Debater a ditadura militar é buscar compreender os entraves políticos, econômicos e sociais que se colocam no caminho do avanço da nação brasileira.
O golpe militar foi contra os movimentos sociais, contra o projeto nacional de desenvolvimento de João Goulart, contra os Sindicatos, contra o trabalhismo, contra o povo!
Isso porque, entre 1961 e 1964, o governo de João Goulart apresentava um intenso nível de atividade dos movimentos sociais. O sindicalismo, expresso no Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), em particular, era tolerado e até mesmo incentivado pelo presidente, pois servia ao seu projeto nacional-reformista.
Tal relação, entretanto, era vista como uma ameaça pela elite industrial e empresarial, uma vez que, no coração do capitalismo, os sindicatos poderiam atrapalhar a manutenção de seu sistema de privilégios.
Desta forma, na madrugada de 31 de março para 1º de abril de 1964, o golpe militar suprimiu violentamente direitos democráticos e constitucionais, invadindo Sindicatos e instituindo uma prática terrorista de perseguição, ameaças, prisões, torturas, ou até mesmo assassinatos, contra milhares de trabalhadores.
A repressão da ditadura militar servia para barrar o projeto de desenvolvimento implementado por Jango, e para calar qualquer movimento contrário ao regime de austeridade fiscal e arrocho salarial que se iniciava.
Em 1968, no auge da chamada linha dura do regime, as greves de metalúrgicos de Contagem (MG) e de Osasco (SP), que reacenderam o movimento sindical, foram reprimidas com violência.
Mas tanto a forma de organização através das comissões de fábrica, quanto o discurso político anti-ditadura, serviram de exemplo para o movimento que ressurgiria com força depois de dez anos, já em um período de distensão política. As greves por reposição salarial deflagradas após a denúncia do Dieese sobre a manipulação, pelo governo federal, dos índices oficiais da inflação de 1973, desencadearam um processo grevista que se repetiu em 1978, 1979 e 1980.
A nova realidade que se abria no horizonte mostrava-se cada vez mais forte. Assim, em 1981 realizou-se a 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat) e em 1983 ocorreu a primeira greve geral sob a ditadura militar, contra pacotes econômicos, impostos pelo FMI, que apertariam ainda mais a economia nacional.
Nos anos seguinte os trabalhadores organizados tiveram decisiva participação nas campanhas pelas Diretas Já!, na elaboração da Constituição Cidadã e na construção da democracia.
O acalorado debate sobre a representação sindical, fomentado pela Conclat, resultou na criação de centrais sindicais CUT, em 1983, CGT, em 1986 e Força Sindical, em 1991.
Contudo, embora a ditadura tenha chegado ao fim, ela deixou muitas sequelas. Além de ter aprofundado a dívida externa e, consequentemente, elevado os índices de inflação, os militares promoveram um profundo desfalque nos movimentos sociais. Militantes e lideranças estratégicas para estes movimentos foram afastadas, isoladas ou mesmo assassinadas nos porões do DOI-CODI.
Passados 50 anos do golpe, a democracia brasileira ainda é um processo em construção. Vestígios da ditadura militar ainda pesam sobre a sociedade. Debatê-la não é debater o passado. Debatê-la é buscar compreender os entraves políticos, econômicos e sociais que se colocam como pedras no caminho do pleno avanço da nação.
Neste sentido o Centro de Memória Sindical, a Força Sindical, e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), promoverão um debate intitulado: “50 anos do golpe militar e a repressão aos trabalhadores”, com os palestrantes, Nair Goulart, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Walter Barelli, ex-diretor técnico do Dieese, Ivan Seixas, coordenador da Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”, e Waldir Vicente, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, cassado pela ditadura.
Local: Assembleia Legislativa de São Paulo – auditório Franco Montoro – Avenida Pedro Álvares Cabral, 201, São Paulo.
Data: 25 de abril de 2014.
Hora: 9 às 13 horas.
Saiba mais sobre o tema em www.memoriasindical.com.br