Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Centro de Memória Sindical

Força Sindical na Comissão Nacional da Verdade

Tiago Santana

Carolina Maria Ruy

“A luta pela liberdade fez parte do cotidiano de muitos trabalhadores brasileiros durante a ditadura. Muitos foram perseguidos, presos e torturados. Tiveram suas vidas e de seus familiares devassadas e os sindicatos de suas categorias sofreram intervenção.

No entanto, estes trabalhadores não deixaram de trabalhar na clandestinidade distribuindo panfletos, esclarecendo os companheiros e participando de reuniões, além de contribuir na assistência dos familiares daqueles que foram presos ou mortos.

Como houve uma verdadeira devastação na vida destes trabalhadores e dos  sindicatos que os representavam, praticamente poucas pessoas sabem hoje contar as histórias destes  companheiros. A Força Sindical pretende reunir as histórias para entregá-las todo este material para a Comissão da Verdade criada pelo governo federal.

João Carlos Gonçalves, Juruna, secretário-geral, e Ruth Coelho Monteiro, secretária de Direitos Humanos e Cidadania, representam a Força Sindical no Grupo de Trabalho “Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical” criado pela Comissão Nacional da Verdade em parceria com as centrais sindicais brasileiras. O Grupo apura as graves violações de direitos humanos de trabalhadores, e também perseguições e políticas que provocaram desemprego e insubsistência dos trabalhadores.

Na reunião do dia 11 de junho de 2013, em São Paulo, à qual compareci, assumi a tarefa de levantar todos os sindicatos ligados à central que sofreram intervenção na época da ditadura militar.

Neste sentido, enfatizo a importância da colaboração de todos os sindicatos. Incrustado no coração do capitalismo, o movimento sindical foi um dos principais alvos da ditadura. Os primeiros presos políticos foram os sindicalistas.

Mas, passados mais de trinta anos da Lei da Anistia (1979) ainda não foi feito um levantamento completo de todos os operários vitimas da ditadura.

Por esse motivo é fundamental que os sindicatos entrem nesse debate para reivindicar o acerto de contas de quadros que foram cassados, perseguidos, torturados, mortos, enfim, injustiçados de alguma maneira.

Depoimentos pessoais, documentos e objetos que porventura não tenham sido apagados, são peças de um quebra cabeças que poderá nos trazer respostas para questões dolorosas de nossa história.

A Comissão Nacional da Verdade, proposta no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Dezembro de 2009 e fundada em 8 de novembro de 2011, é um passo fundamental na consolidação da democracia brasileira. E o movimento sindical brasileiro deve participar deste movimento, conclamando seus membros a contribuir para o esclarecimento de fatos obscuros ocorridos durante a ditadura militar.

A responsável pelo GT, membro da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, advogada e professora universitária, teve atuação destacada na defesa de presos políticos em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal durante a ditadura militar (1964 – 1985).

Este grupo de trabalho analisará 11 temas:
1. Levantamento dos sindicatos que sofreram invasão e intervenção no golpe e após o golpe.

2. Investigação de quantos e quais dirigentes sindicais foram cassados pela ditadura militar.

3. Quais e quantos dirigentes sindicais sofreram prisão imediata ao golpe.

4. Levantamento da destruição do patrimônio documental e físico das entidades sindicais.

5. Investigação sobre prisões, tortura e assassinatos de dirigentes e militantes sindicais urbanos e rurais.

6. Vinculação das empresas com a repressão.

7. Relação do serviço de segurança das empresas estatais e privadas com a repressão e atuação das forças armadas.

8. Legislação anti-social e anti-trabalhadores (lei de greve, lei do arrocho salarial, lei do fim da estabilidade no empresgo, entre outras).

9. Levantamento da repressão às greves.

10. Tratamento dado a mulher trabalhadora durante a repressão.

11. Levantamento dos prejuízos causados aos trabalhadores e suas entidades pelo regime militar para reparação moral, política e material”.

* Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical