulo, ela pode chegar com tranquilidade antes do horário de início das aulas.
“Quero fazer um curso de especialização em controles estatístico, que vai somar pontos na minha carreira”, diz Simone, que é casada e tem dois filhos.
Além de trazer progresso social, os sindicalistas dizem que a redução da jornada funcionaria como redutor do desemprego e estimulador do crescimento econômico. Acreditam que as empresas contratarão mais trabalhadores para produzir em 40 horas o que produzem em 44 horas.
Especialistas como o professor Hélio Zylberstjan, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), afirmam que ninguém conseguiu provar que houve aumento de empregos nos países onde a jornada foi reduzida por lei ou negociação.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), calcula que o impacto da redução da jornada no custo da hora trabalhada seria de uma alta média dede 1,99%, “o que não afetaria a vida das empresas”, observa Sergio Luiz Leite, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo.
Entidades empresariais são contra redução da jornada por força de lei. Os empresários defendem a livre negociação. “Cada um sabe aonde aperta o seu calo”, diz o diretor da Fiesp Roberto Della Manna. / M.R.
Centrais vão às ruas pela redução
Maio terá dia nacional em defesa da diminuição da jornada de trabalho, com paralisações, atrasos de turno e mobilizações
As centrais sindicais preparam para a segunda quinzena de maio um dia nacional de luta em defesa da redução da jornada de trabalho, com paralisações, atrasos de turno e mobilizações de rua em todo o País.
O objetivo é reforçar a pressão sobre o Congresso Nacional e os empresários, pela aprovação da proposta de emenda constitucional que reduz a jornada das atuais 44 horas para 40 horas, sem redução de salários, e com adicional de 75% sobre as horas extras.
A organização do movimento ainda está em discussão entre as seis centrais sindicais. No entanto, o terreno será preparado com a realização de uma série atos públicos nas principais capitais, entre os dias 12 e 20 de abril. A redução da jornada será a principal bandeira das centrais nas comemorações do Dia Internacional do Trabalho, em 1.º de maio.
Protesto na Fiesp. Em São Paulo, o ato público em favor da redução da jornada está previsto para o dia 13 de maio. Os sindicalistas esperam levar mais de 30 mil trabalhadores para a avenida Paulista, onde se concentração em frente a sede da Fiesp.
“A ideia é tornar mais pública a campanha pela redução da jornada”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e região, Miguel Torres.
Os sindicalistas aguardam para esta semana uma resposta da Fiesp sobre o pedido de abertura de negociações visando a redução da jornada, que foi entregue há cerca de dez dias. “A CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a Fiesp não concordam com a redução da jornada por força de lei e alegam que isso ter de ser por livre negociação, Mas não querem negociar”, diz o presidente da CUT, Artur Henrique.
Político. O diretor sindical da Fiesp, Roberto Della Manna, diz que a entidade está disposta a discutir o assunto com as centrais, mas já adianta que a Fiesp não vai participar de nenhuma negociação. “A discussão não deve ser em bloco, e sim levando em conta as peculiaridades das diversas atividades econômicas e tamanho das empresas”, diz Della Manna. “Está na cara que isso é movimento político partidário de sindicatos colados no ano eleitoral.”
Para o diretor da Fiesp, as próprias centrais sabem que a redução indiscriminada jornada para 40 horas acarretaria demissões em massa. “Antes da redução de 48 horas para 44 horas, eu negociava com 1,6 milhão de metalúrgicos no Estado de São Paulo. Hoje, esse número não chega a 600 mil, porque a mão de obra se tornou cara e as empresas automatizaram as fabricas e diminuíram seus quadros. O mesmo fenômeno voltará a se repetir.”
Os sindicalistas frisam que a produtividade das empresas aumentou muito nas últimas décadas. “O problema é que só o trabalhador está pagando o preço disso”, afirma o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah.
Um dos principais argumentos dos sindicalistas na defesa da redução da jornada para 40 horas é que a medida teria potencial para criar mais de 2,5 milhões de postos de trabalho.
Entidades patronais como a CNI entendem que a proposta contraria a tendência internacional mais recente, ignora as diferenças de produtividade existentes entre empresas e setores e também a experiência negativa dos países que adotaram essa iniciativa.
Para empresários, a redução da jornada não gera os efeitos pretendidos sobre a criação de emprego e amplia a informalidade, além de ter impacto negativo na competitividade do produto brasileiro. Eles defendem que a redução da jornada não pode ser universal e sim resultado de acordos e negociações coletivas.
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