Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Aumenta fidelidade do trabalhador à empresa


Política de valorização promovida pelas empresas leva funcionários a permanecerem, em média, seis anos e meio na mesma companhia. Bom sinal, apesar de especialistas alertarem que é preciso atenção para evitar acomodações

LUCIELE VELLUTO, luciele.velluto@grupoestado.com.br

A secretária executiva Bianca Koch já está há 15 anos na mesma empresa e no mesmo cargo. A profissional, que trabalha em uma empresa de venda de equipamentos e acessórios para a indústria, está em fase de avaliação de sua carreira e analisa se esse não é o momento de mudar de ares e buscar novos desafios. “Tenho medo de perder a noção de mercado e deixar de ser ‘empregável’”, explica a secretária.

Bianca está acima da média de tempo que o trabalhador da região metropolitana de São Paulo fica em uma mesma empresa. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), até dezembro do ano passado, o trabalhador ficava, em média, quase seis anos e meio (329,7 semanas) em um mesmo emprego.

E esse tempo tem crescido. Em 2002, a média de tempo em que as pessoas ficavam no trabalho era de pouco mais de cinco anos e meio (297,2 semanas).

“As pessoas já ficaram 20, 30 anos em uma mesma empresa. Depois, passaram a trocar com muita frequência. Agora, viram que é necessário um meio termo e 7 a 8 anos é um prazo muito razoável”, avalia a professora do MBA de Recursos Humanos em Liderança da Brazilian Business School, Irene Azevedo.

Para os especialistas no setor de recursos humanos, o aumento do tempo em uma mesma empresa ocorre porque as próprias companhias trabalham para manter os bons quadros. “O RH sabe que custa caro quando se perde um funcionário porque, além dos custos da demissão, ainda há o de contratação e treinamento de quem vai ocupar o cargo. E ainda há o risco desse novo profissional não se encaixar no cargo. Se for um líder, esse custo, para a empresa, pode ser equivalente a um salário e meio anual desse profissional”, explica Irene Azevedo.

O diretor de operações da consultoria Human Brasil, Fernando Montero, acredita que essa mudança nos departamentos de recursos humanos das empresas também ocorre porque as empresas já perderam muitos talentos. “Há um resgate dos planos de cargos e salários para que esse profissional permaneça mais tempo na companhia”, afirma.

A consultora da Sec Talentos, Vivian Maerker Faria, afirma que o aumento do tempo também está ligado a uma escolha mais criteriosa dos próprios profissionais e à crise econômica internacional. “Vejo que as pessoas estão selecionando melhor a empresa em que querem trabalhar, a que está mais ligada a eles e a seu valores pessoais. E também acredito que muita gente deixou de mudar de emprego nos últimos dois anos com medo da crise”, comenta.

Para a secretária executiva Bianca, a dúvida persiste. “Aqui, estou sempre me atualizando e moro perto da empresa, o que conta muito. Além disso, tenho uma filha e não posso arriscar muito pois a crio sozinha”, conta.

Decisão pessoal

Para a consultora Vivian, a mudança de emprego após longo tempo na empresa, como é o caso de Bianca, vai depender mesmo do que ela busca para sua vida profissional. “Ficar na mesma ocupação durante todo o tempo de permanência na empresa pode ser ruim quanto à experiência profissional. O importante é saber crescer junto com a empresa”, diz a consultora.

Para alguns profissionais de recursos humanos, a permanência por muito tempo em um cargo também pode mostrar certa acomodação do trabalhador. “Pode parecer falta de ambição profissional para crescer”, afirma a professora da área de gestão de pessoas do curso de Administração de Empresas da PUC-SP, Ana Lúcia de Madureira Biral.

Vivian lembra, entretanto, que tudo também depende da satisfação da pessoa. “Se ela estiver infeliz, precisa mudar mesmo”, conclui.


Evite ´pular muito de galho´

JT

Trocar muito de emprego também pode contar pontos negativos no currículo profissional, segundo especialistas. A mudança constante de empresas aponta uma instabilidade do empregado, visto pelo mercado como alguém que não veste a camisa de nenhuma empresa.

“Esse profissional que muda muito de emprego mostra falta de compromisso com a empresa em que está”, afirma a professora do curso de Administração de Empresas na área de gestão de pessoas da PUC-SP, Ana Lúcia de Madureira Biral.

Para a consultora Vivian Maerker Faria, ser um profissional descompromissado pode atrapalhar até mesmo na hora de pedir aumento. “Por que uma empresa vai pagar mais para um profissional que pode sair a qualquer momento?”, questiona.

A professora Ana Lúcia afirma que o profissional que muda muito de empresa terá problemas, também, para conseguir um novo emprego. “As empresas querem alguém que fique tempo suficiente para criar vínculos com a empresa e vestir a camisa”, diz.

A professora do MBA em Liderança da Brazilian Business School, Irene Azevedo, diz que os profissionais passaram a fazer trocas constantes de emprego nos anos 1990. A decisão era uma resposta a situação experimentada até então. Nas décadas de 70 e 80 era comum um profissional permanecer anos a fio na mesma instituição, o que não significava necessariamente realização profissional. “Nos anos 90, houve uma correria de mudança de emprego com o ‘boom’ das companhias de telecomunicação. Só que, depois, o mercado se acomodou e muita gente ficou de fora”, acrescenta.

O diretor de operações da consultoria Human Brasil, Fernando Montero, afirma que, se o profissional quer ficar na empresa, precisa mostrar interesse em se desenvolver com a companhia. “O importante para se estabelecer na empresa é ter uma relação de transparência”, diz.