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09 maio 2024
DEMOCRACIA
A ditadura militar brasileira (1964-1985) dispensou toda sorte de ataques às artes. Sob ordens dos generais-presidentes de plantão, agentes do regime censuraram e proibiram obras, perseguiram e torturaram artistas, destruíram espaços e equipamentos culturais, desmantelaram grupos, coletivos e movimentos artísticos, entre outras atrocidades. Há também casos – não poucos – de condenações de artistas ao cárcere e ao exílio.
Como todos nós sabemos, o cerco à cultura não impediu a realização de obras de arte audaciosas e memoráveis – muitas das quais confrontavam o próprio regime, de forma aberta ou sutil. Com o projeto Arte e Cultura – 60 Obras de Resistência à Ditadura Militar, o movimento sindical presta uma homenagem a artistas e produções que ajudaram a denunciar e combater o longo ciclo autoritário. Nossa cultura revidou à altura às violações a que foi submetida.
“As várias linguagens estéticas geradas no interior desse campo foram capazes de fundir diferentes horizontes de interpretação e criar narrativas e alegorias destinadas a opinar sobre o Brasil”, resume o relatório final da Comissão Nacional da Verdade. “A história recente do país atravessa todas essas obras que apresentam, em comum, além de uma singular relação entre arte, política e história, uma inquietude estética e experimental, um impulso criativo e crítico, uma nova visada artística.”
Sob coordenação do Centro de Memória Sindical (CMS) e com apoio das centrais Força Sindical, UGT e CTB, a seleção das 60 obras ficou sob a responsabilidade de seis jornalistas sindicais que também pesquisam a cultura brasileira: André Cintra, Andressa Schpallir, Carolina Maria Ruy, Fábio Ramalho, Susana Buzeli e Val Gomes. Parte da equipe já havia participado do projeto Brasil em 200 Obras (1822-2022) – Bicentenário da Independência.
Agora, nos 60 anos do Golpe de 1964, apresentamos 60 produções nacionais emblemáticas, que nos ajudam a questionar o que foi a mais longa e criminosa ditadura brasileira. Num livro de 1950, William Faulkner escreveu: “O passado nunca está morto. Ele nem mesmo é passado”. Se os fantasmas do regime militar continuam presentes no Brasil, não é o caso de esquecê-los ou ignorá-los – mas, sim, de enfrentá-los e vencê-los. Nesse sentido, as obras de arte podem ser as melhores inspirações.
Pintura premonitória do terror que se instalaria no Brasil com o golpe militar.
Poucos dias após o golpe militar, o amazonense Thiago de Mello lançou de Santiago, no Chile, seu poema premonitório. Os 13 artigos-estrofes – sobre vida, liberdade e esperança – culminam no Artigo Final: “Fica proibido o uso da palavra liberdade, / a qual será suprimida dos dicionários / e do pântano enganoso das bocas. / A partir deste instante / a liberdade será algo vivo e transparente”.
Frases (“Não entre à esquerda”, “Conserve-se à direita” e “Entre pelo cano”) e setas (a da esquerda indica os bairros paulistanos Liberdade, Paraíso e Bela Vista) provocam posicionamento político e reflexão sobre as violações de direitos humanos no País.
A peça teatral é uma obra clássica da dramaturgia brasileira, que aborda temas como liberdade, opressão, resistência e justiça social, situando-se em um contexto histórico de luta contra a tirania e a opressão. A trama gira em torno da busca pela liberdade individual e coletiva, destacando a importância da resistência e da luta por direitos fundamentais.
A música denuncia a pobreza e a miséria, as altas taxas de mortalidade e o descaso do poder público com a saúde das crianças pobres dos morros do Rio de Janeiro na década de 60. É considerada uma canção de protesto pela forte crítica social e foi censurada pela ditadura militar.
Obra pop, de resistência cultural contra o regime militar, se apropria de algo do cotidiano (placa de trânsito) para indicar “conversão à esquerda” e a explosão típica das histórias em quadrinhos, através da onomatopeia Buum!
Poema publicado na imprensa e endereçado ao ditador Castelo Branco. Drummond, um de nossos maiores poetas, sai em defesa de Nara Leão, expoente da Bossa Nova, do Tropicalismo, da MPB e do histórico espetáculo Opinião. Por questionar a falta de liberdade no País, Nara Leão, como tantos outros artistas, também foi ameaçada de prisão pela ditadura.
A obra, que também antecipava os horrores da ditadura, retrata um militar repleto de medalhas, com cara de caveira, sem vida, sem alma, desumano.
