Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Artigo

Limbo das boas intenções

João Guilherme Vargas Netto
consultor de entidades sindicais de trabalhadores

Agora que o Congresso Nacional derrubou, com amplas maiorias na Câmara e no Senado virtuais, o veto do presidente da República à desoneração das folhas de pagamento por mais um ano é preciso que o movimento sindical persevere na luta para conquistar contrapartidas aos trabalhadores decorrentes das vantagens fiscais garantidas às empresas.|

Depois do tsunami provocado pela pandemia que desorganizou ao máximo as relações do trabalho esta exigência cresce de importância. Hoje em dia, mesmo sem citar números, o desemprego, a informalidade, a subutilização e o desalento enfraquecem muito a força organizada dos trabalhadores.

Exatamente por isso a vigilância sindical precisa ser exercida, setor produtivo por setor produtivo, exigindo a manutenção e ampliação dos empregos formais e exigindo também melhores remunerações e melhores condições de trabalho.

O apoio dado pelas lideranças sindicais à pretensão dos empresários – que organizaram um forte lobby e sensibilizaram os parlamentares – não basta para garantir isto, mas é um elemento a ser levado em conta nas negociações salariais em curso e em todas as pautas a serem propostas pelo movimento sindical (aumento real do salário mínimo, protocolos de prevenção à doença, trabalho à distância, qualificação dos trabalhadores, combate às desigualdades de gênero e de cor da pele e respeito aos sindicatos).

Quanto à ampliação das parcelas do seguro desemprego o patronato aliou-se ao governo no Codefat (no mesmo dia da derrubada do veto) e derrotou a proposta dos trabalhadores.

Como ajudaram os empresários as direções sindicais precisam assenhorar-se (sem ilusões) da vitória deles e exigir também a discussão da MP 1.000 e a manutenção do auxílio emergencial de 600 reais – como mostrou o Jornal Nacional ao apresentar pela primeira e única vez tal reivindicação ao cobrir a manifestação das centrais sindicais em São Paulo.

Os empresários souberam muito bem, influenciando a mídia grande e os formadores de opinião, dramatizar sua reivindicação de vantagens fiscais com a ameaça do desemprego se não fossem atendidos. Essa ameaça continua.

Cabe agora ao movimento sindical a tarefa de exigir contrapartidas mesmo que elas não tenham sido formalizadas e continuem no limbo das boas intenções.

João Guilherme Vargas Netto
consultor de entidades sindicais de trabalhadores