Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Para analistas, futuro da GM do Brasil é incerto

Eles contestam declarações do presidente Jaime Ardila de que subsidiária teria independência financeira

 

Cleide Silva

 

Apesar da tentativa da General Motors do Brasil de desvincular suas operações no País da concordata da matriz americana, analistas do mercado não estão convencidos de que a subsidiária tem autonomia para decidir sobre a remessa ou não de lucros ao país sede e nem tecnologia e verba para desenvolver um projeto completo de um novo carro. Também há dúvidas em relação à capacidade de investimento da empresa.

 

Ainda há muita incerteza jurídica em relação ao processo de concordata da GM e o impacto que pode ter na filial brasileira, afirmou o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. A primeira dúvida, diz, é em relação a quem a filial responde atualmente, pois a nova empresa não tem um responsável oficial, que deverá ser nomeado após assembleia de acionistas.

 

Para Silveira, “não se sabe ainda sequer onde será a sede da empresa, em Detroit ou Washington”. Em afirma que toda a área de pesquisa e desenvolvimento está vinculada à GM dos EUA. Isso inclui, por exemplo, o desenvolvimento de novas matérias-primas. Além disso, o custo de um desenvolvimento é muito alto e necessita de escala para ser viável.

 

“Um braço de um polvo não anda sozinho”, afirmou Silveira, ao questionar as declarações de dependência financeira e tecnológica anunciada pelo presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila, na terça-feira.

 

O executivo afirmou que, este ano, a filial não enviará nem receberá ajuda financeira da matriz. Ressaltou ainda que a unidade local tem capacidade de bancar investimento de US$ 1 bilhão previsto para completar um programa de renovação de sua linha de carros até 2012.

 

A GM explicou que os investimentos normalmente são feitos em etapas e, ao longo do período, é possível gerar caixa. Outra alternativa é recorrer a empréstimos bancários e a programas como o do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Fontes do mercado informaram que a montadora apresentou um pedido de R$ 400 milhões ao banco. O BNDES apenas comunicou que avalia pedidos da GM, sem revelar valores.

 

A GM do Brasil ficará em situação melhor, mas não independente da matriz, acredita Thomas Felsberg, do Felsberg & Associados, escritório de advocacia especializado em recuperação judicial. Ele lembrou que, ao permanecer com a nova GM – que nasce enxuta e com poucas dívidas – a unidade brasileira “deverá voltar à normalidade dos negócios, pois certamente na situação anterior muitos projetos foram cortados.”

 

Felsberg também acredita que a subsidiária local precisa da tecnologia da matriz e que, num determinado momento, precisará remeter porcentual de seus lucros aos novos acionistas e investidores, embora não terá de “cobrir parte do buraco da velha GM.”

 

Para o vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto dos Executivos Financeiros (Ibef), Keyler Carvalho Rocha, a remessa ou não de lucros da filial brasileira é uma decisão dos novos controladores.

 

“É até possível e provável que decidam manter o dinheiro para investimentos locais, mas, por enquanto, não há certeza de nada”, disse Rocha. Segundo ele, ainda que a situação de caixa da filial seja boa, a concordata gera incertezas para o planejamento no longo prazo.

 

Felsberg não vê barreiras legais para que o BNDES faça empréstimos à GM. “Legalmente não há problemas, só se alguma norma do banco impedir.”