É um livro que aborda um tema extremamente delicado e importante: a questão da tortura em contextos variados. O autor mergulha nas profundezas desse assunto complexo, trazendo à tona relatos e reflexões sobre os impactos físicos, psicológicos e sociais da prática da tortura, tanto para os torturados quanto para os torturadores.
Repleta de referências artísticas, é a primeira montagem da peça de Oswald de Andrade, escrita em 1933 e publicada em 1937. Teatro crítico às relações político-sociais baseadas nos interesses financeiros e na concentração de poder, de resistência e contracultura diante de um sistema de censura, autoritarismo, conservadorismo, individualismo e injustiças.
Com letras gigantescas, a escultura Lute foi exposta no trânsito do Rio de Janeiro para chamar o público para a luta contra a ditadura.
E um filme icônico, um dos principais representantes do Cinema Novo, que foi lançado em 1967 durante um período da ditadura militar. O filme é conhecido por sua abordagem política e sua crítica social, refletindo o clima de instabilidade e opressão vivido no país na época. A narrativa gira em torno de um intelectual que se vê envolvido em questões políticas e revolucionárias, debatendo temas como poder, corrupção e resistência.
Poucos autores foram mais perseguidos pela ditadura do que o “maldito” Plínio Marcos, que teve 18 peças censuradas. Com linguagem crua, suas obras jogam luzes sobre a marginália – o submundo da sociedade. Sua obra-prima, Navalha na Carne, uma das primeiras peças a mostrar abertamente a homossexualidade, foi proibida por 13 anos. Navalha resistiu e tem versões para cinema, ópera e HQs.
É um filme conhecido por sua abordagem crítica e provocativa em relação à sociedade da época e aos eventos políticos que estavam ocorrendo. Jabor utilizou-se de uma linguagem cinematográfica inovadora para expressar suas ideias e opiniões sobre a realidade brasileira sob o regime autoritário, contribuindo para o debate público e para a resistência cultural da época.
A música foi a grande vencedora do 3º Festival de Música Popular Brasileira, em 1967, desbancando “Domingo no Parque”, “Roda Viva” e “Alegria, Alegria”. “Ponteio” traz referências à musicalidade nordestina, grande influência nas obras de Edu Lobo no período. Tendo como personagem um violeiro, a letra de José Carlos Capinan fala da violência da época, faz menção ao desejo de mudança e de novos tempos.
Escrita para a peça de teatro de mesmo nome e autor, tornou-se um dos símbolos mais conhecidos da resistência contra a ditadura. A peça chegou a ser alvo do Comando de Caça aos Comunistas em 07/1968 e foi censurada, o que reforçou seu caráter combativo. A música foi apresentada no Terceiro Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, classificando-se em terceiro lugar.
Uma grande provocação musical. Assim foi a apresentação da música, intensamente vaiada no Festival Internacional da Canção, em 68. As roupas extravagantes, a dança erotizada e as guitarras elétricas não foram bem aceitas. “Essa é a juventude que diz que quer tomar o poder? Se forem em política como são em estética, estamos feitos”, afirmou em um manifesto contra a ditadura e contra a juventude “careta”.
Com imagem de um policial militar detendo um rapaz, esta obra visava denunciar as arbitrariedades pelas quais o Brasil passava. Chegou a ser confiscada na X Bienal de Arte de São Paulo, de 1969, só reaparecendo dias depois.
No Rio de Janeiro, em 21/06/1968, o fotógrafo Evandro Teixeira, em uma manifestação contra a ditadura registrou a imagem de um estudante caindo em frente à polícia. Segundo o jornal Folha de São Paulo, Teixeira lembra que: “O rapaz levou uma bordoada tão violenta que se desequilibrou e caiu, batendo a cabeça no meio-fio. Deu um berro horroroso e ficou lá se estrebuchando”. Ele diz acreditar que foi um dos 28 mortos naquele dia.
O assassinato do estudante Edson Luís, em 1968, levou à criação de Repressão Outra Vez, com colagens de manchetes e fotos de jornais para mostrar a repressão. “Garoto morto, morreu um estudante”, era a legenda. “Estes trabalhos, que só podiam ser vistos quando o público puxava o tecido negro que os cobria, tinham a intenção de velar e desvelar a violência do período”, afirmou o artista.
Popularmente conhecida como “Caminhando”, a música foi censura por incentivar a mobilização política de estudantes, trabalhadores e de toda a população civil. É uma música pacifista que critica o armamento. Entrou para história como hino da resistência não só pela letra, mas pelo tom grave e nostálgico.
O poema-bandeira homenageia o bandido Cara de Cavalo, uma das primeiras vítimas da ditadura, em 1964. Acusado de matar um policial, foi jurado de morte e executado com cerca de cem tiros. A obra faz parte do movimento “Marginália” – ou cultura marginal: uma arte experimental e fora dos padrões convencionais – e compôs o cenário de shows de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Mutantes.
A peça teatral apresenta uma trama envolvente e cheia de reviravoltas, que aborda questões sociais e políticas de forma inteligente e satírica. É uma peça que leva o expectador a questionar as estruturas sociais e os valores da sociedade em que vivemos.
Esse evento marcou um momento significativo na história da arte brasileira, com repercussões tanto no cenário nacional quanto internacional. O boicote trouxe à tona questões importantes relacionadas à liberdade artística, censura e posicionamento político no contexto da época, destacando a resistência cultural, a defesa dos direitos dos artistas e a promoção de um ambiente artístico mais plural e democrático.
No Salão de Bússola, no Museu de Artes Moderna do Rio de Janeiro, Antonio Manuel expôs três peças “ambientais” com colchões de plástico transparente recheados de mato, incluindo a “cabine” Soy loco por ti com um mapa da América Latina. A decomposição da folhagem durante a exposição gerou uma obra “viva” em referência à situação da América Latina, com o título inspirado em uma canção de Caetano Veloso.
Vencedora do 5º Festival de MPB da TV Record, quando o Brasil já vivia sob a imposição do AI-5. O texto é um diálogo coloquial entre dois amigos que não se viam há algum tempo, parados no sinal de trânsito de uma cidade grande, externando pressa e seus dramas típicos da vida moderna. Canção gravada posteriormente por outros artistas, entre eles Chico Buarque, no antológico álbum Sinal Fechado.
É uma peça teatral em que a história se passa em um bordel e aborda questões sociais e políticas como a opressão das mulheres e a luta por liberdade e dignidade. A trama gira em torno de várias personagens femininas que buscam sobreviver em um ambiente hostil e machista, destacando suas relações interpessoais e conflitos internos. A obra não apenas choca e emociona, mas também levanta questionamentos sobre poder, exploração e resistência, sendo uma peça que continua relevante até os dias atuais.
A canção é uma despedida para o exílio e uma ressignificação das lembranças de Gil sobre o período em que ficou preso. “Aquele abraço” era a forma como os militares o cumprimentavam – de forma sarcástica – na prisão. Era também o bordão do comediante Lilico, que chegou a processá-lo por plágio. Gil embarcou para a Europa uma semana após o show de lançamento da música.
Na obra o artista plástico luso-brasileiro lançou 14 trouxas ensanguentadas no córrego Ribeirão Arrudas, no Parque Municipal de Belo Horizonte, intervenção feita para expor o “desovamento” de corpos assassinados pelo “Esquadrão da Morte”. Cada “trouxa” significava um corpo torturado e morto pela ditadura.
A morte, a dor e a falta de liberdade foram temas centrais de inúmeras obras de denúncia e resistência à ditadura. Neste desenho, o artista retrata as suas digitais, o que seriam suas fotos 3×4, com número de fichamento policial, uma cela aberta e o personagem sem camisa, com um coração vermelho no peito.
O vestido faz parte da coleção-protesto que a estilista Zuzu Angel apresentou na casa do cônsul brasileiro Lauro Soutello Alves, em Nova York, como forma de denunciar a ditadura no Brasil. Um canhão, um militar, um anjo, um sol atrás das grades bordados no vestido, falam da luta de Zuzu para encontrar o corpo do filho Stuart Angel (1946-1971), estudante e ativista morto pela ditadura.
Com a personagem Graúna, o cartunista Henfil conseguiu usar o humor para criticar a ditadura no auge do regime. É um dos seus personagens mais conhecidos. Junto com seus companheiros Zeferino e Orelana, expressava contrastes e estereótipos de gênero e regionais, em um país que se tornava mais urbano.
Canção imortalizada pelo grupo MPB4. Um verdadeiro hino de resistência e de esperança na liberdade.
A música faz referência à morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, assassinado pela polícia durante um protesto no restaurante universitário chamado Calabouço, no Rio de Janeiro, em 28/03/1968. A letra também faz um trocadilho entre Calabouço e Cala a Boca, sendo, desta forma, uma denúncia da censura e da repressão.
As capas brancas surgiram nos EUA como crítica à mercantilização cultural. No Brasil, eram forma de protesto e resistência contra a censura. “Chico Canta”, originalmente “Chico Canta Calabar”, trazia uma capa colorida, com o nome “Calabar” pixado em um muro, autoria de Regina Vater. Logo após o lançamento, foi censurado e republicado com alterações em várias músicas e com a nova capa, branca
Chico e Gil compuseram a canção metafórica para o Show Phono 73, da Phonogram – cada artista escreveu duas estrofes, em decassílabos. A elas somaram, no refrão, a exortação de Jesus no Monte das Oliveiras antes de ser traído: “Pai, afasta de mim este cálice!”. Ainda que sutis, as denúncias das prisões e torturas à margem da lei levaram a censura a proibir a música, que só foi liberada em 1978.
Poema escrito em Paris, contrapõe as palavras dor, ódio e passado sombrio com as que revelam um lugar e um tempo de amor. Frei Tito Alencar Lima, torturado em 1969, por vários dias, pelo regime militar, morreu em 1974.
Após ter letras censuradas pelo regime militar, o que inviabilizou um dueto com o mestre Dorival Caymmi, Milton Nascimento decidiu gravar as músicas em versões instrumentais, potencializando-as com experimentações sonoras, percussivas, vocais e gritos pela liberdade de expressão.
O dramaturgo Dias Gomes conseguiu subverter o status quo ao emplacar em uma grande emissora uma novela que era uma verdadeira sátira do autoritarismo na política brasileira. Odorico Paraguaçu, um demagogo e oportunista caricato, entrou para o imaginário nacional na interpretação de Paulo Gracindo, transmitindo de forma popular e cômica, os interesses por trás da rigidez do regime.
Taiguara foi um dos artistas mais perseguidos pelo regime militar, com mais de 80 canções vetadas pelos censores, inclusive as de amor. Nesta música, as crianças cantando livres simbolizam a força da resistência e um futuro onde os sonhos e a expressão não são mais cerceados.
Na vídeo-performance, a artista costurou a sola do seu próprio pé com a frase “Made in Brazil”, expressão habitualmente encontrada em produtos e brinquedos. Por meio dessa ação simbólica, Letícia abordava a dor de ser brasileira em um período de ditadura, refletindo sobre a submissão do país ao mercado e às influências externas, utilizando a metáfora da costura para simbolizar a ideia de que o Brasil estava sendo marcado e controlado por interesses externos, perdendo sua identidade e autonomia.
O livro de contos que narra a violência de forma bruta e realista foi proibido pela censura um ano após sua publicação. Expõe de forma crua as mazelas sociais e denuncia o contraste entre classes no Brasil durante a ditadura. Sua censura tardia – na terceira edição – causou uma reformulação no Departamento de Polícia Federal, que ganhou mais recursos para o trabalho de repressão.
Uma das pinturas feitas pelo artista em homenagem a Vladimir Herzog, jornalista assassinado pela ditadura. O contraste entre o metal de garfos e um amontoado de carne ensanguentada representa alegoricamente a violência militar sobre o corpo dos presos políticos e revela a verdadeira causa da morte de Herzog: a tortura.
A ditadura tentou esconder as circunstâncias da morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nos porões do DOI-Codi, em São Paulo. O ato ecumênico liderado por D. Paulo Evaristo Arns, Henry Sobel e Jaime Nelson Wright peitou o regime. Parte da série “Inserções”, a obra de Cildo Meireles, “carimbando” a nota de 1 cruzeiro, selou o pacto: a sociedade não se calaria mais.
Dirigido por Lia Robatto, foi criado para a reinauguração do Teatro Castro Alves, em Salvador. Mais de cem artistas ocuparam 31 espaços cênicos espalhados pelo teatro. Pessoas amordaçadas empunhavam cartazes em branco, e a instalação de um ovo preso em uma gaiola representou a censura. O espetáculo integrou dança, teatro, música, artes plásticas, fotografia e cinema.
Álbum com as músicas gravadas no espetáculo de 1973, organizado por Jards Macalé, em comemoração aos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Entre uma música e outra, Ivan Junqueira lia trechos da Declaração, sob aplausos do público que identificava os direitos humanos que a ditadura militar no Brasil não respeitava.
Cartaz produzido para arrecadar verba para a greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo em 1979, durante a onda de greves que impulsionou a retomada das ações em massa do movimento sindical.
A abertura “lenta, gradual e segura” da ditadura culminou na Anistia. Partindo da morte de Charles Chaplin, o “bêbado com chapéu coco”, a letra homenageia vítimas da ditadura. O sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, é o “irmão do Henfil”. Os guerrilheiros Carlos Lamarca e Carlos Marighella aparecem pela imagem das viúvas (“Choram Marias e Clarices”). Um clássico!
Baseado na peça homônima, de 1958, de Gianfrancesco Guarnieri, o filme mostra a dificuldade enfrentada por sindicalistas metalúrgicos de São Paulo em realizar uma greve após a campanha salarial de outubro de 1979. Revela os conflitos de posições dentro do próprio movimento sindical e entre os trabalhadores.
Ao lado do cantor e compositor Renato Russo, Caio Fernando Abreu foi uma das últimas grandes perdas no País em decorrência da aids. Os dois, Caio e Renato, usaram licenças da arte para denunciar a opressão e o preconceito. Em Aqueles Dois, a desconfiança – sinédoque da repressão velada da ditadura – se volta contra dois funcionários de uma repartição pública reconhecida como um “deserto de almas”.
Há filmes que valem menos por suas virtudes artísticas e mais pelas polêmicas que despertam. É o caso do longa de Roberto Farias – o primeiro no País a expor, de modo extremamente realista, a tortura nos porões do regime. E pior: a tortura contra um brasileiro inocente, confundido com um “subversivo”. A liberação do filme custou o cargo de Celso Amorim, então presidente da Embrafilme.
Marcelo poderia ter sido um adolescente de classe média como qualquer outro da década de 1970. Mas dois fatos alteram seu destino: o desaparecimento do pai, Rubens Paiva, “sumido” pela ditadura, e a perda dos movimentos do corpo (após um salto inconsequente numa lagoa rasa). Segundo ele, “o futuro é uma quantidade infinita de incertezas”. Feliz Ano Velho foi o livro mais vendido nos anos ‘80.
Os anos 80 trouxeram a possibilidade de sonhar. Foi um período de transição para um futuro até então incerto. Na instalação de Cildo, estilhaços de vidro cobrem o chão e lembram a tortura. Barreiras de arame farpado e grades remetem à privação de liberdade. As diferentes transparências permitem vislumbrar uma grande massa, sem forma definida, assim como a abertura democrática que estava por vir.
Uma simples canção de amor que no movimento Diretas Já! transformou-se em um hino pelo resgate da democracia, das eleições diretas e da liberdade política no Brasil.
Rita Lee foi uma compositora com muitas músicas censuradas pela ditadura militar. O disco Bombom foi todo barrado pelo regime dos generais-ditadores, proibido de ser tocado nas emissoras e de ser vendido para menores de 18 anos.
No início dos anos 1980, após décadas de repressão, o sentimento de liberdade refletia-se na cultura e na música, com destaque para o novo rock brasileiro e as canções como “Pro Dia Nascer Feliz”, ponto alto da participação do Barão Vermelho no festival Rock in Rio, de 1985, em plena redemocratização do País.
Durante muitos anos, este documentário, lançado no fim do regime militar, foi um dos principais registros do golpe contra João Goulart. Mesmo que naquele ano as informações disponíveis fossem muito mais escassas que hoje, o cineasta Silvio Tendler conseguiu reunir e coordenar documentos, fotos e entrevistas, oferecendo uma versão fiel e que ao mesmo tempo denuncia este processo histórico.
Mais importante filme brasileiro de não ficção, Cabra Marcado pôs o País no mapa-múndi dos documentários. A proposta de Coutinho era reconstituir a saga do líder camponês João Pedro Teixeira. Com o golpe de 64, as filmagens são interrompidas por 17 anos, e o projeto é adaptado. Vira uma peça histórica – um registro da resistência à ditadura, da memória coletiva e do próprio cinema.
Projeto desenvolvido clandestinamente entre 1979 e 1985, revelou neste livro (como obra de cultura e pesquisa) a extensão da repressão política no Brasil: perseguições, desaparecimentos, torturas e assassinatos. Portanto, os artistas brasileiros, com visão histórica, qualidade produtiva, sensibilidade social e humanismo sempre estiveram certos ao expressarem-se contra as atrocidades da ditadura.
São Paulo, maio de 2024
Autores da seleção: André Cintra, Andressa Schpallir, Carolina Maria Ruy, Fabio Ramalho, Susana Buzeli e Val Gomes.
Apoio: Força Sindical, UGT, CTB – Realização: Centro de Memória Sindical
Fonte: memoriasindical.com.br
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